Como o vídeo do público mudou o jornalismo

por Lindsay Kalter
Oct 30, 2018 em Diversos

Em 1991, uma testemunha de Los Angeles gravou com uma câmera de vídeo sete policiais espancando brutalmente Rodney King. Ninguém sabia então que o vídeo de um cidadão -- uma novidade na época -- acabaria se tornando um fenômeno jornalístico.

Enquanto os vídeos de crowdsource (do público) são cada vez mais comuns, aqueles que aproveitam o meio tanto se beneficiam de seu alcance como lidam com os dilemas envolvidos, de acordo com um relatório do Center for International Media Assistance (CIMA).

"Se a ascensão do vídeo criou novas oportunidades e maior responsabilização, também criou desafios acrescidos para o jornalismo", escreveu Jane Sasseen, autora do relatório. (Você pode ler o relatório completo em PDF aqui.)

Celulares com vídeos trouxeram em foco questões importantes que poderiam ser ignoradas de outra forma. Durante os momentos mais importantes da Primavera Árabe, 100.000 vídeos foram carregados no YouTube a partir do Egito, de acordo com o relatório. Os 23 vídeos mais populares foram vistos cerca de 5,5 milhões vezes.

"Nos países onde houve repressão dos meios de comunicação tradicionais, o vídeo tem sido absolutamente crucial; tem desempenhado um papel surpreendente", disse George Azar, um fotógrafo libanês-americano atualmente produzindo documentários para Al Jazeera, no relatório.

Mas as organizações de notícias que disseminam esses vídeos ou os usam como base para matérias de profundidade muitas vezes não sabem quão crível que realmente são.

O relatório apontou que os vídeos podem ser editados para promover certas agendas políticas, portanto, algumas organizações de notícias dedicam recursos substanciais à verificação dos vídeos cidadãos. A BBC, por exemplo, tem mais de 20 funcionários que cuidam do centro de conteúdo gerado pelo usuário.

Outro motivo de preocupação, segundo o relatório, é a segurança das pessoas gravando os vídeos. Mesmo transeuntes que aparecem por acaso em um vídeo podem enfrentar consequências fatais. O Projeto ObscuraCam do Guardian, lançado em março, é uma ferramenta que foi desenvolvida para evitar tal efeito. Como a versão anterior criada para fotos, o recurso pode obscurecer os rostos das pessoas e eliminar dados de fundo, como hora, local e modelo do telefone.

Ainda assim, o vídeo de cidadão está crescendo rapidamente, especialmente no mundo em desenvolvimento, onde o uso de celular quase triplicou nos últimos seis anos, para 4,5 bilhões de assinantes móveis, de acordo com o relatório. Seu uso móvel chega atualmente a 79 por cento.

Prestes a se tornar ainda mais comum, o vídeo de crowdsource poderá apresentar questões ainda maiores no futuro.

"É cada vez mais provável, à medida que avançamos a uma era mediada por vídeos, que as pessoas em situação de vulnerabilidade vão sentir a necessidade de fazer um vídeo, sem necessariamente ter pensado nas consequências", disse Sam Gregory, diretor de programa de Witness, no relatório. "No âmbito de notícias, isso precisa de mais discussão."

Para ler o relatório integral (em inglês), acesse o PDF.

Foto por Americanvirus, usada com licença CC