Este artigo é parte de nossa cobertura online de reportagem sobre COVID-19. Para ver mais recursos, clique aqui.
Longe de entrar em uma crise de conteúdo, o jornalismo mostrou que pode fornecer informações inovadoras sobre a pandemia de COVID-19. E a América Latina, onde o avanço do coronavírus começa a desafiar os sistemas de saúde, não é exceção.
Num contexto em que a informação é mais importante do que nunca, apresentamos um resumo de várias matérias e projetos com base em dados preparados não apenas pela mídia, mas também por organizações da sociedade civil da região.
[Leia mais: O papel do jornalismo de soluções na reportagem sobre COVID-19]
Chile
O Centro Producción del Espacio, a unidade de pesquisa da Faculdade de Arquitetura, Design e Construção da Universidade das Américas, realizou um mapa de Santiago que distingue os lugares mais propensos à propagação do vírus em Santiago. O mapa destaca onde estão localizados os espaços onde mais pessoas podem estar aglomeradas: "aqueles lugares onde as pessoas se reúnem para realizar trocas de vários tipos (sociais, comerciais, culturais etc.)", explica o artigo.
Também a Fundación Vivienda, uma organização não governamental do país, criou com base em dados de Santiago vários mapas que analisam a situação da cidade para enfrentar a pandemia. Por exemplo, esses mapas ilustram o déficit habitacional, o número de casas superlotadas, o tempo que leva para os habitantes de cada bairro começarem a trabalhar usando o transporte público e outras variáveis que podem afetar a propagação do vírus.
Argentina
A equipo do La Nación Data aproveitou a oportunidade para escrever um artigo que não é estritamente de dados, mas com base no processamento de um banco de dados coletado por sua própria equipe. O que se buscou foi relacionar um dos problemas adicionais implícitos pelas medidas que são tomadas em todo o mundo para enfrentar a pandemia.
Com base em 23.000 argentinos espalhados em todo o mundo, o La Nación Data disponibilizou um formulário que qualquer um deles poderia preencher para relatar seus casos. O artigo apresentou as histórias de argentinos que ficaram presos no exterior naquela data, com informações sobre onde estavam, desde quando e alguns testemunhos sobre suas situações.
Brasil
O site de jornalismo de dados Núcleo fornece uma cobertura interessante de tudo relacionado à pandemia, incluindo a abordagem do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, que repetidamente rejeita o impacto que a doença pode ter. Embora não haja evidências científicas para provar sua eficácia, Bolsonaro insistiu na utilidade da cloroquina para curar a doença. Logo após o presidente fazer essa declaração, o Núcleo mostrou como a busca por esse medicamento --usado para tratar a malária-- aumentou no Twitter e Google.
Peru
Ojo Público abordou uma parte geralmente inexplorada da pandemia: quem importou máscaras cirúrgicas e respiradores N95, por qual valor e de que maneira? A investigação ilustra que seis empresas concentraram 66% das compras, 88% das importações desses materiais vieram da China e três dos seis maiores fornecedores foram de Hubei, a província onde a pandemia se originou. No total, as importações de máscaras faciais e respiradores pelo Peru somente em janeiro e fevereiro somam US$773.000.
[Leia mais: Como estão cobrindo COVID-19? Alguns exemplos ao redor do mundo]
México
Tukan, um site dedicado à apresentação de informações públicas no México, publicou um artigo com dados sobre a infraestrutura do setor de saúde pública neste país para enfrentar uma crise de saúde.
O site analisou quantos médicos e leitos hospitalares o país possui para cada mil habitantes, como esses leitos são distribuídos geograficamente (em uma análise detalhada município por município) e que tipo de leitos são (de hospitalização, cuidados intermediários, terapia intensiva, etc.)
Finalmente, a publicação apresenta quatro possíveis cenários futuros (com um possível nível fixo de infecção de 0,01%, 0,1%, 1% ou 10%) e mapas de acordo com cada região do país e cada cenário mais camas onde seriam necessárias.
¿Tenemos los recursos suficientes para enfrentar al #COVID19mx ?
— TUKAN MX (@MxTukan) March 26, 2020
Visita nuestro estudio acerca de la infraestructura física del sector salud público en México, con datos a nivel municipal de la Secretaría de Salud.
Link aquí 👇https://t.co/Wfm2aHvVOH pic.twitter.com/DFzg3oRN2x
Colômbia
O jornal El Tiempo teve uma abordagem semelhante no dia 28 de março. Este jornal concentrou sua reportagem nos leitos de terapia intensiva, mapeou sua disponibilidade por região e publicou quais departamentos do país tinham o maior e o menor número de leitos disponíveis. De acordo com os dados divulgados pela investigação, existem cinco departamentos que não conseguem ter um leito de terapia intensiva para cada 10.000 habitantes. De fato, o departamento de Arauca mal possui quatro leitos de terapia intensiva para seus 270.000 habitantes.
Por seu lado, o portal de dados DataSketch lançou um site sobre o coronavírus, onde apresenta as informações dos infectados no país, discriminadas por sexo, departamento, idade e tipo de atendimento que os pacientes estão recebendo: se estavam em casa, no hospital, em terapia intensiva, recuperados, falecidos, etc. O site também mostra uma tabela onde são apresentadas algumas informações específicas de cada caso (a faixa etária à qual o infectado pertence, o departamento, onde a pessoa contraiu o vírus), sem violar os dados pessoais.
Costa Rica
A jornalista de dados Hässel Fallas publicou um monitor de dados sobre o progresso de COVID-19 em seu país, na América Latina e no mundo. A análise inclui o número de testes realizados por dia, o número de infectados por distrito e por sexo e sua evolução ao longo do tempo, e um gráfico que explica a faixa etária dos infectados e ilustra que apenas 6% deles eles são adultos mais velhos. Além disso, o monitor atualiza semanalmente as curvas de acúmulo de casos nos países mais infectados do mundo e da América Latina.
Se você quer conhecer outros projetos de jornalismo de dados sobre a pandemia na América Latina, pode ver o arquivo de vídeo deste seminário online que a SocialTic organizou na quinta-feira, 2 de abril.
Imagem principal con licencia Creative Commons no Unsplash por Isaac Quesada