Como fotojornalistas podem ser menos intimidantes em reportagens

por Mandla Chinula
Oct 30, 2018 em Jornalismo multimídia

Há muitas maneiras de se tornar menos intimidante como fotojornalista. Parte disso envolve fazer sua pesquisa, estar ciente do seu ambiente, vestir-se casualmente e sorrir muito. Envolve também como os fotojornalistas lidam e se apresentam com suas câmeras. Em reportagens de alto risco, tomar essas medidas é especialmente importante.

A IJNet conversou com Gianluigi Guercia, um fotógrafo da AFP baseado na África do Sul; Cynthia Matonhodze, fotógrafa documental no Zimbábue; e Tsvangirayi Mukwazhi, fotógrafo da Associated Press no Zimbábue. Eles compartilharam suas perspectivas pessoais sobre algumas das maneiras geralmente usadas para ser menos intimidantes com uma câmera.

Fotografar do quadril

Com esta técnica, o fotógrafo tira fotos enquanto a câmera está pendurada na cintura ou no quadril, com a esperança de capturar os sujeitos sem levantar a câmera. Alguns fotojornalistas sentem que segurar uma câmera no rosto é semelhante à posição de um atirador segurando uma arma e assim poderia intimidar seus entrevistados.

Guercia: Eu fiz isso algumas vezes. Evitaria isso se pudesse. Eu não acho que é uma maneira realista de ser menos ameaçador. Se o seu sujeito se sente ameaçado pela câmera, isso significa que há algo de errado nesse relacionamento.

Manter a sua câmara na sua bolsa até começar a fotografar

Pendurar a câmera no pescoço pode assustar facilmente as pessoas que não sabem a sua intenção ou por quê você está carregando uma câmera. Em alguns casos, no entanto, carregar uma câmera pode comunicar que você é um jornalista e, assim, permitir que você obtenha acesso para fotografar.

Mukwazhi: Depende do território em que se opera, pois estes determinam se você quer ser visível ou não. O que é importante para mim é a comunicação, que eu acredito ser a chave; e mais importante ainda, o seu instinto é o seu guia final. Alguns vão manter sua câmera guardada até o momento de crise. Isso ajuda às vezes, mas também pode dar problema.

Carregar pouco equipamento

Transportar muito equipamento caro pode em alguns casos fazer você parecer quase militar e assustador. Ser simples e levar menos equipamento pode tornar mais fácil para os entrevistados se relacionarem com você.

Matonhodze: Acho que o primeiro passo é conhecer o seu equipamento e que lente você vai precisar para uma determinada reportagem. Isso significa que você precisa praticar e experimentar. Às vezes você não terá o luxo de escolher qual equipamento levar e terá de se contentar com o que tem, então precisará ser criativo. Você precisará gastar sola de sapato e tirar o máximo proveito do que tem.

Usar um telefone com câmera

Às vezes, usar seu celular pode fazê-lo parecer inofensivo e menos intimidante. As pessoas podem pensar que você é uma pessoa comum que só quer tirar fotos. Isso também é útil quando seus sujeitos não estão acostumados a câmeras DSLR enormes.

Mukwazhi: Usar seu telefone pode ser muito perigoso, especialmente em protestos. Multidões tendem a ver aqueles que usam telefones como espiões e, portanto, você pode ser um alvo. É pouco provável que as pessoas o identifiquem como imprensa quando você está sem seu equipamento.

Mostrar suas fotos a entrevistados em potencial 

Mostrar algumas de suas imagens a seus entrevistados podem fazê-los entender melhor o seu trabalho. Quando eles são capazes de ver fotos de si mesmos, podem pelo menos ter uma ideia mais vívida do que você está fazendo.

Matonhodze: Eu geralmente carrego fotos impressas de projetos que fiz para mostrar o meu trabalho a potenciais entrevistados. No entanto, quando ganho acesso para fotografar a pessoa e começo a fotografar, guardo algumas imagens que fiz no meu cartão CompactFlash para mostrar para as pessoas que se aproximam de mim quando estou fotografando. Muitas vezes, eu fotografo meus entrevistados em espaços públicos onde eles trabalham, então algumas pessoas podem se aproximar de mim quando estou fotografando e querer saber o que estou fazendo.

Dicas finais

Tsvangirayi: O melhor método é comunicar-se com seus entrevistados e dizer o que você está fazendo. Se eles não se sentem bem, então não os force; siga para outro.

Guercia: Eu tento ser cordial e me apresento primeiro quando há a possibilidade de fazer isso. Eu gosto de dizer às pessoas por que eu estou lá e o que estou prestes a fazer. Eu não escondo o fato de que sou um fotógrafo e estou lá para tirar fotos. As pessoas respondem melhor a uma declaração honesta do que uma pessoa que começa a fotografar aleatoriamente antes de uma apresentação adequada. 

Matonhodze: Eu geralmente acho que você não pode separar a câmera da pessoa que a usa. O que você faz como fotógrafo ajuda ou dificulta seu acesso a um espaço ou pessoa, não importa o que você faz para tornar sua câmera menos intimidante.

Imagem principal sob licença CC no Flickr via Andreas Gohr