Como expor corrupção e manter o poder em xeque

por Umar Cheema
Oct 30, 2018 em Diversos

Em uma pesquisa da ONG Transparência Internacional em 2011, mais de 3.000 executivos de todo o mundo foram convidados a avaliar a eficácia das várias abordagens para eliminar corrupção.

O resultado: quase metade (49 por cento) indicou que o jornalismo investigativo desempenha um papel crítico. Entrevistados do Paquistão (73 por cento) e Brasil (79 por cento), países onde a imprensa cobre ferozmente supostos atos de corrupção, acreditam especialmente na capacidade da mídia para descobrir crimes.

Por que os participantes da pesquisa acreditam tão fortemente que jornalistas podem ajudar? Para responder a essa pergunta, é importante lembrar que a corrupção desenfreada nas regiões menos desenvolvidas do mundo é em grande parte devido à falta de transparência e prestação de contas. O poder é concentrado em poucas mãos e os estatutos que promovem o trabalho das instituições de fiscalização são muitas vezes ineficazes. A elite se considera acima da lei --que existe para fortalecer os cidadãos comuns-- e classes oprimidas acabam por aceitar o mal como norma social.

Essa situação alarmante exige que os jornalistas desempenhem um papel extraordinário em destacar as práticas de corrupção. Certamente, essa tarefa é um desafio, especialmente nos países em desenvolvimento, onde a legislação referente à Liberdade de Informação (FOI, em inglês) pode ser inexistente ou altamente ineficaz. Além disso, em muitos casos, aqueles que trabalham para expor irregularidades podem colocar suas vidas em risco.

Mas onde há a vontade, há um caminho. De fato, existem várias ferramentas que os jornalistas podem usar para ajudar a acabar com a corrupção.

Identificando corrupção

Apesar dos esforços de todos os envolvidos para cobrir seus rastros, a corrupção "fala" quando e onde é cometida. Jornalistas precisam estar cientes desta linguagem. Se um contrato for outorgado com uma rapidez indevida ou com atraso significativo, há algo errado. Se uma licença é emitida sem o devido processo, odinheiro deve ter mudado de mãos. Quando alguém fica rico do dia para a noite, tem que haver uma razão. Se um trabalho de desenvolvimento é acelerado, há provavelmente algumas grandes empresas tentando investir nos tomadores de decisão para benefício próprio. Jornalistas devem ler os sinais e cavar a fundo para obter as respostas.

Existem várias técnicas que jornalistas podem usar para detectar uma transgressão em potencial, incluindo verificação de livros de orçamento e documentos oficiais, coleta de registros do tribunal, análise de trilhas de papel e entrevistas de investigação. No entanto, para os jornalistas no mundo em desenvolvimento, fazer uso dessas ferramentas é por vezes difícil, dada as limitações de recursos e prazos urgentes impostos por editores de redações sofrendo com a falta de pessoal e matérias produzidas na correria. No entanto, existem maneiras de superar a maioria dos desafios.

Cultivando fontes

Inicialmente, jornalistas devem aprender a arte de cultivar boas fontes. Ao olhar ao redor com cuidado, esses indivíduos podem ser encontrados dentro da burocracia e muitas vezes as melhores fontes são funcionários do governo que testemunham cada passo de atos corruptos. Algumas autoridades podem mesmo ter tentado intervir em vão. Uma vez que são conquistados, esses funcionários podem ajudar na luta para trazer a verdade à luz.

Repórteres precisam conhecer as pessoas certas nos lugares certos, por isso é importante formar relações de trabalho com legisladores e se familiarizar com as organizações de promoção da transparência e prestação de contas em diferentes setores. Ao fazer as conexões certas, obter documentos oficiais rapidamente é muito mais fácil. E um jornalista com uma boa reputação terá informantes correndo para ele ou ela, em vez do contrário.

Leia o artigo completo no site da Global Investigative Journalism Network (em inglês), clicando aqui.

Umar Cheema é um repórter investigativo do journal The News (Paquistão) e fundador do Centre for Investigative Reporting no Paquistão. Ele escreve sobre corrupção, política e agências de inteligência. Seu trabalho resultou em prêmios como o Missouri Medal Honor for Distinguished Services in Journalism em 2013 e o Knight International Journalism Award em 2013, entre outros.

Este artigo é um trecho do "Reporter’s Guide to the Millennium Development Goals: Covering Development Commitments for 2015 and Beyond", publicado pelo International Press Institute, e apareceu originalmente no site da Global Investigative Journalism Network. A cada dois anos, a GIJN copatrocina a Global Investigative Journalism Conference. Siga a GIJN através do Global Listserv, o boletim Global Network News, e no Twitter e Facebook.

Imagem sob licença CC no Flickr via Nik_Doof