Começando sua carreira no jornalismo? Tenha em mente estas 9 dicas

por Carolina Campos Ruiz Baldin
May 4, 2023 em Jornalismo básico
Journal with goals

Vislumbrar um futuro como um jornalista pode ser consternante. Os muitos desafios do mundo digital e as recentes demissões em empresas bem conhecidas, como The Washington Post, CNN, Gannett e NPR, criam um senso de incerteza e ansiedade para quem está entrando na área.

"As pessoas dizem que o jornalismo está morrendo", diz Shalini Dore, ex-editora da Variety, que se aposentou em março passado. "Mas ele vai continuar de algum jeito porque humanos querem saber o que está acontecendo ao redor deles."

A seguir estão ideias para que jornalistas em início de carreira sejam mais produtivos e criativos para que tenham mais chances de se destacar — e amar seu trabalho.

1. Trate o seu currículo como uma matéria

Jornalistas são contadores de histórias. Quando chegar o momento de contar a história de sua própria vida profissional e educacional, trate como qualquer outra matéria.  

Dore recomenda começar o seu currículo com a informação que você quer destacar, assim como o lead de uma matéria. Pode ser um estágio relacionado ao emprego para o qual você está se candidatando ou um curso recente. "Se você acabou de sair da faculdade, e isso é uma grande coisa, transforme isso em seu lead", diz. "Vá direto ao ponto".  

Ela também diz que um currículo deve ser tão claro e atrativo quanto suas matérias e mostrar ao seu potencial contratante que você é capaz de escrever. "A habilidade de escrita é a habilidade número 1 que procuramos", diz Dore.

2. Faça uma lista de favoritos

Para se tornar um repórter e escritor, você precisa de inspiração. Quando ler algo, faça-o com um propósito. Faça uma lista dos seus jornalistas e textos favoritos. Destaque o que você gosta neles — frases, estilo, estrutura — e tente praticar esses elementos na sua escrita, diz Cyndi Zaweski, ex-repórter de TV e âncora da NBC e CBS que hoje tem sua própria empresa de marketing, Ascent Storycraft.

3. Demonstre interesse

Falhar em demonstrar interesse o suficiente no emprego é o pior erro que você pode cometer durante uma entrevista, diz Dore.

O conselho prático que ela dá: acerte o nome do veículo. Não chame a Variety de The Hollywood Reporter. E prepare perguntas para o seu entrevistador. Leia algumas matérias do veículo. Quando conseguir o trabalho, "ofereça-se para fazer as coisas".

Mesmo assim, ela diz que as pessoas na área devem buscar um equilíbrio.

"Não faça hora extra, não trabalhe na sua hora de almoço", diz Dore. "Faça todas essas pausas porque elas te renovam e quando você volta, faz um trabalho melhor." 

Também entre em contato com jornalistas que você respeita e com quem talvez queira trabalhar algum dia.

"As pessoas que mais me ajudaram são as pessoas que mais admiro no jornalismo", diz Amanda Reed, repórter do Popular Science e mentora de pessoas que estão ingressando na área. "É uma área difícil, e só nos beneficiamos da ajuda mútua."

4. Foque em uma só tarefa

Muitas vezes, jornalistas são forçados a dividir sua atenção entre tarefas. Mas ser multitarefas pode reduzir sua produtividade e aumentar a ansiedade. 

Trabalhar em várias coisas ao mesmo tempo pode levar profissionais a cometerem erros e gastar tempo extra corrigindo erros, diz Joyce Marter, autora, palestrante e psicoterapeuta licenciada em Cape Coral, na Flórida.

Este hábito também pode criar sobrecarga cognitiva no seu cérebro, gerando ansiedade e frustração, diz Oshin Vartanian, professor de psicologia na Universidade de Toronto.  

Um estudo publicado por ele no ano passado descobriu que, durante um experimento que simulava as atividades realizadas por pilotos de aeronaves, pessoas que faziam várias tarefas ao mesmo tempo tendiam a mostrar mais sinais de ansiedade e frustração depois de terminada a tarefa em comparação com pessoas que faziam só uma atividade. 

Para "cultivar presença" (em outras palavras, estar presente e viver o momento), Marter sugere que jornalistas incorporem em suas rotinas hábitos de atenção plena, como começar o dia com uma "intenção" matinal, olhar os emails somente em horários específicos e desligar as notificações ao escrever uma matéria "para que o seu cérebro não seja bombardeado com outros pensamentos".  

Ela também recomenda saber seus limites e estabelecer fronteiras no trabalho, por exemplo, não olhar mensagens de texto ou emails depois de uma certa hora. "Se você não tomar conta de você, mesmo se for o melhor jornalista do mundo, você não vai desempenhar bem o seu trabalho", diz.

5. Viva a vida

Jornalistas não podem fazer um bom trabalho se viverem isolados. Para ter ideias de pauta, desenvolver um olhar crítico e escrever sobre diferentes questões do mundo, é preciso ter hobbies e uma vida social, incluindo amizades com pessoas que (susurro!) não são jornalistas.

Rachel Fobar, redatora da National Geographic, diz que conversas informais podem ser uma boa fonte de ideias de pauta. "Eu tento sempre manter meu cérebro de jornalista ligado, mesmo se estiver conversando com meus amigos e familiares" diz.

Vartanian diz que nós pertencemos a diferentes "tribos": colegas de trabalho, grupos religiosos, parentes, amigos próximos e organizações esportivas. Passe mais tempo com todos eles.

6. Foque naquilo que você consegue controlar

Você não sabe qual vai ser o seu próximo trabalho, se vai gostar dele, se as pessoas vão ser legais com você ou quantas matérias vai publicar.

Incerteza pode causar ansiedade e, para superá-la, você pode usar uma estratégia de atenção plena chamada "desapego". Foque no momento presente "em vez de ruminar ou ficar reimaginando o passado ou se preocupando com incertezas sobre o futuro", diz Marter.

Vartanian também recomenda focar no que você pode fazer no presente. Para um jornalista, isso pode significar decidir quais assuntos você quer monitorar, criar uma estratégia para acompanhar esses temas, cultivar mentores e desenvolver habilidades.

Reed decidiu aprender o básico de gestão de redes sociais, otimização para motores de busca e WordPress.

"Você não precisa ser um mestre", diz ela. Mas esteja aberto a aprender novas habilidades, tendo em vista a rapidez com que os empregos no setor de mídia mudam.

7. Aprenda a incubar suas ideias

Se você sentir que travou, faça uma pausa.

De acordo com outro estudo de Vartanian, todo processo criativo tem quatro estágios: preparação, incubação, ideação e verificação.

O estágio de incubação começa depois que você identifica o problema que precisa resolver (sua ideia, sua tese). Durante essa fase, afastar-se da matéria pode ajudar.

"Só porque você não está pensando sobre ela diretamente não significa que sua mente não a está processando em um nível diferente", diz Vartanian. "É como massagear suas ideias, e elas ficam melhores com o tempo." 

O estágio de incubação termina com um momento de ideias: manter distância da matéria por um tempo "permite que aquilo que inicialmente parecia irrelevante para o problema torne-se o foco de sua atenção", diz Vartanian. "E se você captar isso, pode ser a chave para sua solução." 

8. Crie uma dieta informativa fixa

Decida quais publicações você quer ler diariamente e quanto tempo você vai gastar com cada uma delas.

A jornalista cultural Hannah Jackson acessa vários veículos de cultura pop diariamente porque eles dão a ela "uma estrutura mental" sempre que ela está sugerindo pautas como repórter freelancer. "Eu priorizo as publicações que admiro e onde tenho um relacionamento com os editores", diz.

Fobar também estabeleceu seu sistema. Mas, diferentemente de Jackson, ela é redatora na National Geographic e tem uma especialidade definida, por isso lê mais publicações especializadas e estudos científicos.

9. Não fale. Ouça

Dore diz que ela precisou de muito tempo para entender que ela poderia conseguir aspas melhores simplesmente se ouvisse seus entrevistados.

O conselho dela: faça as primeiras perguntas, e fique quieto. "Fique em silêncio durante as entrevistas", ela diz. "Se você se calar, você tira muito mais da outra pessoa." 


Foto por Estée Janssens via Unsplash.

Este artigo foi originalmente publicado pelo Poynter e republicado na IJNet com permissão.