Colaboração ajuda no crescimento de veículos latino-americanos

Aug 16, 2021 em Jornalismo colaborativo
Family photo of LatamChequea members.

Seja para amplificar o impacto ou apenas para compartilhar conhecimento, a colaboração entre veículos da região se tornou uma estratégia-chave para o crescimento sustentável.

Criada em 2009, a revista digital Distintas Latitudes operou sem um modelo de negócios de fato em seus sete primeiros anos. Então, em 2016, descobriu seu potencial — poderia prosperar mais por meio da colaboração com outros meios de comunicação. Funcionou. Cinco anos depois, a empresa tem uma equipe de oito pessoas distribuídas em quatro países.

"Acreditamos que caminhar sozinho pode fazer você chegar lá mais rápido, mas ser parte de um coletivo pode te levar mais longe", disse à IJNet Jordy Meléndez Yúdico, co-diretor da Distintas Latitudes.

O meio de comunicação mexicano não é a única publicação latino-americana que encontrou força em alianças. Seja para amplificar o impacto ou apenas para compartilhar conhecimento, a colaboração entre veículos da região se tornou uma estratégia-chave para o crescimento sustentável.

Neste ano, a Distintas Latitudes se juntou a nove veículos latino-americanos jovens e independentes para criar a Coalición LATAM, uma aliança que busca dar apoio aos seus membros à medida que crescem. São eles Revista Colibrí, da Argentina; La Andariega, do Equador; Cápsula Migrante e La Antigona, do Peru; e EsParaMiTarea, Morras explican cosas, Memorias de Nómada, La Desvelada e Altavoz LGBT+, do México.    

De acordo com Meléndez Yúdico, as expectativas para o primeiro ano da coalizão são "limitadas, mas importantes".

"Graças à capacidade de operação da Distintas Latitudes e as habilidades para buscar financiamento, queremos que as outras nove publicações obtenham seu status legal e vamos ajudá-las com questões administrativas e financeiras", ele diz.

A Coalición LATAM também lançou um projeto investigativo colaborativo sobre juventude e direitos humanos no México, Argentina, Equador, Venezuela e Peru, que deve ser publicado  ainda este ano. Nessa primeira etapa, cada membro foi diretamente convidado para participar, mas o grupo espera publicar em janeiro de 2022 as regras gerais para fazer parte da coalizão.

"No cerne da Coalición LATAM há confiança, uma vontade compartilhada de criar outro tipo de mídia e a necessidade urgente de repensar as condições sobre as quais o jornalismo opera atualmente", diz Meléndez Yúdico.

 

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Porém, administrar o trabalho colaborativo em um nível regional tem seus próprios desafios. Para Meléndez Yúdico, é preciso manter todas as publicações e pessoas participantes engajadas. Confiança e comunicação ajudam nessa tarefa. Também é necessário construir consenso. "Isso nos força a sermos muito cuidadosos e respeitosos com discussões relacionadas à tomada de decisões", afirma.

Esse tipo de trabalho colaborativo se tornou mais comum na América Latina recentemente. Em 2014, um grupo de checadores da região decidiu criar o LatamChequea para conectar meios de comunicação que enfrentavam desafios semelhantes. O que começou como um evento que acontecia duas vezes ao ano evoluiu para uma rede de compartilhamento de conhecimento. Coordenada pelo Chequeado, da Argentina, a rede tem hoje mais de 40 publicações. 

"Foi essencial para criar confiança entre as organizações, o que nos permite avançar com projetos em comum", afirma Olivia Sohr, diretora de impacto e novas iniciativas do Chequeado. De acordo com ela, o conjunto diverso de focos e forças do grupo possibilitou trocas de conhecimento relevantes. "Por exemplo, o El Surti, do Paraguai, tem uma grande habilidade em transformar artigos e checagem de fatos em storytelling com bastante apelo visual, o Salud con Lupa tem conhecimento profundo em questões de saúde pública e outras publicações conseguem fazer checagem de fatos com processos rápidos."

Quando a pandemia começou em 2020, a aliança lançou o LatamChequea Coronavirus, reunindo 35 veículos para fazer checagem e explicar como a COVID-19 estava afetando a região. Além disso, a iniciativa permitiu que as publicações pudessem contar com o conteúdo de outros membros para dar uma resposta rápida à desinformação em cada país.

"Acreditamos que a rede é essencial para identificar melhor a dinâmica por trás da desinformação, que em muitos casos é regional", explica Sohr.

Chani Guyot, CEO e editor do argentino RED/ACCIÓN, concorda que os veículos da região podem compartilhar experiências e soluções para ajudar a enfrentar melhor os desafios em comum. Essa crença é o que sustenta, por exemplo, o trabalho da Red de Periodismo Humano (Rede de Jornalismo Humano, em português), outra coalização latino-americana criada em 2021.

 

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A ideia surgiu quando o RED/ACCIÓN começou a conversar frequentemente com outros veículos latino-americanos através de iniciativas como o Velocidad Accelerator, cursos oferecidos pelo Google e Facebook e atividades da Fundação Gabo.

"Descobrimos que havia uma variedade grande de meios de comunicação trabalhando com uma empatia jornalística similar em torno de tópicos como imigração, crise climática, inclusão de gênero, direitos humanos, entre outros", conta Guyot. Eles decidiram criar uma rede na qual membros podem compartilhar seu conteúdo, assim algumas matérias selecionadas podem ser republicadas pelos demais gratuitamente.

O Salud con Lupa, do Peru; GK, do Equador; Cerosetenta, da Colômbia; Mi Voz, do Chile; La vida de nos, da Venezuela; Lado B, do México; e El Toque, de Cuba, são todos membros da Red de Periodismo Humano.  

Até o momento a rede republicou mais de 100 reportagens, e o grupo estima que, em média, isso permitiu aumentar em cinco vezes o alcance de cada matéria, de acordo com Guyot.

O impacto real, no entanto, pode ser ainda maior. Trabalhar em colaboração com outros veículos latino-americanos também possibilitou à Red de Periodismo Humano criar um espaço onde matérias locais podem orientar a cobertura internacional. "A região compartilha desafios comuns, e essas matérias revelam problemas e soluções que podem ser interessantes para além das fronteiras de um único país", afirma Guyot.


Imagem cedida por Chequeado.