Claudia Jardim já foi correspondente da BBC Brasil na Venezuela, onde acompanhou o governo de Hugo Chávez e os desdobramentos de sua morte. Também cobriu pautas políticas e sociais em Honduras, Equador, Haiti, México e Colômbia, para veículos como Folha de São Paulo, Carta Capital e Rádio CBN. Em 2015, ela se mudou de Caracas para Bangkok, na Tailândia, para novas aventuras profissionais.
Podcast sobre trabalho escravo
Na Tailândia, um assunto chamou a atenção da jornalista. Grande parte da economia do país é baseada no trabalho escravo, especialmente nas indústrias da pesca. Apesar da censura na fechada monarquia tailandesa, ela se especializou em reportagens sobre o tema. “O trabalho escravo está no nosso cotidiano. Está na roupa que vestimos, na comida que a gente come, no café que tomamos pela manhã", diz Jardim. "Aqui eu me dei conta que a escravidão moderna é um pilar não só das economias dos países do sudeste asiático, e sim um fenômeno mundial."
Claudia quis investigar a dimensão do problema no Brasil. Segundo dados do governo federal, desde 1995 até o final de 2021 mais de 57 mil pessoas foram resgatadas de condições análogas à escravidão. A jornalista decidiu contar no rádio a história de brasileiros que foram aliciados por redes criminosas. Surgiu então o projeto do podcast “No Labirinto”, com o qual ela foi selecionada para o programa Fall 2021 do International Center for Journalists (ICFJ). "No total serão dez capítulos de um podcast narrativo. Cada capítulo tem um personagem e por meio deles vou contar um pouco da história da escravidão moderna no Brasil”, explica Jardim.
O trabalho completo em português está sendo finalizado, mas uma primeira amostra em espanhol pode ser conferida na Radio Ambulante - podcast da rede pública norte-americana NPR. Antes de iniciar a fellowship, Jardim já trabalhava na produção de "¿Alguien ha visto a este muchacho?", um especial sobre a jornada de Pureza Lopes Loyola, que saiu do interior do Maranhão e passou 3 anos em busca do filho desaparecido. O rapaz foi escravizado em diversas fazendas, e chegou a trabalhar no garimpo antes de reencontrar a mãe.
Visão de empreendedorismo
Claudia já acompanhava as oportunidades de formação do ICFJ por meio da newsletter da IJNet. Quando soube que as inscrições para a fellowship estavam abertas, resolveu concorrer a uma bolsa para aperfeiçoar o projeto. Queria também desenvolver habilidades para empreender no mercado jornalístico. “Eu sempre publiquei no guarda-chuva dos grandes meios de comunicação", diz Jardim. "Dá um frio na barriga fazer uma coisa sozinha! A visão do empreendedorismo era justamente o que eu precisava aprender. E nisso a fellowship foi super importante para mim. Eu vi que é possível fazer.”
O ICFJ viabilizou que o jornalista e professor da Universidade de Nova Iorque, Jeremy Caplan fosse o mentor de Jardim, como ela queria. Os cursos de Caplan são voltados para profissionais que buscam criar o próprio negócio de comunicação. Ele ajudou a bolsista em como engajar e vender o projeto do podcast sobre trabalho escravo. "Os professores foram incríveis, e o meu mentor foi fundamental na criação de um projeto próprio e independente. Aprendi, por exemplo, que era preciso construir uma comunidade em torno da minha ideia, criar um programa de trabalho e um modelo de negócios.”
O desafio agora é executar as estratégias para atrair parceiros, e com isso aumentar o alcance do projeto. “Se eu conseguir apoio, vou ampliar esse debate para toda a América Latina. O objetivo maior é que esse podcast se transforme numa produção bilíngue, em português e espanhol”, explica Jardim.
Contato com colegas do grupo Al Jazeera
Além das aulas sobre temas atuais do jornalismo e do período de mentoria do projeto, Claudia acompanhou a rotina de produção da AJ+Español. A plataforma faz parte do grupo Al Jazeera e tem como público-alvo os jovens da América Latina. A jornalista observou que o trabalho é todo pautado na participação da audiência, por meio das redes sociais. “Foi interessante ver esse processo de retroalimentação, que deve ser cada vez mais a pegada do jornalismo", analisa Jardim. "Não tem como pensarmos a pauta na redação e deixarmos o leitor lá no final, consumindo aquilo sem nenhum vínculo, sem nenhum contato.”
Claudia fala inglês com fluência e tem o espanhol como segunda língua - por isso não teve dificuldade em interagir durante o período de fellowship. Ainda assim, ela aconselha os candidatos a não temerem o desafio do idioma. “O curso é em inglês, então na entrevista você precisa mostrar capacidade de compreender e de se expressar. O importante é não ter medo de falar. É um local de aprendizagem que está aberto a isso.” Para ela, a convivência com os colegas e professores foi uma parte muito especial de toda a experiência. “O fato de ter sido virtual, por causa da pandemia, não nos favoreceu tanto, mas mesmo assim foi sensacional. É um espaço de troca muito importante, de networking, então vale muito a pena!”
Foto: Arquivo Pessoal de Claudia Jardim