Claudia Jardim: a bolsista do ICFJ que lançou um podcast sobre trabalho escravo

Feb 27, 2022 em Jornalismo investigativo
Foto de Claudia com microfone

Claudia Jardim já foi correspondente da BBC Brasil na Venezuela, onde acompanhou o governo de Hugo Chávez e os desdobramentos de sua morte. Também cobriu pautas políticas e sociais em Honduras, Equador, Haiti, México e Colômbia, para veículos como Folha de São Paulo, Carta Capital e Rádio CBN. Em 2015, ela se mudou de Caracas para Bangkok, na Tailândia, para novas aventuras profissionais. 

Podcast sobre trabalho escravo

Na Tailândia, um assunto chamou a atenção da jornalista. Grande parte da economia do país é baseada no trabalho escravo, especialmente nas indústrias da pesca. Apesar da censura na fechada monarquia tailandesa, ela se especializou em reportagens sobre o tema. “O trabalho escravo está no nosso cotidiano. Está na roupa que vestimos, na comida que a gente come, no café que tomamos pela manhã", diz Jardim. "Aqui eu me dei conta que a escravidão moderna é um pilar não só das economias dos países do sudeste asiático, e sim um fenômeno mundial."

Claudia quis investigar a dimensão do problema no Brasil. Segundo dados do governo federal, desde 1995 até o final de 2021 mais de 57 mil pessoas foram resgatadas de condições análogas à escravidão. A jornalista decidiu contar no rádio a história de brasileiros que foram aliciados por redes criminosas. Surgiu então o projeto do podcast “No Labirinto”, com o qual ela foi selecionada para o programa Fall 2021 do International Center for Journalists (ICFJ). "No total serão dez capítulos de um podcast narrativo. Cada capítulo tem um personagem e por meio deles vou contar um pouco da história da escravidão moderna no Brasil”, explica Jardim.


O trabalho completo em português está sendo finalizado, mas uma primeira amostra em espanhol pode ser conferida na Radio Ambulante - podcast da rede pública norte-americana NPR. Antes de iniciar a fellowship, Jardim já trabalhava na produção de "¿Alguien ha visto a este muchacho?", um especial sobre a jornada de Pureza Lopes Loyola, que saiu do interior do Maranhão e passou 3 anos em busca do filho desaparecido. O rapaz foi escravizado em diversas fazendas, e chegou a trabalhar no garimpo antes de reencontrar a mãe.

Visão de empreendedorismo 

Claudia já acompanhava as oportunidades de formação do ICFJ por meio da newsletter da IJNet. Quando soube que as inscrições para a fellowship estavam abertas, resolveu concorrer a uma bolsa para aperfeiçoar o projeto. Queria também desenvolver habilidades para empreender no mercado jornalístico. “Eu sempre publiquei no guarda-chuva dos grandes meios de comunicação", diz Jardim. "Dá um frio na barriga fazer uma coisa sozinha! A visão do empreendedorismo era justamente o que eu precisava aprender. E nisso a fellowship foi super importante para mim. Eu vi que é possível fazer.”

O ICFJ viabilizou que o jornalista e professor da Universidade de Nova Iorque, Jeremy Caplan fosse o mentor de Jardim, como ela queria. Os cursos de Caplan são voltados para profissionais que buscam criar o próprio negócio de comunicação. Ele ajudou a bolsista em como engajar e vender o projeto do podcast sobre trabalho escravo. "Os professores foram incríveis, e o meu mentor foi fundamental na criação de um projeto próprio e independente. Aprendi, por exemplo, que era preciso construir uma comunidade em torno da minha ideia, criar um programa de trabalho e um modelo de negócios.”

O desafio agora é executar as estratégias para atrair parceiros, e com isso aumentar o alcance do projeto. “Se eu conseguir apoio, vou ampliar esse debate para toda a América Latina. O objetivo maior é que esse podcast se transforme numa produção bilíngue, em português e espanhol”, explica Jardim.

Contato com colegas do grupo Al Jazeera

Além das aulas sobre temas atuais do jornalismo e do período de mentoria do projeto, Claudia acompanhou a rotina de produção da AJ+Español. A plataforma faz parte do grupo Al Jazeera e tem como público-alvo os jovens da América Latina. A jornalista observou que o trabalho é todo pautado na participação da audiência, por meio das redes sociais. “Foi interessante ver esse processo de retroalimentação, que deve ser cada vez mais a pegada do jornalismo", analisa Jardim. "Não tem como pensarmos a pauta na redação e deixarmos o leitor lá no final, consumindo aquilo sem nenhum vínculo, sem nenhum contato.” 

Claudia fala inglês com fluência e tem o espanhol como segunda língua - por isso não teve dificuldade em interagir durante o período de fellowship. Ainda assim, ela aconselha os candidatos a não temerem o desafio do idioma. “O curso é em inglês, então na entrevista você precisa mostrar capacidade de compreender e de se expressar. O importante é não ter medo de falar. É um local de aprendizagem que está aberto a isso.” Para ela, a convivência com os colegas e professores foi uma parte muito especial de toda a experiência. “O fato de ter sido virtual, por causa da pandemia, não nos favoreceu tanto, mas mesmo assim foi sensacional. É um espaço de troca muito importante, de networking, então vale muito a pena!”


Foto: Arquivo Pessoal de Claudia Jardim