Cinco descobertas sobre a evolução do consumo de notícias digitais

Aug 15, 2024 em Liberdade de imprensa
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"Está ocorrendo uma espécie de redefinição de plataformas com maior ênfase em manter o tráfego dentro de seus limites e com foco maior em formatos que demonstraram impulsionar o engajamento, como o vídeo."

Esta é uma das principais descobertas do mais recente "Digital News Report", produzido pelo Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo, da Universidade de Oxford.

O instituto entrevistou quase 95.000 pessoas de 47 países, dentre eles cinco países do continente americano, para saber mais sobre os hábitos de consumo de notícias. A seguir, confira cinco descobertas sobre como as pessoas estão consumindo notícias no mundo e como isso impacta a mídia.

1. A reconfiguração das plataformas está afetando a imprensa

A Meta já não é mais a empresa dominante no mundo das plataformas, e nos últimos anos ela reduziu o papel das notícias em suas redes sociais (Facebook, Instagram e Threads). Um desses movimentos, ironicamente digno de virar notícia, foi feito quando os usuários do Instagram perceberam que havia sido ativada por padrão uma opção para diminuir o conteúdo político no feed. 

Os dados do setor indicam que o efeito combinado dessas mudanças provocou uma queda de 48% do tráfego proveniente do Facebook para os sites de notícias no ano passado; no X, essa queda foi de 27%.

"Muitas plataformas novas com bases de usuários mais jovens focam muito menos no texto e nos links do que as plataformas tradicionais e seu conteúdo é elaborado por uma multidão de criadores (às vezes muito populares) em vez de publicações estabelecidas. Em alguns casos, as notícias são excluídas ou rebaixadas porque as empresas de tecnologia acham que esse tipo de conteúdo causa mais problemas do que vale a pena", destaca o estudo.

2. Os mais jovens hoje têm uma conexão mais fraca com as marcas jornalísticas em comparação ao passado

Apenas 22% das pessoas mencionam sites ou aplicativos de veículos de mídia como sua principal fonte de informação (uma queda de dez pontos percentuais em relação a 2018). Esta tendência se acentua entre os mais jovens, que preferem se informar através de plataformas de redes sociais e ter acesso a informações produzidas por influenciadores, comentaristas com posições partidárias ou criadores de conteúdo, principalmente no YouTube e no TikTok, segundo o relatório.

"Nas redes mais novas como TikTok e Instagram, e em plataformas de vídeo mais estabelecidas como o YouTube, os principais veículos estão consideravelmente desafiados por uma variedade dos chamados influenciadores, criadores de conteúdo e celebridades online, e também por pessoas comuns e propostas jornalísticas alternativas menores."

3. As audiências têm ressalvas em relação ao uso de IA para a produção de notícias

Em geral, as audiências não têm uma posição totalmente contrária ou a favor do uso de inteligência artificial nos conteúdos jornalísticos que consomem, mas certamente demonstram estar mais cômodas em determinados cenários. Por exemplo, quando os jornalistas usam ferramentas para transcrição automática de áudios para agilizar o trabalho.

"As pessoas se sentem menos cômodas (porém em alguns casos abertas) se a IA intervém para distribuir notícias de novas formas e em novos formatos, especialmente quando melhora a experiência dos usuários e aumenta a acessibilidade. E o que provoca mais incômodo é o uso da IA para gerar conteúdo completamente novo. Independentemente disso, existe um consenso generalizado segundo o qual a automatização total deve estar fora de cogitação e um ser humano deve sempre estar 'no topo'".

4. Modelos de assinaturas pagas estão estagnados

Após uma análise de 20 mercados, 57% dos entrevistados afirmaram que não considerariam pagar pela assinatura de um veículo jornalístico. Apenas 17% se mostraram dispostos a fazê-lo, um número que mostra pouca mudança em relação à última medição feita pelo estudo. 

Durante os últimos anos, os veículos implementaram estratégias para o pagamento de assinaturas que vão desde doações, testes gratuitos ou de baixo custo, pacotes de ofertas com várias marcas, jogos, receitas ou edições eletrônicas com preços diferenciados.

"O setor jornalístico tem várias técnicas para incentivar a pagar, mas as pessoas só vão pagar se isso enriquecer a vida delas", conclui o relatório.

5. A ascensão dos influenciadores obriga os jornalistas a reinventar maneiras de se relacionar com a audiência

Os influenciadores e personalidades online são a principal fonte de notícias no YouTube, Instagram e TikTok, ficando à frente dos veículos tradicionais, um dado que pode preocupar jornalistas e que se acentua em grandes mercados como o Brasil e EUA.

"É surpreendente que os dez nomes mais mencionados nos EUA se dediquem a opiniões e discussões políticas, em vez de produzir notícias originais. A maior parte do conteúdo é partidária, com pouca ou nenhuma intenção de mostrar o outro lado", relato o estudo, referindo-se a uma lista repleta de comentarias de esquerda ou de direita em que destacam nomes como Joe Rogan, Ben Shapiro e Tucker Carlson.

Neste campo minado de comentaristas, desinformação e polarização, as contas alternativas vinculadas a notícias se destacam, como o caso da @underthedesknews, em que o criador V Spehar dá as notícias ajoelhado debaixo de uma mesa de escritório. Após conseguir mais de três milhões de seguidores e chegar a mais de 196 milhões de likes nos vídeos, o Los Angeles Times o contratou para assessorar o jornal no uso das redes sociais.

"A vitalidade das vozes alternativas nas redes sociais e plataformas de vídeo ressalta, de certo modo, as fraquezas dos veículos tradicionais em temas como confiança, diversidade e narrativas digitais, ao menos para algumas pessoas. Nesse sentido, as marcas jornalísticas tradicionais têm muito o que aprender sobre como engajar melhor as audiências em um espaço cada vez mais complexo e competitivo", conclui o relatório.


Imagem de William Hook via Unsplash.