Cinco conselhos de jornalismo investigativo para fotojornalistas

Feb 13, 2025 em Jornalismo multimídia
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Se no trabalho de campo você sempre esteve atrás de uma câmera, é natural que você tenha um foco extremamente visual das suas pautas e que se concentre na narrativa de imagens; uma linguagem de planos, enquadramentos, texturas e cor. Mas se você estiver em busca de complementar esse trabalho com reportagem e texto escrito e de combinar o relato visual com investigação em profundidade, os conselhos a seguir podem ser úteis.

1. Estude o que já foi publicado sobre o assunto

Pesquise o que já foi publicado sobre o assunto que você está trabalhando, em quais veículos, com que abordagem e em quais formatos. Estude a metodologia descrita nessas reportagens; se for possível, entre em contato com os colegas que produziram o material. Conhecer os ângulos que já foram cobertos vai te permitir, por um lado, inserir-se em um discurso maior sobre o tema ou fenômeno em questão; por outro, você terá uma noção mais clara de quais áreas foram pouco cobertas ou receberam atenção escassa, quais ângulos permanecem sendo um ponto cego e quais vozes não foram contempladas. Isso vai te dar a oportunidade de produzir uma matéria original, com enfoques e conteúdo novos, reveladores.

2. Tenha um interlocutor

Não faça uma matéria que existe no vácuo, desconectada. Otimize os recursos e o tempo que você tem à sua disposição: conte essa história para alguém. No mar de conteúdo informativo e de entretenimento no qual vivemos, em que a maior parte dos assuntos que trabalhamos já foram abordados de uma forma ou de outra, é imprescindível saber a quem se dirige uma matéria: em quais veículos ela será divulgada? Ela é voltada para uma audiência local ou internacional? A quais figuras da sociedade?  A quais segmentos do público? Essas perguntas, entre outras, vão te ajudar a definir a abordagem, qual o volume de informação nova será incluído, qual linguagem e tom utilizar, quais canais de divulgação utilizar após a publicação da matéria, etc.

3. Pesquise e processe dados

O testemunho oral e escrito das fontes locais e da sua própria observação são apenas dois níveis da investigação. Você deve acrescentar dados que ofereçam uma dimensão e uma perspectiva ao que é contado pelas fontes e ao que se vê diante dos olhos. Atenção: é importante manter o equilíbrio. O excesso de dados pode ser contraproducente. Procure explicar processos complexos de maneira simples e escolha o dado que serve para demonstrar determinado argumento. Não se trata de encher o leitor de números aleatórios mal processados, por mais relevantes que eles sejam (ou pareçam). Além disso, a história humana deve manter-se como o eixo.

4. Identifique detalhes úteis para a narrativa

Assim como a imagem tem, de fato, o efeito de particularizar um rosto, um lugar e uma ação, no relato escrito deve haver conteúdo preciso que permita identificar esses mesmos elementos. Não se trata de privar o texto da universalidade, mas sim de honrar o pacto não declarado com o leitor de que você esteve naquele lugar, de que tocou algo com as suas mãos, de que falou com as pessoas envolvidas, de que conhece os espaços onde os acontecimentos se desenrolaram. É possível conseguir isso com recursos narrativos e representações que consigam traduzir para o leitor o que você viu e viveu. Produza um testemunho forte valendo-se de detalhes (cores, odores, horários, frases, estados, sabores, dimensões...). Isso vai te ajudar a conseguir, com palavras, aquilo que a fotografia te permite de fato: retratar.

5. Seja, acima de tudo, jornalista

Distancie-se. Não porque você não está envolvido com o assunto, mas precisamente por esse motivo. Um assunto que te envolve como jornalista exige que você o trabalhe com seriedade e se abstenha de construir um relato maniqueísta de vilões e vítimas inocentes; uma caricatura em que estejam refletidas ou que até mesmo fiquem expressas suas próprias indignações e simpatias. Recue sempre que sentir que estiver indo pelo caminho do retrato emotivo ou passional. Se você tem uma boa história, um equilíbrio correto de fontes e um processamento adequado de dados, não é necessário carregar no sentimentalismo e nas declarações de princípios. O bom trabalho sempre é suficiente. Construa argumentos a partir da realidade e desenvolva sua tese levando em conta todos os elementos em jogo e não somente os que se ajustam a determinada linha de correção política. Não se esqueça de que o principal capital de uma reportagem é a confiança; é a credibilidade.


Este artigo e os programas de intercâmbio e capacitação nos quais ele se baseia foram possíveis graças ao apoio do programa Professional Development for Environmental Journalism, parte do Earth Investigations Programme do Journalismfund Europe e do Fórum Pamela Howard da IJNet em espanhol. O trabalho foi organizado por Late, Mirada Colibrí e Ruido Photo.

Imagem por Gül Işık via Pexels.