Certificação e boa vedação são os itens mais importantes em uma máscara

por Marina Monzillo
Mar 25, 2021 em Reportagem sobre COVID-19
Máscara N95 sob fundo preto

Em parceria com a nossa organização-matriz, o Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ, em inglês), a IJNet está conectando jornalistas com especialistas em saúde e líderes de redação por meio de uma série de seminários online sobre COVID-19. A série faz parte do Fórum de Reportagem sobre a Crise Global de Saúde do ICFJ.

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Qual é a melhor máscara para se proteger do coronavírus? Quanto mais camadas melhor? Pode lavar ou borrifar álcool no modelo PFF2?

No turbilhão de informações sobre a pandemia de COVID-19, muitos acabam tendo dúvidas sobre esse item essencial para barrar a transmissão do SARS-CoV-2. “A escolha nem sempre é simples; tem vários detalhes a se atentar", diz Beatriz Klimeck, idealizadora do projeto @qualmascara e doutoranda em saúde pública pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Klimeck participou do webinar “Como comprar máscaras sem se enganar", realizado em 24 de março pelo Fórum de Reportagem Sobre a Crise Global de Saúde. Ela respondeu perguntas da audiência e analisou alguns sites de e-commerce, que nem sempre fornecem informações corretas sobre esses produtos. 

 

 

Veja a seguir os principais pontos da conversa. 

Projeto @qualmascara

  • Desde agosto do ano passado, Klimeck tem usado a PFF2 em lugares fechados, de maior risco, e despertou o interesse das pessoas, que sempre perguntam sobre esse tipo de máscara a ela. Em dezembro, fez um vídeo para as redes sociais falando da sua experiência com as diversas máscaras e por que escolheu esse modelo. “O interesse foi crescendo e, junto com meu companheiro, que é formado em administração pública e está na área de comunicação, criamos um perfil em dezembro, focado em informação”, contou ela, que atua principalmente no Instagram e no Twitter.  Em fevereiro o @qualmascara tinha 10 mil seguidores; atualmente passou de 150 mil no Instagram e 40 mil no Twitter

  • “Meu objetivo é que o projeto se torne inútil, mas cada dia fica mais importante”, disse Klimeck. Eles recebem muitas dúvidas diariamente, a ponto de não conseguirem dar conta de todas. As mais frequentes são sobre onde encontrar PFF2 e os cuidados para o reuso dela. Ela indicou o site https://www.pffparatodos.com/, onde voluntários listam modelos e lugares para comprá-los no varejo e no atacado. 

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KN95, N95 ou PFF2?

  • Klimeck explicou que, em teoria, KN95, N95 e PFF2 são a mesma coisa: máscaras com 95% ou mais de proteção de partículas, certificadas em seus países – respectivamente, China, Estados Unidos e Brasil. Entretanto, foram feitas pesquisas e nem todas possuem o nível de proteção que deveriam ter, atingindo 60 ou 70% apenas. Por isso, as PFF2 são as mais recomendadas, porque é possível consultar sua certificação. “Elas têm número do CA [certificado de aprovação] na embalagem. Você entra no site https://consultaca.com/ e pode ver se o laudo está válido e se tem selo do Inmetro. Recentemente, uma portaria desobrigou as máscaras de terem esse selo; com o CA, você descobre se aquele produto foi desobrigado ou não”, detalhou.  

  • Ela ressaltou que as grandes importações geralmente são de KN95 e o fato de ter sido noticiado que o Ministério da Saúde distribuiu máscaras não certificadas, chamou a atenção da população para as diferenças. “As KN95 têm elástico atrás das orelhas, tornando mais difícil atingir o nível ideal de proteção”. Na internet, há uma lista de marcas de KN95 não recomendadas nos Estados Unidos. “Mais importante que saber as não aprovadas, é saber quais são, mas não temos essa regulação”, afirmou.

Como escolher a melhor máscara para você

  • Klimeck orientou priorizar modelos que prendem atrás da cabeça, que oferecem maior vedação, um fator bem importante de proteção:  “A PFF2 amassa um pouco seu rosto, não tenha medo de ficar com um pouco de marca. As KN95 ficam mais frouxas no rosto”. Segundo ela, a quantidade de camadas e o tipo de material não são determinantes na qualidade da máscara. “Ter várias camadas não significa nada. Não rasgue a máscara para conferir o número de camadas: você está desperdiçando um EPI”, avisou. A máscara também não precisa ser cara para ser boa. “Sendo certificada, a capacidade filtrante é a mesma. Não duvide da autenticidade se o preço for acessível”, disse. 

  • Dependendo do formato e tamanho do rosto, crianças a partir de 5 ou 6 anos podem se adaptar bem à PFF2. “Às vezes, elas preferem essa à de pano, porque não encosta na boca, não coça o nariz”, sugeriu. Caso a criança não se adapte, a recomendação é usar uma máscara cirúrgica por baixo e de tecido por cima. Ela indicou que no Twitter do projeto @pffparatodos, há sugestão de modelos para rostos menores e maiores e também para quem tem barba. 

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  • Em resumo, os procedimentos para comprar máscaras do tipo PFF2 são: conferir certificação, checar se o elástico fica atrás da cabeça e verificar se a vedação é boa para o seu formato de rosto. “Compre poucas unidades, experimente, não funcionou, doe”, sugeriu Klimeck.

  • A PFF2 não pode ser lavada nem borrifar álcool nela. “Não pode passar nenhum produto, pode destruir a carga eletrostática. Não há dados de diminuição da proteção ao longo do tempo de vida da máscara”, acrescentou. Ela recomenda usar por oito horas e, depois, deixar pendurada descansando por três dias. “Assim, há a inativação da possível carga viral e você poderá fazer o reuso com segurança. O ideal é ter sete máscaras, uma para cada dia da semana. E uma oitava, caso arrebente algum elástico”, disse.

  • Klimeck alertou que não existe necessidade de combinar a PFF2 com outra máscara. “Ela é suficiente: mais camadas podem dificultar a respiração. E duas PFF2 juntas não fazem sentido; podem até piorar a vedação da que está embaixo”. Questionada sobre os modelos elastoméricos, ela disse que a vantagem são os filtros trocáveis, que compensam no longo prazo. Entretanto, o custo é alto e quando a pessoa respira, não há filtragem do ar que sai.

Onde comprar máscaras seguras

  • Os lugares mais recomendados para você comprar não são os grandes e-commerces: por causa da especulação, os valores não correspondem à realidade. “Lojas de EPI valem mais a pena financeiramente e, em geral, trazem informações mais corretas, dão o CA. Lojas de material hospitalar, odontológico, de materiais de construção e tintas tem uma reputação a zelar.” Ela também indicou, mais uma vez, o site https://www.pffparatodos.com/

Marina Monzillo é jornalista freelancer com 20 anos de experiência em diversas áreas, como cultura, turismo, saúde, educação e negócios.

Imagem sob licença CC por Jonathan J. Castellon no Unsplash