Bedelbot: robô financiado pelo ICFJ monitora Telegram dos presidenciáveis

Oct 11, 2022 em Inovação da mídia
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A comunicação dos políticos com o seu eleitorado pelas mídias digitais é cada vez mais decisiva no resultado das eleições. Uma pesquisa do DataSenado constata que 45% dos entrevistados decidem o voto considerando as informações nas redes. Pensando nisso, o Núcleo Jornalismo desenvolveu o BedelBot, um robô que monitora o canal oficial do Telegram dos candidatos à presidência do Brasil de 2022. “A ideia é que seja uma ferramenta que a imprensa toda possa usar”, destaca Jade Drummond, coordenadora do projeto.

Com o foco em educação midiática e combate à desinformação, o BedelBot tem patrocínio do programa Acelerando a Transformação Digital, uma parceria do ICFJ com o Meta Journalism Project. Foram disponibilizados 15 mil dólares para o desenvolvimento da ferramenta. O recurso foi utilizado para o avanço tecnológico e criação da identidade, divulgação e crescimento da audiência do produto.

Monitoramento do Telegram dos presidenciáveis

O crescimento do Telegram e o pouco monitoramento do aplicativo pela imprensa, somado a impossibilidade de acessar o conteúdo original de mensagens editadas, foram os motivos apontados por Drummond para criar uma ferramenta que arquiva todos os posts enviados pelos candidatos com conta oficial, (Jair Bolsonaro, Ciro Gomes, Felipe D´Avila e Luiz Inácio Lula da Silva) possibilitando assim, a conferência e a responsabilização dos presidenciáveis, no caso de disseminação de mensagens com desinformação política. “Figuras públicas têm que ser responsabilizadas pelo que compartilham e, como estão falando dentro de um grupo proporcionalmente com mais apoiadores, num ambiente mais fechado do que o Twitter ou Instagram, talvez as mensagens possam ser mais radicais,” pontua.

Além do arquivamento das mensagens, o robô mostra os posts dos presidenciáveis que mais viralizaram no Telegram e monitora as alterações realizadas nas mensagens. O programa destaca tudo que foi editado, sinalizando em vermelho trechos removidos e em azul os trechos acrescentados, para facilitar a visualização do público. A equipe desenvolveu ainda um painel em que é possível analisar a data e o link da mensagem que viralizou e seu número de compartilhamentos e visualizações. Existe também a possibilidade de realizar a busca das mensagens por período ou palavra-chave, além da análise quantitativa do número de inscritos e do total de visualizações diárias de cada candidato.

Jair Bolsonaro é conhecido por ter forte adesão do seu eleitorado nas redes sociais. Ele tem o maior número de inscritos no canal, são 1.636.563 seguido de Lula com 85.651. Seu post que mais viralizou, nos últimos 15 dias, foi enviado após os resultados das eleições no primeiro turno e teve 657.683 visualizações e 3.668 compartilhamentos. Em contrapartida, a mensagem de Lula com mais encaminhamentos teve 105 compartilhamentos e 22.372 visualizações e trata do apoio de pastores e de parte da comunidade religiosa à sua candidatura. “O canal que faz mais edições é o de Bolsonaro e majoritariamente na parte da manhã. Outros presidenciáveis quase nunca fazem modificações no Telegram. É interessante ver a preocupação do Bolsonaro em cuidar do Telegram”, destaca Michel Gomes, programador, que construiu o bot.

Um projeto inovador

Por meio da mentoria da jornalista Luciana Cardoso, a equipe que idealizou o robô definiu que os jornalistas, checadores de informações e pesquisadores seriam o público-alvo do BeldelBot. Partindo dessa premissa, o robô foi programado a partir de conversas com jornalistas para que pudesse atender as necessidades dos profissionais. Cardoso diz que ficou muito satisfeita com o resultado. “As primeiras métricas já mostraram o uso do produto indo além do eixo Rio e São Paulo, que foi uma das provocações que trouxe para a equipe”. Mais de 400 usuários já acessaram o painel. 

Gomes informa que o produto demorou um mês e meio para ficar pronto e destaca que a experiência de participar do projeto foi enriquecedora. “O desafio foi procurar uma maneira de capturar as informações oficiais do Telegram e pensar em como disponibilizá-las de forma intuitiva e de fácil compreensão para o público.” O caráter inovador da proposta é destaque de Drummond. “Não existe um produto desse. A gente desconhece alguém que esteja monitorando edição de post de Telegram”.

Novos rumos 

Para o segundo turno, a equipe está investigando as análises de reações dos canais, encontrando assuntos que mais engajam com os eleitores, para entender as mensagens com maior apelo. “Será que as mensagens mais radicais terão mais reação do que as moderadas? Isso é interessante porque pode dar um termômetro do que está funcionando nas campanhas”, afirma Drummond, que destaca ainda as possibilidades de uso da ferramenta para outros assuntos, além da cobertura eleitoral. “Essa funcionalidade de ver tudo que foi editado tem muito valor para monitoramento de outros assuntos", diz ela. "As possibilidades são muitas porque é uma tecnologia que pode ser aplicada para qualquer canal”.


Foto: Logo retirado do website do projeto