Banco dos Réus: um podcast de sucesso financiado pelo ICFJ

Aug 16, 2022 em Inovação da mídia
Página do podcast na web

O podcast "Banco dos Réus", criado pela Folha de Londrina, foi contemplado com uma ajuda financeira e de mentoria para deslanchar. E conseguiu. “No primeiro episódio, em menos de dez horas de lançado, a gente já estava entre os 10 mais ouvidos”, relata Patrícia Maria Alves, responsável pelo projeto e apresentadora do podcast. O programa "Acelerando a Transformação Digital", desenvolvido pelo ICFJ com o Meta Journalism Project, tem beneficiado organizações e jornalistas das cinco regiões do Brasil. Uma chance de obter sucesso em projetos e aumentar audiência e receita, a partir do uso de novas tecnologias digitais.

Investigação de crimes reais

O "Banco dos Réus" está dentro do gênero true crime, ou seja, crimes reais, e narra em cinco episódios a história de cinco mulheres assassinadas em Londrina. Tudo num intervalo de trinta anos e com desfechos polêmicos, que marcaram a crônica policial da cidade. A equipe realizou uma imersão nos casos e investigou arquivos e processos criminais, além de entrevistar os jornalistas que cobriram os crimes, os parentes das vítimas e até um dos assassinos.

Fernanda Circhia, jornalista investigativa, editora e responsável pela locução do projeto, destaca que a equipe entrou de cabeça nos casos e se emocionou nas entrevistas. “Eu nunca tinha vivido isso. Foi maravilhoso e o resultado foi incrível”, diz Circhia. “A gente conseguiu fazer até melhor do que esperava”. O projeto culminou em um audiodocumentário, com extras no site da Folha de Londrina, e que pode ser acessado em diversas plataformas.

Segundo Alves, o audiodocumentário esteve em 4º lugar no gênero true crime Brasil, na Apple Podcast, e entre os 100 mais ouvidos por três semanas, no ranking podcast (geral) Brasil. A ideia do podcast surgiu em 2019, mas por falta de verba, só saiu do papel com o recurso de 15 mil dólares do programa do ICFJ. 

O auxílio financeiro fez diferença

A equipe soube usar bem a verba destinada e construiu uma sala acústica com equipamentos de ponta, envolvendo monitor de áudio, mesa de som, microfone, gravador de áudio e iluminação. O podcast contou também com a participação de uma equipe de aproximadamente 50 pessoas, envolvidas na criação de campanha e de produção, designer de som e designer de identidade visual. Celso FelizardoJuliana Gonçalves e Lúcio Flávio Moura foram fundamentais na equipe de jornalismo investigativo. 

Estudio do podcast
Estudio do podcast reformado com parte da verba do projeto (Foto: Gustavo Carneiro)

 

Adriana De Cunto, chefe de redação da Folha, que trabalhou por muitos anos como repórter policial no jornal, ressalta a importância do resgate do jornalismo investigativo que o projeto proporcionou. “O pessoal relativamente jovem não contava com essa escola, dessa investigação em que você se aprofunda, que você tem um apoio financeiro, que é uma coisa muito mais cara", ressalta Cunto. "Hoje, o processo industrial do jornal não permite que a gente faça isso tantas vezes.”

Alves acrescenta que o podcast resgatou a presença de um público que há muito tempo não falava da Folha de Londrina, e afirma que o projeto empoderou os jornalistas da redação. “Quando a gente lançou o primeiro episódio, era a coisa mais linda de ver, todo mundo mandando foto do seu lugar de trabalho com fone de ouvido. Era muito emocionante pra gente que faz jornalismo diário, competindo com muito entretenimento”. E desabafa: “Com todos os percalços do caminho de ser jornalista, hoje, no Brasil, e por mais que o programa trate de assuntos muito tristes, a gente conseguiu chegar no coração das pessoas”.

Mentoria em gestão de negócios

A equipe da Folha de Londrina contou com a orientação de especialistas em gestão de negócios, uso de novas tecnologias e melhor aproveitamento das redes sociais.  Luís Fernando Bovo,  diretor de conteúdo do Estadão, foi o responsável pela mentoria. “As pessoas têm realmente um fascínio brutal pelos casos que ficam sem solução”, diz Bovo. "Mergulhar nesses casos é quase um trabalho de utilidade pública, para que isso não seja esquecido”.

Com reuniões semanais, a equipe determinou três frentes de trabalho, envolvendo a parte técnica da montagem e compra dos equipamentos do estúdio; a definição dos episódios e construção do roteiro e apuração dos casos e, por fim, a etapa da divulgação do projeto com a criação do site e da campanha nas redes sociais, além do conteúdo adicional no impresso. “O resultado que a gente vê é o contato com um time extremamente engajado, participativo e colaborativo e que sabia muito bem o que queria fazer”, afirma Bovo. Para Alves, a mentoria teve um papel crucial na realização do podcast. “Ele não tinha problemas em mostrar o pulo do gato, foi uma experiência de muito aprendizado”.  E destaca. “No final saímos profissionais melhores, com mais experiência e conhecimento. É impagável a riqueza não palpável que esse projeto trouxe”.

Com o sucesso de audiência, a equipe pretende captar recursos e realizar uma segunda temporada. Para Bovo, o podcast mostra o potencial da Folha de Londrina de atuar nesse segmento. “Se o departamento comercial souber aproveitar e mostrar aos patrocinadores e as grandes marcas, não há como não conseguir um patrocinador”. Além do ICFJ e do Meta, Banco dos réus teve o apoio da Associação Nacional de Jornais (ANJ) e da Associação Nacional de Editora de Revistas (ANER).


Foto da capa: retirada do website do podcast