Banco de dados online impulsiona presença de mulheres no fotojornalismo

Oct 30, 2018 em Jornalismo multimídia

A iniciativa Women Photograph nasceu de pura frustração.

A premiada fotojornalista Daniella Zalcman sempre ouvia a mesma desculpa dos editores de fotos. Eles adorariam contratar mulheres fotógrafas para reportagens, mas não sabiam onde encontrá-las. Em fevereiro de 2017, ela resolveu remediar isso criando um diretório online de fotógrafas.

O diretório cresceu e inclui 700 mulheres em 91 países, incluindo Iraque, República Democrática do Congo, Israel, Somália e Irã. "A resposta tem sido ótima", disse Daniela, fotógrafa de documentários de Londres e Nova York e bolsista da International Women’s Media Foundation.

O site incentiva editores de imagem, diretores de criação ou qualquer pessoa que contrate rotineiramente fotógrafos para acessar um banco de dados eletrônico de membros, o que inclui informações sobre sua localização geográfica e áreas de especialização.

A missão declarada da iniciativa é “mudar a composição de gênero da comunidade do fotojornalismo e garantir que os principais contadores de histórias de nossa indústria sejam tão diversos quanto as comunidades que esperam representar.”

Durante anos, ela percebeu que apenas 15 por cento dos participantes do prestigiado World Press Photo Awards eram mulheres. Ela achou isso "ultrajante".

"Precisamos ter certeza de que as histórias que estamos contando sejam de um grupo diverso de jornalistas se quisermos cobrir nosso planeta de maneira responsável", disse Daniela. “A indústria de fotografia tem sido e continua a ser uma instituição masculina, heterossexual [e] muito branca.”

Segundo uma reportagem de fevereiro de 2017 no New York Times, 80 a 100 por cento das imagens em coleções das fotos mais significativas de 2016 em muitas publicações importantes foram feitas por fotógrafos homens.

Daniela não acha que esses números necessariamente indicam um viés na seleção de fotografias. Em vez disso, sugerem que “as mulheres não estão recebendo muitas das reportagens mais importantes das agências de notícias, jornais ou revistas, e que ainda existem disparidades de gênero na indústria”, disse ela na reportagem do Times.

Segundo Daniela, as mulheres fotógrafas veem de maneira diferente dos homens.

"Seja definindo a identidade com base em gênero, raça, nacionalidade ou status socioeconômico, todos nós temos experiências de vida diferentes", disse Daniela. “Nossas experiências informam como vemos o mundo, como contamos as histórias de outras pessoas e como nos relacionamos com as pessoas sobre as quais fotografamos e escrevemos.”

“A experiência feminina é extremamente diferente da experiência masculina. Precisamos ser tão diversos quanto nosso público e nossos assuntos.

Além do diretório online de mulheres fotógrafas, o site também oferece informações sobre:

  • Um programa de orientação de um ano que reúne 22 líderes do setor (11 fotógrafos e 11 editores de fotos) com 22 fotojornalistas em início de carreira. Mentores incluem editores da National Geographic, NPR, The New York Times e The Guardian, e fotógrafos que receberam os prêmios Pulitzer, Guggenheim Fellowships e World Press Photo.

  • Uma lista de organizações de fotos de mulheres, incluindo a Sahar Speaks, que oferece oportunidades de treinamento, orientação e publicação a jornalistas afegãs; Lumina Collective, um coletivo australiano formado por artistas fotográficas premiadas, com foco em diversidade e inclusão, e Women Photojournalists of Washington, uma organização sem fins lucrativos com mais de 250 membros com sede em Washington.

  • Doações para projetos da Nikon e Getty Images para fotógrafas mulheres, trans ou não-binários. 

  • Um fundo de viagens para ajudar fotógrafas a ter acesso a workshops, festivais e outras oportunidades de desenvolvimento.

  • Um calendário de prêmios e subsídios que lista prazos e requisitos. 

Daniela, graduada pela Universidade de Columbia, ganhou o Prêmio FotoEvidence Book 2016 por uma publicação criada a partir de seu projeto em andamento “Signs of Your Identity” sobre internatos de assimilação forçada para crianças indígenas. O projeto, apoiado pelo Pulitzer Center on Crisis Reporting, ganhou o prêmio Robert F. Kennedy Photography - International Award de 2017.

A Women Photograph está buscando indicações para fotógrafas mulheres, trans e não-binários, com menos de cinco anos de experiência profissional. Se você ou alguém que conhece se encaixa nessa descrição e se beneficiaria do apoio contínuo, envie um e-mail para hello@womenphotograph.com.

Imagem sob CC no Unsplash via Tam Nguyen