Apresentadores criados com IA combatem censura na Venezuela

Aug 29, 2024 em Liberdade de imprensa
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"Caso você não tenha percebido, queremos te falar que não somos reais. Fomos gerados por inteligência artificial, mas os nossos conteúdos são, sim, reais, com verificação de qualidade e criados por jornalistas."

Assim se apresentam La Chama e Pana, dois avatares criados com IA e os únicos rostos visíveis do projeto Operação Retweet, uma iniciativa liderada pela organização sem fins lucrativos Connectas, e que reúne uma dezena de veículos venezuelanos com uma única finalidade: evitar a censura do regime e proteger a segurança dos jornalistas.

"É uma resposta a outras operações na Venezuela que buscam silenciar, desinformar e semear o medo", diz Carlos Eduardo Huertas, diretor da Connectas, explicando que o nome da iniciativa leva a palavra "operação" como uma contrarresposta à conhecida "Operação Tuntún" do governo venezuelano, que bate na porta das casas para prender opositores.

"O papel fundamental aqui é dos jornalistas venezuelanos, que estão fazendo um trabalho excepcional. Chamamos de jornalismo de valor não só pelo valor dos conteúdos que estão sendo produzidos, mas também pelo valor dos colegas por exercerem a profissão nesse ambiente", acrescenta Huertas.

Em sua primeira temporada, o projeto terá dez episódios que serão publicados em diferentes sites e plataformas de redes sociais. O programa será transmitido às 13h, horário da Venezuela.

 

"Todos os membros da aliança publicam as matérias uns dos outros para que não fique visível quem fez o quê e para vencer a censura. Iríamos nos autocensurar cada vez mais se nossos nomes estivessem expostos", comenta uma das jornalistas que faz parte da aliança, e que pediu para permanecer anônima.

O projeto reúne vários veículos venezuelanos e internacionais que fazem parte das iniciativas #VenezuelaVota y #LaHoraDeVenezuela.

Aumento da repressão

Desde as eleições de 28 de julho, 13 jornalistas foram detidos por fazer a cobertura eleitoral e publicar fotos dos protestos massivos na Venezuela. Vários destes profissionais enfrentam acusações por supostos crimes de terrorismo, espionagem ou conspiração.

Entre 29 de julho e 6 de agosto, foram registradas 15 deportações de correspondentes estrangeiros, quatro agressões físicas, dois danos a sedes de meios de comunicação, oito ameaças e mais de 26 denúncias por intimidação, de acordo com o Instituto Nacional de Jornalistas da Venezuela.

O Conselho Nacional de Telecomunicações, entidade estatal que controla as telecomunicações na Venezuela, proibiu os donos de veículos de comunicação de divulgar informações sobre os protestos ocorridos após as eleições.

Para a jornalista Marjuli Matheus, atualmente exilada no Chile, a decisão de um grupo de jornalistas de se ocultar com o anonimato se justifica, porque eles trabalham sob condições de ameaças constantes, as mesmas que ela viveu há sete anos.

"Desde os tempos de Chávez, o jornalista que não se curva ao poder é alvo de guerra. Eles querem ter a hegemonia comunicacional", comenta.

Matheus relata que teve que emigrar em abril de 2017, depois de gravar a invasão do prédio onde vivia por diferentes forças de segurança e militares. "Eles me ameaçaram, me disseram que, por ter gravado, iam me prender. Sempre que eu saía para trabalhar, tinha que tomar cuidado com a política e com as pessoas que perseguiam jornalistas", conta. 

A Venezuela voltou a ser o centro de atenção da mídia e de organizações internacionais logo após eleições controversas que resultaram na vitória e reeleição do atual presidente Nicolás Maduro. O anúncio foi feito pelo Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela, instituição controlada pelo poder público.

A oposição e o jornalismo independente sinalizam uma série de problemas na contagem dos votos e relatam que as atas de votação dão como ganhador o opositor Edmundo González.

Os resultados geraram uma série de protestos massivos em todo o país, cuja repressão ocasionou a morte de 25 pessoas e a prisão de mais de 1.300 manifestantes.


Imagem cedida por #LaHoraDeVenezuela.