Em uma das ruas mais movimentadas de Bogotá, Calle 26, oito quilômetros e meio de faixas exclusivas para ônibus foram definidas para serem construídas entre 2007 e 2009, mas um grave atraso de dois anos na construção causou trânsito paralisante e caos ao longo da capital colombiana.
Eventualmente, uma rede complexa de corrupção envolvendo autoridades públicas emergiu como a causa dos atrasos, bem como a perda de centenas de millhões de dólares em dinheiro público — e a confiança dos cidadãos.
A nova iniciativa de jornalismo de dados quer capacitar os cidadãos para mudar essa realidade, dando-lhes as ferramentas para monitorar obras públicas em andamento, bem como solicitar novos projetos quando necessário.
Quando for lançado no final deste ano, o aplicativo Yo Intervengo (Eu Intervenho) vai dar aos cidadãos uma opção "além de simplesmente reclamar", diz o criador do projeto Roberto S. Jalkh. “A ideia é dar às pessoas ferramentas para que possam fiscalizar estas obras, permitindo-lhes perguntar, por exemplo, 'quando deve estar pronto?' Estamos colocando a transparência nos processos de contratos públicos."
Jalkh e sua equipe conceberam a idéia durante O Rastro do Dinheiro, uma hackatona regional em uma dúzia de cidades latino-americanas, além de Miami. O bolsista Knight do ICFJ, Mariano Blejman, e o Hacks/Hackers América Latina organizaram o evento com o apoio do Knight Mozilla Open News, ICFJ e o World Bank Institute. Mais de 320 pessoas, incluido jornalistas, desenvolvedores e designers envolvidos em engajamento cidadão e inovação em jornalismo de dados, participaram.
Yo Intervengo foi um de cinco projetos do "Rastro do Dinheiro" que ganhou US$2.000 no final do evento. Destes cinco projetos, HacksLabs.org, a primeira aceleradora de jornalismo de dados na América Latina e outra parte do projeto da bolsa de Blejman, escolheu o Yo Intervengo como o vencedor principal do prêmio de US$10.000 para que a equipe possa expandir o projeto. Agora, a equipe Yo Intervengo, composta de três desenvolvedores, um designer e um jornalista, estão dedicados ao projeto em tempo integral.
Para preencher o aplicativo, eles estão usando dados de contratos públicos do banco de dados de contratos públicos do governo na Colômbia. Tal como existe no site do governo, os dados são abrangentes, Jalkh diz, mas é difícil de navegar e de ver. Yo Intervengo está puxando os dados e colocando-os em um banco de dados organizado e fácil de usar. A equipe também está planejando pedir a colaboração pública para organizar certos pontos de dados, ou seja, a localização de obras públicas, semelhante à maneira como o La Nación da Argentina pediu a leitores para ajudar a dar sentido a arquivos PDFs sobre gastos do Senado do país.
A partir daí, os usuários podem navegar e pesquisar por projetos de obras públicas, utilizando vários filtros. Os usuários serão capazes de deixar comentários para compartilhar suas experiências sobre o impacto humano (ou falta de progresso) sobre os projetos.
Em uma versão futura, a equipe pretende que a ferramenta também permita que as pessoas peçam que o governo construa projetos específicos que a comunidade precisa.
As pessoas poderão fazer pedidos, por exemplo, "se precisa cobrir um buraco, consertar uma luz na rua, ou construir uma ponte para que crianças pequenas possam chegar com segurança à escola", diz Jalkh. "Se as pessoas realmente precisam de alguma coisa, devem poder se juntar para demonstrar as necessidades que elas têm."
O jornalista Daniel Suárez Pérez, membro da equipe, acha que o aplicativo pode também ser valioso para as redações, que poderia usá-lo para se conectar diretamente com os cidadãos, para conhecer suas necessidades e onde os projetos estão definhando, e compartilhar essas informações com um público mais vasto.
"Este é um projeto social", diz Perez. "Queremos dar voz às pessoas que talvez não sintam que têm uma outra maneira de se expressar. Queremos chegar mais perto de soluções."
A equipe está atualmente em busca de organizações parceiras. Sua esperança é fazer com que o produto se torne escalável e útil para outros países e contextos, tanto na América Latina como em outras regiões do mundo.
Jessica Weiss é uma jornalista freelance em Bogotá, Colômbia.
Imagem principal sob licença CC no Flick via Juan Carlos Pachón - imagem secundária cortesia de Yo Intervengo