Do vazamento do relatório de inovação do New York Times ao sucesso do podcast Serial, muita coisa aconteceu no no que passou. Aqui estão os 10 maiores destaques segundo a IJNet.
1- O relatório de inovação do New York Times é vazado. A publicação de um relatório interno de 96 páginas em maio mostrou ao mundo os problemas que o jornal está passando para se adaptar ao digital e móvel.
O relatório detalhou os problemas na estratégia de mídia social do New York Times, como a cultura tradicional da redação se choca com a equipe digital e como o jornal está ameaçado por concorrentes mais enxutos e experientes digitalmente como o BuzzFeed, Circa e Vox.
A equipe que elaborou o relatório recomendou retirar a ênfase na imprensa, criar uma unidade de estratégia de redação e fazer um esforço maior para atrair os melhores talentos digitais.
Somando-se a este cenário de instabilidade, o relatório foi publicado pelo BuzzFeed dois dias depois que o New York Times anunciou a demissão da editora-executiva Jill Abramson, embora sua saída não fosse diretamente relacionada às dificuldades digitais do jornal.
2- O Washington Post é liderado por Bezos. Mais de um ano depois que o fundador da Amazon, Jeff Bezos, comprou o Washington Post, parece que as coisas vão bem para a organização de notícias. O Post contratou mais de 100 funcionários no ano passado, ganhou dois prêmios Pulitzer e teve o maior tráfego de sua história em julho. E Bezos parece estar pensando em novas fontes de receita: segundo o Business Insider, o jornal planeja licenciar seu content management system (CMS) para jornais locais e regionais.
3- Distribuição de notícias e a opacidade dos algoritmos. Em agosto, enquanto os protestos em Ferguson, no Missouri, dominavam o Twitter, outros perceberam que havia uma realidade muito diferente no Facebook, com vídeos do Desafio do Balde de Gelo, fotos de bebês e anúncios de casamento.
Isso gerou perguntas sobre como os algoritmos escolhem o conteúdo que vemos e portanto a realidade que vivemos. Se plataformas de redes sociais como o Facebook dominam a distribuição de notícias hoje, as pessoas não deveriam saber como funcionam os algoritmos e por que eles escolhem certas coisas em vez de outras?
Isso mostrou como a relação entre as empresas de jornalismo e tecnologia ainda está um pouco tensa, e as tensões surgem quando empresas de tecnologia assumem mais funções que costumavam ser exclusivas da imprensa. Duas boas leituras sobre o tema: What’s the right relationship between technology companies and journalism?, de Emily Bell, e a resposta de Dave Winer, How to Rebuild Journalism.
4- Ser mulher em tecnologia e mídia continua sendo difícil. A demissão de Jill Abramson do New York Times levantou a questão do sexismo e igualdade de gênero na mídia enquanto o #gamergate mostrou como as mulheres na área de tecnologia e mídia online ainda são atacadas diariamente.
Entretanto, uma coisa boa aconteceu em 2014: O Twitter finalmente implementou mudanças para diminuir ataques online.
5- O podcast Serial é viral. Produzido pelo programa This American Life, o Serial cuidadosamente dissecou o processo contra Adnan Syed, condenado a matar sua ex-namorada em Baltimore em 1999, provando que áudio também pode ser viral e dando uma nova esperança à rádio pública em distribuição e captação de recursos. Podcasts ganharam um fôlego novo. Apesar do final da série ter nos deixado debatendo quem matou Hae por dias a fio (você já leu a entrevista de Jay?), os produtores anunciaram que o podcast vai ter uma nova temporada no ano que vem.
6- Boletins de notícias voltam a ficar na moda. Embora todo mundo pareça reclamar sobre a sobrecarga de e-mails, o ano de 2014 viu a ascensão do boletim por e-mail. Para reduzir o barulho e voltar ao sentimento perdido de personalização, parecia que qualquer um com coração batendo e uma conexão com a Internet teve um boletim informativo em 2014.
Entre os meus favoritos estão: Today in Tabs, 5 Intriguing Things e Links I would Gchat if we were friends. E é claro, há um boletim sobre podcasts [e o o boletim semanal da IJNet em português].
7- Mobile e social não param e não vão parar. Para muitas organizações de notícias, o tráfego móvel ultrapassou o tráfego de desktop, e a mentalidade "mobile-first" tornou-se o novo mandato. A Copa do Mundo foi o evento mais compartilhado nas redes sociais, mostrando como vivemos eventos em massa como um coletivo nos dias de hoje.
8- Medindo impacto: a estratégia de cliques dando lugar a tempo gasto no site e engajamento. As organizações de mídia estão tentando descobrir a melhor maneira de medir impacto, mas uma coisa parece certo: estão se preocupando menos com cliques e visualizações de páginas e favorecendo outras métricas de engajamento, como o tempo gasto no site. Upworthy, YouTube, Medium e Chartbeat são alguns exemplos de sites que buscam medir o engajamento do usuário.
9- Jornalstas experimentam "wearables". Embora ainda seja uma tecnologia emergente, repórteres estão cada vez mais experimentando com wearables.
Tim Pool, famoso por cobrir eventos ao vivo com um relógio inteligente e Google Glass para o Vice Media, foi contratado recentemente para liderar uma unidade de notícias urgentes na Fusion, um canal de TV com foco na geração do milênio, enquanto o professor Robert Hernandez começou seu primeiro curso de jornalismo usando Glass na USC Annenberg.
E a compra de Oculus Rift por parte do Facebook deixou as pessoas imaginando como a realidade virtual pode ser usada além de vídeo games.
10- Empreendedores de mídia testam o terreno. Nem tudo foi super deprimente para o jornalismo este ano: uma série de novos empreendimentos de mídia foram lançados, enquanto outras empresas de mídia conseguiram se expandir e gerar milhões de dólares.
The Marshall Project, Ebola Deeply, Vox.com e FiveThirtyEight são alguns dos sites que se sobressaíram no ano que passou. Ao mesmo tempo, Vice Media e BuzzFeed expandiram e fizeram mais dinheiro, enquanto a Fusion contratou um time de estrelas digitais. First Look Media, que virou notícia por má gestão e por saídas antecipadas de alguns de seus contratados mais proeminentes, lançou The Intercept, fundado por Glenn Greenwald, e Reported.ly, um projeto de reportagem com base em redes sociais liderado por Andy Carvin.
Em uma nota triste, o site Homicide Watch, que desde 2010 documenta assassinatos em Washington e foi pioneiro de um modelo de reportagem novo, vai fechar.
Imagem principal sob licença CC de dordik no Flickr - imagem secundária: foto de Instagram por Maite Fernandez da primeira página do Washington Post no dia 4 de agosto de 2013