7 dicas para jornalistas que cobrem comunidades indígenas

por Destiny Alvarez
Dec 19, 2019 em Diversidade e Inclusão
Pessoas conversando

As comunidades indígenas geralmente são sub-representadas na cobertura de notícias e, quando aparecem na mídia, são sujeitas a reportagens imprecisas.

Em um esforço para resolver isso, a Faculdade de Jornalismo e Comunicação da Universidade do Oregon (UO SOJC) e a Many Nations Longhouse, o centro indígena estudantil da universidade, reuniram jornalistas para discutir sobre reportagem em comunidades indígenas.

Com base nessa discussão e em mais pesquisas, abaixo estão oito maneiras como jornalistas não indígenas podem reportar sobre as comunidades indígenas com precisão e eficácia.

(1) Entenda o passado e o presente

Os repórteres locais e nacionais devem revisar a cobertura anterior para identificar narrativas usadas em excesso ou tópicos mal apurados. Perfis históricos estereotipados e outras representações imprecisas de povos indígenas afetam negativamente essas comunidades. Também perpetuam práticas jornalísticas prejudiciais.

Em 2017, um membro da Primeira Nação Nipissing encontrou milhares de histórias com descrições racistas e estereotipadas de povos indígenas nos arquivos do jornal canadense Toronto Star.

É fundamental identificar buracos na cobertura ou experiências negativas que possam ter causado um problema entre repórteres e membros de uma comunidade, pois essas experiências podem impactar futuras reportagens e construção de relacionamentos.

Para ajudar a evitar isso, os jornalistas devem explorar os recursos da Associação de Jornalistas Indígenas Americanos (NAJA, em inglês), o Indigenous Reporting e a IJNet para ajudar a criar uma cobertura justa, precisa e eficaz das comunidades indígenas. Essas plataformas também fornecem recursos para encontrar especialistas, guias de estilo da Associated Press e dicas especializadas para gerar reportagens com base no conteúdo da história.

Indigenous Terminology for Reporting graphic image via Native American Journalists Association
Imagem da Terminologia indígena para Reportagens via Associação de Jornalistas Indígenas Americanos (NAJA, em inglês)

(2) Verifique seu ego, bem como suas fontes

"Só porque é novo para você, não significa que seja uma história nova", disse a editora-assistente da High Country News e aluna da SOJC, Anna Smith

Pode parecer uma história óbvia para uma matéria, mas muitas vezes resulta em promover estereótipos negativos, buracos de cobertura e desconfiança entre comunidades indígenas e jornalistas.

Os jornalistas precisam agir e fazer as coisas de maneira diferente, como procurar fontes indígenas para preencher as lacunas de cobertura. Os indígenas representavam apenas 0,6% das pessoas retratadas em matérias nos 20 principais sites de notícias da internet por tráfego, conforme discutido neste Relatório Nieman.

O relatório também aborda como os editores costumam hesitar em encomendar aos repórteres histórias focadas nas comunidades indígenas por medo de retratar narrativas sobre pobreza, doenças ou alcoolismo. Os jornalistas devem se aprofundar e analisar os verdadeiros problemas e injustiças que essas comunidades estão enfrentando, não apenas as narrativas assumidas.

Tristan Ahtone, editor-associado de assuntos indígenas do High Country News, presidente da NAJA e membro da Tribo Kiowa, adverte sobre a criação de narrativas predeterminadas para matérias. Só porque um repórter acha que conhece a história, não significa que está certo.

"Às vezes, alguém lhe diz que há algo melhor e você precisa ouvir", disse ele.

Como em qualquer matéria, jornalistas que cobrem comunidades indígenas devem verificar suas fontes quanto à legitimidade. Certificar-se de que um especialista citado é realmente da comunidade e não está promovendo informações imprecisas é sem dúvida ainda mais importante neste espaço.

(3) Faça uma auto-avaliação e peça ajuda

Cobrir comunidades indígenas exige muito trabalho e discernimento cuidadoso. Embora muitos jornalistas possam se sentir confiantes de que são objetivos em suas reportagens e cuidadosos em respeitar as fontes, é importante identificar preconceitos implícitos que você nem imagina ter.

À medida que os jornalistas escolhem fontes, pesquisam e discutem histórias com seus colegas, podem ser influenciados por preconceitos explícitos e implícitos, de acordo com um estudo recente no Nieman Reports.

Reconhecer técnicas de reportagem potencialmente prejudiciais — como a maneira como os jornalistas tomam notas, observam eventos culturais ou conversam com fontes — e redefinir essas rotinas de reportagem em práticas mais respeitosas pode ajudar todos os jornalistas a fazerem seu trabalho melhor. Ao fazer isso, os jornalistas precisam esquecer o que pensam que sabem e ouvir ativamente — e observar — suas fontes.

Os jornalistas também devem considerar entrar em contato com fontes e outros membros das comunidades indígenas para pedir ajuda para garantir a precisão de seu trabalho.

(4) Invista mais tempo do que você pensa que precisa

Os prazos pressionam os jornalistas a obter informações rapidamente. No entanto, é importante ser flexível e alocar mais tempo para entrevistas, especialmente com comunidades pouco reportadas. Os jornalistas precisam reservar um tempo para se conectar com suas fontes e entender questões que geralmente são complexas.

"Venha nos conhecer", disse Rebecca Tallent, membro da Nação Cherokee e professora emérita da Universidade do Idaho. "Não basta cair de paraquedas em uma tribo para fazer uma matéria e se mandar de lá."

A repórter da KLCC Melorie Begay também observou que os povos indígenas podem ter uma compreensão e um conceito diferentes de tempo. Compreender e respeitar isso é uma das coisas mais importantes na construção de relacionamentos com fontes das comunidades indígenas.

"São pessoas que nunca tiveram a oportunidade de falar sobre suas vidas", disse Begay. "Aproveite o tempo para ouvir."

(5) Aprenda com seus colegas

Não importa quantas pesquisas ou reportagens anteriores um jornalista não indígena tenha realizado sobre comunidades indígenas, sempre há uma chance de errar.

Uma maneira de evitar isso é aprender com jornalistas indígenas. Begay recomendou seguir repórteres indígenas nas mídias sociais.

"Leia o trabalho deles e acompanhe os comentários", disse ela. “Eles comentam sobre histórias ruins ou erradas. É uma boa maneira de verificar se você está cometendo esses erros nas suas reportagens."

Graham Lee Brewer fixes a misrepresentational story headline. Image via Twitter
Graham Lee Brewer, membro da Nação Cherokee, do conselho da NAJA e editor colaborador da editoria de assuntos tribais do High Country News, corrige uma manchete deturpada da história. Imagem via Twitter

(6) Reconheça a diversidade

Os jornalistas devem identificar especificamente as nações tribais pelos seus nomes, em vez de usar termos gerais como "indígena". Cada nação é diferente, e os jornalistas precisam apreciar as diferenças entre as comunidades indígenas.

Tallent disse que é incrivelmente importante usar os nomes das pessoas entrevistadas e perguntar como gostariam de ser mencionados na matéria. Fazer isso é simples mas importante, e ela argumenta que ajudará a humanizar pessoas e nações.

"Não somos crianças, mascotes, místicos ou pessoas históricas", disse Tallent. "Somos pessoas reais aqui e literalmente no seu quintal."

(7) Construa relacionamentos com as comunidades indígenas

Os jornalistas precisam estar atentos ao ambiente e respeitar os protocolos culturais que cada comunidade individual pode ter.

As organizações de mídia têm seu próprio papel a desempenhar, especialmente nas comunidades locais. Em vez de depender somente dos recursos de organizações nacionais como a NAJA, elas podem alcançar as comunidades indígenas que cobrem regularmente e trabalhar com elas para desenvolver um conjunto de diretrizes e protocolos de reportagem para cada tribo e nação.

"Fomos enganados e maltratados por gerações", disse Tallent. “Não espere que recebamos você de braços abertos. Você precisa fazer um trabalho ativo."

Os jornalistas estão lá para reportar sobre e para essas comunidades  — e não para mostrar aos outros como elas vivem, disseram Ahtone e Smith.

"Elas querem saber que você não vai se apressar para fazer a matéria e criar um retrato rápido", disse o repórter da KLCC e membro da tribo Nez Perce, Brian Bull, enfatizando que o acesso a essas comunidades começa com respeito.

Como jornalistas, é importante reconhecer que as comunidades indígenas não são apenas grupos de pessoas a serem cobertas como se fossem exibições. Ao incluir essas comunidades na cobertura, é importante reconhecer que elas fazem parte do público, e as reportagens dos jornalistas também devem interessá-las.

 

Bingo Card graphic identifying reliance on tropes or stereotypes in reporting
 Imagem do Cartão de Bingo identificando a dependência de tropos e estereótipos em reportagens via Associação de Jornalistas Indígenas Americanos 

Imagem principal sob licença CC no Unsplash via Etienne Boulanger.

Destiny Alvarez é uma jornalista baseada em Portland, Oregon. Ela fez mestrado em jornalismo na Faculdade de Jornalismo e Comunicação da Universidade de Oregon, concluído em 2019, e graduação em jornalismo pela Universidade de Idaho em 2017. Alvarez foi editora-chefe de 2019 da publicação Flux Magazine da SOJC. Trabalho como estagiário de Demystifying Media em 2019 e estagiário do Programa de Excelência em Jornalismo Charles Snowden de 2019 para The Register-Guard em Eugene, Oregon. She is a happy plant mom, journalist and coffee enthusiast.

Este artigo foi escrito com a ajuda de Damian Radcliffe, Professor de Jornalismo Carolyn S. Chambers e Professor de Prática da Universidade de Oregon. Ele também é bolsista do Tow Center for Digital Journalism na Universidade de Columbia, pesquisador honorário da Escola de Jornalismo, Estudos de Mídia e Cultura da Universidade de Cardiff e membro da Sociedade Real de Incentivo às Artes, Manufaturas e Comércio.