6 desafios das redes sociais para jornalistas em 2020

Mar 10, 2020 em Redes sociais
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De acordo com uma nova pesquisa da We Are Social e Hootsuite, há 3,8 bilhões de usuários de redes sociais em todo o mundo.

“Quase 60% da população mundial já está online”, disse Simon Kemp, analista-chefe do DataReportal (que realizou a pesquisa), “As últimas tendências sugerem que mais da metade da população total do mundo estará usando as redes sociais em meados deste ano."

Com esse tipo de alcance, o uso das redes sociais é essencial para a maioria dos jornalistas, tanto em termos de coleta e distribuição de histórias. É um espaço em rápido movimento, de modo que os jornalistas precisam estar atentos para os desafios e oportunidades que esse espaço oferece.

Abaixo estão seis questões e considerações emergentes para jornalistas em 2020.

[Leia mais: Como WhatsApp pode colaborar com jornalistas para combater desinformação]

(1) Desinformação

Um desafio fundamental para os usuários de mídia social é que informações erradas e desinformação normalmente parecem exatamente o mesmo que as notícias reais. Como resultado, à primeira vista, pode ser muito difícil para jornalistas e não jornalistas discernir fatos de ficção.

Como resultado, todos precisamos “pensar antes de tuitar”, verificar a procedência do material que estamos compartilhando ou usando em nosso trabalho e estar cientes das mais recentes técnicas usadas para espalhar desinformações, teorias da conspiração e agendas partidárias.

Para abordar o problema, essas 11 dicas da On The Media da National Public Radio também são um ponto de partida útil. Para se aprofundar mais, recomendo os materiais de treinamento e os boletins produzidos pela First Draft, uma organização sem fins lucrativos global especializada em desinformação e outras tendências da mídia. Esses são recursos valiosos com os quais todos os jornalistas devem estar familiarizados.

(2) Armamentização das mídias sociais

A disseminação de informações erradas e desinformação pode ser acidental, por exemplo, quando as pessoas compartilham histórias de sites satíricos como The Onion, mas supõem que são verdadeiras.

Quem pode culpá-los? Às vezes a verdade é mais estranha que a ficção. Lembra das histórias do ano passado sobre o presidente Trump querer comprar a Groenlândia? Quem poderia imaginar isso!

No entanto, compartilhar essas informações nem sempre é um acidente. Também vemos a armamentização das mídias sociais por agentes estatais e oportunistas com a intenção de influenciar o que vemos e nossa visão do mundo ao nosso redor. Impulsionado por motivos financeiros e ideológicos, esse tipo de atividade online só aumentará.

Isso significa que os consumidores e produtores de notícias precisam ter mais conhecimento de mídia do que nunca.

Como jornalistas, precisamos poder interrogar fontes de maneiras novas e mais sofisticadas. Esses requisitos só aumentam à medida que deep fakes e outras técnicas de manipulação se tornam mais avançadas. 

(3) Preocupações com a privacidade 

Jornalistas e qualquer pessoa que usa redes sociais precisa estar ciente das possíveis repercussões do que dizem online. Esses espaços não são seguros e as ações realizadas neles têm consequências.

No Egito e nos Emirados Árabes Unidos, por exemplo, pessoas foram presas por postagens online e mensagens do WhatsApp.

E não é apenas o que você diz online, você também pode ser impactado por associação.

No ano passado, um estudante de primeiro ano da Harvard, Ismail Ajjawi, palestino do Líbano, inicialmente teve a entrada negada nos Estados Unidos, supostamente devido a postagens de mídia social de seus amigos do Facebook que expressavam oposição política aos EUA. Ajjawai acabou sendo permitido no país e conseguiu começar suas aulas.

 

[Leia mais: 5 dicas para jornalistas no Facebook]

(4) A mudança para redes fechadas

Devido a essas tendências, estamos testemunhando um aumento da autocensura, à medida que os consumidores ficam cada vez mais cautelosos com o que dizem e publicam online.

Nos EUA, uma pesquisa do Pew Research Center destacou o desejo de evitar conversas contenciosas ou expressar opiniões que possam ser minoritárias.

Em outros lugares, as conversas estão mudando para redes fechadas, como grupos do WhatsApp e canais do Telegram, devido à sua criptografia e à percepção de que esses canais podem ignorar a espionagem digital. Em reconhecimento a isso, o Facebook anunciou um aumento da privacidade no ano passado.

Um dos principais desafios para os jornalistas é que as conversas mudam da internet aberta para os espaços fechados. Conseguir acessar essas discussões não é fácil e, se você obtém acesso, você se identifica como jornalista? Isso distorce a conversa e, em alguns casos, cria riscos para sua segurança pessoal? O trabalho do ex-editor de mídia social da BBC Mark Frankel oferece um bom ponto de partida para essas questões e considerações.

(5) Bolhas de filtro

As plataformas tecnológicas são projetadas para nos mostrar mais do que acham que gostamos, e não do que precisamos.

Essencialmente, o seu feed de notícias no Twitter, Facebook ou Instagram é uma máquina de recomendação gigante. Essas recomendações são baseadas no que a plataforma pensa que você quer, o que dificulta que sejam apresentados pontos de vista diferentes dos seus.

Para os jornalistas, isso significa que precisamos nos lembrar de que as discussões online não são representativas das populações em geral e que são profundamente filtradas pelos algoritmos da plataforma e pelo que as pessoas escolhem postar.

Precisamos trabalhar duro para nos expor a diferentes pontos de vista. As redes sociais são uma ferramenta para nos ajudar em nosso trabalho, mas os métodos tradicionais de identificação e construção de relacionamentos com as fontes permanecem igualmente pertinentes.

Isso é especialmente verdadeiro em países e regiões onde muitas vozes e experiências não são ouvidas nas mídias sociais, ou porque as pessoas não têm acesso à tecnologia ou porque não entendem como usá-la.

As mídias sociais são um complemento às ferramentas e técnicas que os jornalistas sempre usaram, mas não as substituem.

(6) Onde investir seu tempo e energia

"Os usuários de internet do mundo gastarão 1,25 bilhão de anos online acumulados em 2020", disse Simon Kemp, "com mais de um terço desse tempo gasto usando as mídias sociais".

Um desafio final para jornalistas e organizações de mídia é entender onde o público está gastando esse tempo — e as implicações disso.

O usuário médio da internet tinha uma média de 8,5 contas de mídia social, de acordo com dados da GlobalWebIndex em 2018, um aumento comparado com as 4,8 contas de mídia social de 2014. No entanto, a maneira como os usuários dividem o tempo entre essas plataformas varia. Embora o Facebook seja o líder geral do mercado, o tempo gasto em diferentes redes muda segundo demografia e país.

Além disso, como cada plataforma tem suas próprias características, as estratégias de mídia social que funcionam para uma plataforma não funcionam necessariamente para outra.

Como resultado, mergulhar nos dados do DataReportal, GlobalWebIndexDigital News Report e outras fontes é vital para entender as tendências locais e suas implicações.

Em uma redação pressionada pelo tempo, você não pode estar em todo lugar online, portanto, ao lado das tendências mais amplas descritas neste artigo, é essencial para o seu sucesso nas mídias sociais determinar onde está o seu público-alvo e o que querem fazer de seu tempo em uma determinada plataforma.


Damian Radcliffe é professor de jornalismo na Universidade de Oregon, bolsista do Centro Tow Center para Jornalismo Digital na Universidade Columbia, pesquisador honorário da Faculdade de Jornalismo, Estudos de Mídia e Cultura da Universidade Cardiff e bolsista do Sociedade Real para o Incentivo às Artes, Manufaturas e Comércio (RSA).

Imagem principal sob licença CC no Unsplash via Sherise 


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Damian Radcliffe

Damian Radcliffe é professor de jornalismo na Universidade de Oregon, bolsista do Tow Center for Digital Journalism na Universidade Columbia, pesquisador honorário da Escola de Jornalismo da Universidade de Cardiff e membro da Royal Society for the Encouragement of Arts, Manufactures and Commerce (RSA).