Para combater a disseminação da desinformação através da mídia, os jornalistas e seus aliados precisam entender as táticas dos trolls que promovem essas mentiras deliberadas, disse Joan Donovan, líder do projeto sobre manipulação de mídia do Data & Society.
"Este é um movimento hostil tentando desestabilizar toda a instituição do jornalismo", disse Donovan durante um painel sobre "Confiança: Ferramentas para melhorar o fluxo de informações precisas" no Simpósio Internacional sobre Jornalismo Online, em Austin, Texas, no dia 13 de abril. Jennifer Preston, vice-presidente de jornalismo da Fundação John S. e James L. Knight, liderou o painel.
O potencial de espalhar desinformação é especialmente verdadeiro quando notícias urgentes estão sendo divulgadas, e separar a verdade das mentiras é muito difícil para os jornalistas que tentam publicar um furo a toda velocidade, disse Donovan.
Sua pesquisa encontrou quatro táticas de "hacking de fontes" usadas pelos trolls para enganar a mídia e publicar informações falsas.
1. Imitar a narrativa: Os trolls tentam "levar os jornalistas a contar uma história fácil", muitas vezes uma que ressoa com gente que tem crenças racistas, sexistas, anti-imigrantes e homofóbicas. No momento em que a notícia chega à mídia, os jornalistas não conhecem a fonte maliciosa. Donovan citou o falso boato de que o atirador do Parkland High School, Nikolas Cruz, era membro de uma milícia da supremacia branca. Poucas horas após ser identificado como o atirador, o boato começou no "buraco de troll conhecido como 4chan", um site popular da extrema direita. De lá, se espalhou para a mídia antes de ser desmentido, ela disse.
2. Disfarçar uma falsificação como um vazamento: Trolls circulam documentos realistas para espalhar desinformação sobre seus inimigos. Donovan citou dois exemplos. Um documento falso no Twitter alegou que a congressista americana Maxine Waters solicitou uma doação de campanha de US$1 milhão de um banco, prometendo trazer milhares de refugiados para os Estados Unidos que se tornariam clientes do banco. Waters e outros tentaram remover o documento falso das redes sociais, mas ele continua voltando. Outro documento falso alegou que o candidato presidencial francês Emmanuel Macron tinha uma conta bancária escondida no Caribe.
3. Spamming de notícias: Nessa tática, os trolls coordenam postagens de mídia social para interferir em algoritmos de notícias de última hora e têm como alvo jornalistas específicos com mensagens privadas. Depois de muitos massacres recentes, por exemplo, os trolls destacaram o nome Sam Hyde como o perpetrador, às vezes fazendo com que a mídia noticiasse esse nome. (Na verdade, ele é um comediante.) Depois do massacre na igreja no Texas no ano passado, o congressista do Texas identificou falsamente Hyde como o atirador durante uma entrevista ao vivo na CNN. Isso aconteceu tantas vezes que "Sam Hyde é o atirador" se tornou um meme.
4. Apropriação de palavras-chave: Essa tática envolve o registro de contas de mídia social para imitar afiliados a movimentos progressistas. A conta de mídia social "Blacktivist" tornou-se uma das mais seguidas por pessoas que se identificaram com o Black Lives Matter, disse Donovan. Mas é falsa e está ligada a russos que tentaram inflamar as tensões raciais durante as eleições de 2016. Outra página do Facebook foi criada por um homem branco australiano que vendeu camisetas "Black Lives Matter" como um esquema para ganhar dinheiro, disse ela. Pode ser muito difícil para as pessoas nas mídias sociais dizer se esses grupos são legítimos ou não.
Um dos objetivos dos trolls é conseguir que organizações de mídia respeitáveis identifiquem suas notícias falsas, disse Donovan. "Eles pegam essas notícias e as compilam e chamam de troféus", disse ela.
Donovan exortou os jornalistas não apenas a se familiarizarem com essas técnicas, mas também a se unirem para "criar uma rede para examinar essa informação conforme ela está acontecendo".
"Eu convido as mentes brilhantes nesta sala hoje para ajudar a resolver esses problemas", acrescentou após outra apresentação no ISOJ, que focou em táticas para combater a desinformação.
Imagem sob licença CC no Unsplash via Charles Deluvio