Em meio às incertezas acentuadas durante a pandemia, jovens jornalistas tentam começar na profissão depois de se graduarem de forma remota e muitas vezes sem sequer terem estagiado.
Só na capital paulista, há pelo menos 14 universidades que oferecem um curso de jornalismo. Para se destacar e conseguir um bom trabalho, seja dentro ou fora da redação, a palavra “trainee” no currículo pesa muito. Mas, antes de se candidatar é necessário entender como de fato funciona esse tipo de programa e se vale para seu atual contexto e construção de carreira.
Tive o privilégio de participar de quatro programas de trainees — inclusive um no exterior; três deles, encontrei aqui na IJNet. E digo: traz prestígio, dá networking e é uma experiência pouco vivida em relação a centenas. Mesmo assim, vale a pena? Vou apresentar alguns pontos para levar em consideração.
Analise seu contexto atual
É importante analisar sua atual situação financeira e social. Alguns jovens jornalistas já conseguem ser efetivados em seus trabalhos e para fazer um programa de trainee às vezes é necessário pedir dispensa. Mas há quem continue trabalhando. Alguns colegas trabalham durante o programa de trainee: alguns mudam de horário, outros fazem ao mesmo tempo. É muito puxado e desgastante. E seu desempenho vai ser aquém do que você realmente poderia realizar.
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Sair do trabalho é uma opção que a grande maioria faz. Mas é algo incerto. Geralmente, não há garantia de que o trainee será contratado — tampouco se será efetivado após o período de um ano de contrato. Mesmo mudando os processos seletivos para valorizar a diversidade, há uma elitização de quem pode desempenhar melhor ou até mesmo se dar ao luxo de não trabalhar durante a extensão do curso.
Sou a pessoa certa?
Essa é uma análise fundamental que você deve fazer antes de se candidatar. Veja a linha editorial do veículo e as principais coberturas, além de buscar o que mais estão investindo, inovando e apostando para que possa ser também uma porta de entrada para você. Em cada etapa da seleção,os avaliadores analisam como você pode se encaixar na redação e até mesmo em projetos que estão sendo desenvolvidos. Tenha em mente que eles buscam alguém que acrescente um valor para a redação e que traga criatividade — e melhor, entenda como o jornalismo funciona.
Então é fundamental ter bons projetos ou estudos desenvolvidos durante ou após a graduação. Não são todos que têm o privilégio de estagiar numa redação, então crie um portfólio diferente da maioria. Participe de redes, faça extensões pontuais que possam te ajudar a ser a pessoa ideal para o veículo e para o mercado.
Aproveite o período e construa pontes
Ser trainee amplia as chances para jovens jornalistas entrarem numa grande redação, principalmente para quem é do interior e vem às capitais — onde estão os maiores veículos— para trabalhar. O jornalismo é uma profissão muito fechada. Ser trainee é uma das melhores maneiras de furar a bolha.
Mesmo que de forma remota, o contato com jornalistas de outros estados, universidades e experiências é muito rico. E é diferente de encontros acadêmicos, porque além de se conhecerem, os trainees frequentemente desenvolvem projetos juntos.
Outro ponto fundamental é poder conversar com pessoas que são veteranas na profissão — algo que é muito rico e que proporciona uma troca ganha-ganha. Com jornalistas mais experientes, aprendemos de tudo: desde de lidar com pautas até o dia a dia na redação.
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E por fim, o que todos mais almejam é ter seu trabalho publicado num grande veículo. É uma vitrine enorme ter seu nome num meio de notícias. Isso pode abrir não só portas dentro da redação, mas fora dela também, já que outros veículos miram os “focas”. Mesmo que você não seja contratado quando o programa acaba, os colegas que você conheceu durante o período — o famoso “networking” — pode abrir portas em outros lugares e resultar em trabalhos para você. E você também pode indicar trabalhos para colegas. Criar conexões é uma das melhores vantagens de um programa de trainee. Fiz diversos projetos com colegas de outros programas nos quais participei, seja dentro ou fora da redação. Aproveite o máximo.
Se não conseguir entrar em um programa, que não seja o fim do mundo. Os candidatos geralmente podem concorrer a esses tipos de programa até dois ou três anos após se graduarem. Há outras chances de passar. Não deixe de tentar, pois cada postulação é um aprendizado para fazer melhor no futuro. Não passei de primeira em alguns, mas através dos meus erros fui melhorando e alcançando meus objetivos.
Evandro Almeida Jr é jornalista móvel. Ele atua como freelancer e é integrante da Red LATAM de Jóvenes Periodistas do Distintas Latitudes. Ele foi trainee do Jornada Galápagos de Jornalismo (2019), Google News Initiative YouTube na TV Band (19-20), Red Latam de Jóvenes Periodistas (19-20) e 10° Curso Estado de São Paulo de Jornalismo Econômico (20-21).
Imagem principal do 10º Curso Estado de Jornalismo Econômico. Crédito: redes sociais do Estadão. Segunda foto cortesia de Almeida Jr.