As próximas eleições parlamentares conseguirão ser abertas e justas em Mianmar, um país emergindo de um regime militar e estagnação econômica?
Essa é a pergunta que está sendo feita pelo povo de Mianmar e observadores internacionais similares. Eles estão esperando que a mídia, saindo de décadas de censura do governo, irá manter os cidadãos informados, reportando minuciosamente e de forma justa, sem parcialidades e pressão de funcionários do governo. E esperam que os jornalistas vão reportar não só sobre os partidos políticos e candidatos, mas também sobre questões-chave para os eleitores e a transparência eleitoral.
Uma recente oficina do ICFJ sobre reportagem eleitoral em Yangon, Mianmar, apresentou os muitos aspectos da cobertura justa. Aqui fizemos um resumo dessas dicas. As dicas se aplicam não só para as eleições de Mianmar, mas também a reportagens sobre eleição em toda parte:
Pense no cidadão. Cobrir uma eleição é muito mais do que reportagens sobre os candidatos e os seus problemas. As questões dos cidadãos são o que mais importa. Descubra as principais preocupações dos eleitores, em seguida, envie suas perguntas para os partidos políticos responderem. O inverso não deve acontecer com apenas as questões dos candidatos sendo apresentadas. Os cidadãos são os jogadores cruciais nas eleições: eles votam.
Conheça as leis eleitorais. As leis são o roteiro de como os partidos podem se formar, quem pode concorrer a um cargo, que limites compõem os distritos eleitorais e como violações eleitorais serão tratadas.
Siga o dinheiro. Acompanhe como a eleição está sendo financiada, de onde os candidatos e partidos estão recebendo o seu apoio e se as leis eleitorais referentes ao partido e ao financiamento do candidato estão sendo seguidas.
Estude os procedimentos de registro de eleitores. Saiba como as listas de eleitores registrados estão sendo elaboradas e se os eleitores que ficaram de fora podem entrar na lista com a identificação adequada. Compare às normas internacionais. Investigue se houve restrições por causa do gênero, raça, família ou religião de um cidadão, e se é necessário pagar uma taxa para se registrar.
Verifique os fatos. Em campanhas, candidatos e partidos citam todos os tipos de estatísticas. Não acredite em nada; verifique cada afirmação, por exemplo, como se promessas de um candidato hoje correspondem ao que ele ou ela disse no passado. Desenvolva uma lista de contatos de especialistas confiáveis e instituições - nacionais e internacionais - desde o início para que verificar afirmações dos partidos e candidatos.
Trate as pesquisas com cautela. Pesquisas de opinião pública são uma base da cobertura da campanha, mas os repórteres devem fazer muitas perguntas ao reportar pesquisas, incluindo: quem encomendou e pagou pela pesquisa, que grupo de pesquisa fez a enquete, quando e como ela foi conduzida, quantos e quem foram pesquisados, o que foi perguntado e qual é a margem de erro da pesquisa. Repórteres também devem questionar o valor noticioso e perguntar se todas as respostas estão incluídas e se os novos resultados são diferentes de outras pesquisas.
Examine a cédula: É simples de entender? Os eleitores que não sabem ler têm cédulas com logotipos do partido ou imagens do candidato para ajudá-los a votar? Mostre as cédulas dias ou mesmo semanas antes da eleição para que os eleitores se familiarizem com ela.
Fique alerta especialmente no dia da eleição: Fale com os cidadãos esperando para votar ou saindo dos postos de votação. Pergunte se eles foram pressionados a votar de uma determinada maneira. Pergunte se existem suficientes cédulas, urnas e funcionários para observar a votação e a contagem. Procure por caixas seladas de voto, urnas sem blindagem e pessoas com boletins de voto válidos impedidas de votar. Saiba como as cédulas estão sendo computadas e transportadas e se este processo está sendo monitorado por observadores eleitorais apartidários. Se as projeções de voto são feitas, pergunte por quem são feitas e como.
Comece cedo. Não espere até o período de campanha para planejar a cobertura eleitoral. Muitas pesquisas e reportagens podem ser feitas antes do período frenético de campanha. Analise e compare as plataformas dos partidos, comece os perfis de candidatos e pesquisas de opinião de questões-chave e planeje questionários sobre essas questões para levar aos candidatos. Crie um cronograma de reportagens eleitorais, planeje artigos e seções especiais, e decida quem vai cobrir o que e quem.
Saiba que você é crucial. A mídia tem um papel insubstituível no processo eleitoral. Os eleitores devem ter informação suficiente sobre os candidatos, partidos políticos e o processo de eleição para fazer escolhas informadas e responsáveis na cabine de votação. Eles recebem muito disso de vocês: jornalistas. Sempre seja equilibrado, imparcial e verdadeiro.
Marguerite Sullivan é a fundadora e ex-diretora sênior do Center for International Media Assistance. Ela treinou jornalistas em Mianmar sobre cobertura eleitoral em fevereiro de 2015, como parte de um programa do ICFJ.
Imagem sob licença CC no Flickr via Freedom House