Como os jornalistas conseguem identificar uma boa matéria? Quais são os sinals para distinguir fato de ficção? Como saber quando não se está na trilha certa? O jornalista Jaldeep Katwala oferece estas 10 dicas.
1: É interessante? Este é talvez o critério mais importante. Se não é interessante, por que contar? Sua matéria deve fazer o telespectador, ouvinte ou leitor parar o que está fazendo e querer contar a história para outra pessoa. Um bom teste é ver se um dos seus colegas pergunta "e daí?"e você não consegue responder esta pergunta. Nesse caso, pode não ser tão interessante quanto você pensava.
Se não é interessante, por que contar?
2: Você já tinha ouvido falar sobre a notícia antes? Se você consume notícias vorazmente, saberá se sua matéria é nova e original. Alguém na sua redação deve ter uma memória fantástica para lembrar todas as matérias já feitas. Se esta pessoa nunca ouviu falar sobre a notícia, provavelmente é nova.
Algumas matérias já foram circuladas algumas vezes.
3: Alguém quer abafar a notícia? Depois de você ter feito toda a pesquisa preparatória e entrevistas, se o entrevistado principal evitar atender seus telefonemas e responder suas perguntas, é provável que ele tenha algum receio em relação à matéria ou algo a esconder.
Se não respondem a seus telefonemas, podem estar escondendo uma história.
4: Quantas pessoas serão afetadas? Pode ser a melhor matéria do mundo e afetar somente uma pessoa. Isto não descartaria contar a história. Mas quanto mais pessoas são afetadas, maior será o interesse para sua audiência.
A matéria é de interesse para um número suficiente de pessoas?
5: É uma história difícil de contar? Uma boa regra geral, com base nas milhares de matérias que escrevi, é que quanto mais difícil uma história é de contar, melhor será a história. Não me pergunte por quê, mas se for uma história fácil é bem provável que outra pessoa já tenha tido essa ideia antes de você.
Se a história é difícil de contar provavelmente vale a pena ser contada.
6: A matéria faz sentido? Quanto mais incrível e mais distante da sua realidade é a história, mais provável será que a história simplesmente não seja verdadeira. Isso não significa que essas histórias não existam. Só que você deve estar extremamente seguro dos fatos antes de publicá-los ou transmití-los. Muitas vezes, as melhores histórias são a parte que falta de um quebra-cabeça- que dá sentido ao que já era conhecido antes.
Tem certeza que o que lhe foi contado é verdadeiro?
7: É provável que outras mídias sigam a sua matéria? Se é um artigo de jornalismo original e muito bom, seus concorrentes irão seguir a história com suas próprias abordagens. Se é um artigo de jornalismo excelente, governos e tomadores de decisão de interesse vão fazer alguma coisa. Lembra de Michael Buerk e a fome na Etiópia?
Matérias ótimas geram matérias de seguimento.
8: Haverá matérias relacionadas? Uma matéria muito boa vai ter pelo menos três histórias relacionadas para você dar seguimento. Você tem vantagem sobre seus concorrentes, assim deve antecipar onde a história vai mesmo antes de ser publicada ou divulgada. Não descanse sobre os louros. Mantenha o ritmo.
Fique atento a diferentes ângulos de uma matéria.
9: Algo mudará por causa da sua matéria? Se você contar a história, alguma coisa vai ser diferente? A vida de outras pessoas vai melhorar ou piorar? Se melhorar, isso é um bom sinal. Se a vida de muitas pessoas tende a piorar, pense novamente sobre a publicação ou difusão da matéria.
Considere qual será o impacto da sua matéria.
10: Você ainda vai poder falar com seus contatos? Depois de contar a história, você vai ainda poder olhar para os seus contatos nos olhos e eles continuarão a falar com você? Uma matéria controversa bem e justamente contada lhe traz respeito. Uma história controversa mal e injustamente contada vai tornar mais difícil para você trabalhar como jornalista.
Pode não valer a pena perder contatos de valor por uma matéria, por outro lado...
Jaldeep Katwala é jornalista desde 1985. Ele trabalhou para a BBC, Channel 4 News e Radio Netherlands. Também ensinou jornalismo e dirigiu diversos projetos de desenvolvimento de mídia e cursos de formação em todo o mundo.
Este artigo foi publicado originalmente no Media Helping Media.