Mais de dois meses depois dos primeiros casos da gripe H1N1 no México, a gripe suína continua sendo notícia de primeira página -- agora predominando no hemisfério sul, onde muitos países estão apenas começando sua temporada de gripe de inverno.
No dia 1º de julho, o jornal argentino El Clarín liderou com duas matérias sobre a gripe, a que chamam de "Gripe A".
O Chile, a Argentina e Austrália são os países mais afetados no hemisfério sul. Até 1º de julho, foram registrados 4.190 casos na Austrália e sete mortes, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Na Argentina, foram registrados 1.587 casos e 27 mortes.
Apesar da gripe não estar sendo tão letal quanto no hemisfério norte, como inicialmente foi previsto, falta ver como afetará o sul global.
Segundo Joe Neel, editor adjunto e correspondente para a Rádio Pública Nacional (NPR em inglês) nos Estados Unidos, as circunstâncias estão criadas para que a gripe "cause estragos" e no hemisfério sul, especialmente nas áreas com pouca infraestrutura de saúde e alto número de pessoas com sistemas imunológicos fracos.
Na África, a gripe suína "será a notícia dos próximos três meses", disse Neel no painel sobre a cobertura da epidemia, realizadado em 29 de junho em Washington D.C.
Embora o frenesí dos meios de comunicação em torno da gripe suína tenha diminuído substancialmente no hemisfério norte, há uma alta probabilidade de que volte novamente aos jornais neste outono, segundo Neel.
"Parece que (o vírus H1N1) está seguindo o caminho das estações climáticas", disse Andrew Pekosz da faculdade de Saúde da Johns Hopkins University, no painel.
O vírus H1N1 também pode mutar-se com outros vírus no hemisfério sul, e os funcionários de saúde adverterm sobre o possível desenvolvimento de uma virulência pior quando regressar ao norte.
Neste momento, "ainda restam muitos pontos de interrogação", disse Pekosz; este vírus "se esquivou de várias de regras que pensávamos que eram inquebráveis".
Com tantas incógnitas, a cobertura da gripe é um desafio. Especialmente, nos primeiros dias do surto no México, os jornalistas lutaram com a falta de informação, disse Neel, mas com a responsabilidade de proteger a saúde pública.
"Queríamos que nossos ouvintes tivessem uma ideia melhor da situação", disse Neel, "mas nós não [podíamos entrar] no México".
As fotos nos jornais dos Estados Unidos mostraram uma Cidade do México deserta e com uma população nervosa, cobrindo-se com máscaras.
A notícia "se desenvolveu com tanta rapidez", disse Rob Stein, jornalista de saúde do Washington Post, "o que foi incrivelmente raro" de cobrir.
Nos cinco dias do primeiro caso registrado no México em 22 de abril, a OMS aumentou o alerta de pandemia do nível 2 a 4. O nível 4 se caracteriza pela trasmissão de humano a humano, com um potencial de "surto a nível da comunidade", segundo a OMS. Dois dias depois, a OMS subiu ao nível 5, um sinal de que o estado pandêmico era "iminente".
"Nós passamos de zero a 60", disse Stein, referindo-se ao Post e outros meios noticiosos que começaram a cobrir o tema com urgência, mas "quando os dados chegaram, (a situação) não foi tão ruim como achavam e (a cobertura) diminuiu".
Como resultado, os meios de comunicação americanos foram criticados pela cobertura exagerada. Howardz Kurtz, crítico de mídias do Washington Post chamou "o tom e o volume [da cobertura] fora da proporção do que se sabia sobre o surto". A "saturação da cobertura se tornou excessiva, e inclusive asssustadora", disse, "e aí (a matéria) se apagou".
Em meados de junho, a OMS aumentou o alerta ao nível 6, epidemia generalizada, com base na distribuição geográfica do vírus.
Contudo, há quem diga que a organização está enganada, pois a taxa de fatalidade foi menos que metade de um por cento dos casos infectados reportados.
Em retrospectiva, a cobertura pode ter ido longe demais, tanto para Neel como para Stein, mas "não tínhamos outra opção que reportar", disse Neel.
"Se os meios de comunicação exageraram, isto acabou sendo bom para a saúde pública", acrescentou Neel, já que motivou o povo a tomar medidas preventivas, como a compra de desinfetantes de mão e ficar em casa em vez de ir à escola ou ao trabalho".
Porque os vírus da gripe são táo imprevisíveis "na cobertura de uma epidemia, a regra geral é sempre repassar seus planos", disse Jeffrey Levi, diretor executivo do Trust for America's Health. "o planejamento se baseia em pressupostos", que podem mudar em qualquer momento em caso de influenza.
Em uma declaração em 11 de junho, a diretora geral da OMS, Margaret Chan, reconheceu a realidade do desconhecido: "O vírus dita as regras e este, como todos os vírus de influenza, pode mudar as regras, quando bem quer, em qualquer momento".
Jornalistas de todas as redações devem se preparar o melhor possível, com educação interna sobre ciência e saúde, recomendaram os painelistas.
Neel disse que sua redação teve um treinamento interno para que repórteres de várias seções estejam bem informados. Se a matéria aumenta de importância, "vocês vão ter repórteres de outras seções além de ciência e saúde" para cobrir isto, disse.
Uma variedade de recursos e informação existe na Internet e nas redes sociales, onde muitas das notícias do vírus têm circulado. No dia 1º de julho, a OMS contava com 11.918 seguidores em sua página de Twitter.
Para cobrir a influenza ou gripe, Neel recomenda usar uma linguagem simples, para que "o povo entenda". A NPR decidiu manter o nome de "gripe suína", em vez de H1N1, nome dado posteriormente à gripe, disse.
"Quanto mais técnico você é, mais gente você perde", Neel disse.
Dicas e recursos para a cobertura da gripe suína (em espanhol).
- Organização Mundial da Saúde
- Centros para o Controle e Prevenção de Doenças
- Pandemicflu.gov
- El Universal.com
- BBC
- Nieman Report (em inglês)
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