As redações não refletem a diversidade racial do Brasil e a disparidade aumenta quando observamos quem ocupa os cargos mais altos. De acordo com levantamento do Reuters Institute For Journalism (RIFJ), nenhum negro está em posição de chefia no jornalismo brasileiro.
Poucos negros na base, nenhum no topo da pirâmide. Como isto impacta o trabalho jornalístico? Foi essa questão que norteou a pesquisa que Luiz Teixeira, jornalista e fellow do RIFJ. O Fórum Pamela Howard para Cobertura de Crises Globais do ICFJ falou com ele durante webinar para saber o que ele descobriu com o estudo. (O webinar na íntegra você encontra aqui.)
O questionamento de Teixeira surgiu da sua vivência em redações, onde percebeu a falta de diversidade, e também do trabalho de conclusão de curso “A solidão dos jornalistas negros nas redações”, feito pela jornalista Yasmin Santos.
Ao longo de 2022, Teixeira divulgou um formulário sobre diversidade racial nas redações. 60 pessoas responderam, das quais 32 ele conseguiu entrevistar, tanto brancos quanto não-brancos, de quatro regiões do Brasil, de repórteres a editores, de jornalistas da editoria de esporte à de política, com poucos ou muitos anos de jornalismo.
Mesmo com trajetórias distintas, os entrevistados relataram problemas parecidos. Teixeira ressalta que são questões que não se restringem ao espaço de trabalho, mas aparecem também nele, e que atrapalham o trabalho do jornalista não branco.
“Frustração” foi um termo recorrente nos relatos. O sentimento aparece pela falta de representatividade em cargos de liderança. Os entrevistados não brancos disseram ver como impossível chegar aos cargos de liderança. Outra percepção foi a “falta de pertencimento”, quando a pessoa não branca se sente solitária e percebe os brancos com tratamentos diferentes em relação a ela.
Estas questões trazem impactos à saúde mental, visto que ansiedade e depressão foram frequentemente relatadas, inclusive um caso de tentativa de suicídio. As respostas impactaram o próprio Teixeira. Ele conta que não estava preparado para os gatilhos ao ouvir os problemas que as pessoas lhe relatavam.
Ao longo do webinar, Teixeira apresentou algumas das situações que ele viu ou que lhe disseram durante a coleta de respostas para a pesquisa. Uma é a reprodução do estereótipo racista de que negros têm naturalmente mais força física. Outra é o tokenismo, quando o jornalista não branco ganha destaque para mostrar que existe negros na redação ou para escrever sobre racismo, mesmo que a área de cobertura seja outra. "Você foi contratado para escrever sobre economia, mas no 20 de novembro é designado para falar sobre racismo, mesmo que você não queira”.
Diante desse cenário, o que fazer? Teixeira avalia que, para mudá-lo, somente a ação de jornalistas não é suficiente, pois jornalistas em geral não são as melhores pessoas para liderar esse tipo de iniciativa. Ela teria que ser mais robusta e vir da área de Relações Humanas das empresas, mesmo que com consultores externos.
Ele foi atrás de veículos como Folha de S.Paulo, Estado de S. Paulo e O Globo para saber o que eles estão fazendo para aumentar a presença de negros nas redações. Segundo ele, a Folha citou a criação da editoria de diversidade, do comitê interno e do programa de trainee para negros, além do viés favorável à contratação de minorias. O Estado respondeu que o foco é aumentar a diversidade por meio dos programas de trainee. Já O Globo não respondeu. “São iniciativas que não alcançam o alto escalão”, diz.
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