O fenômeno Big Brother no Brasil e o impacto na cobertura jornalística

13 mars 2022 dans Diversos
Big Brother Brasil 2022

Já são 22 edições de um programa de entretenimento que mexe com a população brasileira. O Big Brother  foi, até agora, a maior audiência da TV aberta no Brasil em 2022. Criado em 1999, na Holanda, o programa já teve diferentes versões em mais de 75 países. Só os Estados Unidos superam o Brasil em termos de quantidade de edições, com 23. 

Os números provam como o brasileiro é apaixonado pelo formato. Em 2021, cerca de 40 milhões de pessoas assistiram a atração diariamente, equivalente a um quinto da população brasileira. Em 2020, um recorde de votação no chamado paredão entrou para o Guinness Book pela maior quantidade de votos do público recebidos por um programa de televisão: foram mais de 1,5 bilhões de interações.  

Um fenômeno de audiência como este repercute diretamente como fonte de discussão, pautas, novas editorias e até emprego no âmbito jornalístico. É fato que, gostando ou não de Big Brother, o entretenimento se tornou um poderoso gerador de notícias. Resta discutir sobre o valor destas notícias. Conversamos com especialistas na área de televisão  para entender como o programa impacta em seus trabalhos. 

Critérios de Publicação

Daniel Castro, do Notícias da TV, um dos maiores portais do segmento no Brasil, conta que o veículo escalou quatro repórteres para cobrir o Big Brother deste ano. “Fazemos uma cobertura mais seletiva por causa dos nossos limites de braços, mas também por uma posição editorial. Eu me recuso a transformar em notícia qualquer tipo de movimentação que aconteça na Casa”, diz.

 

Para Castro, o foco das notícias deve ser a partir do jogo, das intrigas, das revelações e do comportamento dos participantes. Ele também acredita que atualmente o BBB é o protagonista da TV brasileira, principalmente devido a um vácuo na produção de novas novelas causado pela Covid-19. “O Big Brother engaja muitas torcidas, mexe com as pessoas, hoje mobiliza mais que novelas. E a novela sempre foi o grande produto cultural brasileiro”, diz.

Luiz Prisco, editor de entretenimento do site Metrópoles, compara a cobertura do BBB com a cobertura de eleições, em termos de movimentação. “Só que a diferença é que BBB tem todo ano”, afirma. Ele conta que a equipe acaba se dividindo e acompanhando a rotina da casa constantemente, tanto pela televisão, quanto pelas redes sociais. Uma novidade nessas últimas edições é o engajamento via grupos de whatsapp e telegram, que são também um verdadeiro termômetro do que o público está pensando.

“Quanto ao que vira notícia, por exemplo, há o ineditismo, a noção de impacto. Quando você tem um crime, por exemplo, de racismo, ou de homofobia [dentro da casa], isso vira notícia pelo lado mais policialesco, vamos dizer assim”, aponta Prisco. Fabrício Falcheti, editor-chefe do site Na Telinha, diz que eles também repercutem o que ganha força nas redes sociais e, de uns anos para cá, o que os administradores dos perfis dos participantes postam.

Com tanto tempo no ar, BBB também acompanhou e refletiu muitas mudanças na sociedade brasileira. A jornalista Maura Martins, doutora em Comunicação e editora do portal Escotilha, analisa que hoje o programa é assistido mais na ‘segunda tela’. Isto é, não faz sentido apenas na TV, pois muito do debate, dos comentários, dos memes, estão nas redes sociais, em uma espécie de participação coletiva. “Creio que o BBB sempre refletiu questões sociais, e foi mudando também à medida que a sociedade mudou. Por exemplo, se a gente assistir aos primeiros BBBs, vai provavelmente se espantar de coisas que aconteciam e ninguém criticava”, acredita.

Competição que gera lucros

O BBB tem um impacto forte na audiência e, desse modo, no financeiro, sendo uma fonte econômica importante para os veículos. Prisco diz que o aumento de acesso no período do programa varia entre 30 e 40%. Já Castro revela que o site recebe em torno de 30% de incremento em sua audiência no período, e nos dias que antecedem o “paredão” há picos de acesso. 

Notícias infundadas também acabam ganhando espaço como conteúdo que se produz sobre o programa, alertam os profissionais. “Essa cobertura é tão selvagem, que inventam notícias. Saiu uma que alguém pegou Covid no confinamento e três participantes estariam com a doença", conta Castro. " Isso até repercutiu em Brasília, com uma deputada bolsonarista se manifestando. É de uma irresponsabilidade e apuração zero”. Prisco afirma que é preciso ter atenção redobrada na checagem porque há muita informação que é modificada pelas próprias torcidas, a fim de conseguirem mais público. 

Para Martins, é difícil avaliar a cobertura do BBB pelos critérios jornalísticos tradicionalmente usados. “Tem alguma proximidade com a ficção: nós discutimos durante 3 meses o que acontece com aquelas pessoas, mas sabemos que há coisas mais importantes no mundo", diz ela. "Por isso, acredito que pensar numa cobertura mais aprofundada, além da que já ocorre, talvez seja aumentar desnecessariamente a cobertura de um programa de entretenimento que já ocupa bastante espaço na mídia”, conclui.


Foto: Divulgação Big Brother Brasil 2022