Como é a desinformação sobre a guerra nas redes sociais brasileiras

نوشته Jade Drummond
Mar 18, 2022 در Reportagem de crise
Bandeira ucraniana e pessoa em frente

Em situações extremas como uma guerra é preciso ter um cuidado extra na checagem de informações circulando nas redes sociais, pois tem muita gente tentando manipular as narrativas sobre os acontecimentos. Para entender como a guerra entre a Rússia e a Ucrânia impactou o trabalho dos fact checkers no Brasil, o Fórum Pamela Howard para Cobertura de Crises Globais convidou Chico Marés, coordenador de jornalismo da Agência Lupa, para o webinar “Desinformação sobre a guerra nas redes sociais”.

Marés compartilhou suas impressões sobre o aumento no volume da desinformação a partir do início da guerra, as características das informações falsas que circulam no Brasil e algumas dicas de checagem. Assista o webinar completo neste link e leia os principais destaques da conversa abaixo:
 

  • A guerra gerou um pico de conteúdo desinformativo muito viral: Marés diz nunca ter visto um volume tão grande de informação falsa circulando nas redes como nos três primeiros dias de conflito entre a Rússia e a Ucrânia. A desinformação não parou nos dias seguintes, mas a quantidade vista atualmente não se compara ao início da guerra.
  • Guerra é algo muito imagético: entre os conteúdos virais desinformativos existem muitas fotos e vídeos tirados de contexto, como explosões e outras imagens de impacto, que são usadas em busca de engajamento e visibilidade nas redes. O uso de imagens bombásticas se tornou uma estratégia comum para promover certos perfis que não têm responsabilidade com a informação verdadeira.
     
  • As narrativas mais virais no Brasil são pró-Ucrânia: por aqui, o sentimento maior é contra a invasão da Rússia na Ucrânia, então os emissores de desinformação conseguem ganhar mais popularidade nas redes seguindo essa linha. Existe também muito conteúdo falso pró-Rússia, mas mais focado em nichos e não na mesma intensidade. 
  • São muitos os emissores de desinformação: principalmente quando se fala dos conteúdos que são feitos especificamente para bombar nas redes. Marés já observou ações coordenadas em busca de engajamento, com vários perfis publicando exatamente a mesma imagem e legenda sobre a guerra.

 

  • No Brasil, as ações coordenadas nem sempre focam em narrativas: o comportamento de construir narrativas que privilegiam um lado ou outro da guerra tem sido mais comum no exterior, em países impactados mais diretamente pelo conflito. No Brasil, é mais forte o compromisso com a busca da popularidade, independente da narrativa. 

 

  • Na cobertura da guerra é importante sempre desconfiar: ao receber fotos e vídeos supostamente do conflito, é necessário procurar a origem das imagens e confirmar a veracidade. Todo cuidado é pouco, pois em situações extremas como uma guerra existe uma disputa forte de narrativas. Existem boas ferramentas de busca reversa de fotos, inclusive no próprio Google. Se você pesquisar por uma imagem e encontrar resultados de 2019, já dá para saber que a foto não é da guerra atual. 

 

  • Formas de checar a veracidade dos vídeos: que são um dos formatos mais difíceis de pesquisar a origem. Uma ferramenta gratuita é o InVID, que congela vários frames do vídeo e busca informações em outras ferramentas para encontrar detalhes do arquivo, como a data de gravação ou o local. Outra forma é ir atrás da geolocalização ou tentar identificar a língua falada ali.

 

  • Deep fake é uma promessa que se descumpre: desde 2015 existem deep fakes muito impressionantes, mas não aconteceram casos famosos de uso malicioso da tecnologia no Brasil. Hoje, a maioria do conteúdo do tipo que circula nas redes é em forma de humor ou de alerta sobre a ferramenta. Para Marés, fala-se muito sobre o perigo das deep fakes e, talvez por isso, não ocorra o uso maléfico dessa tecnologia. 

 

  • O que domina é a descontextualização e a invenção de narrativa: o problema atual não são informações falsas criadas com tecnologias como o deep fake. Hoje tem mais impacto no Brasil as fake news consideradas muito mal feitas, mas que partem de uma estratégia altamente complexa de desinformação. 

 

  • O jornalismo não consegue viralizar tanto quanto a desinformação: Marés levanta duas questões que ajudam a explicar esse cenário. A desinformação tem um público-alvo específico e sempre atinge diretamente naquilo que a pessoa quer ouvir para validar um sentimento. Como os fatos não necessariamente refletem a visão do outro, o jornalismo não vai seguir esse tipo de estratégia. O outro ponto é que autores de desinformação mantém redes coordenadas para bombar de forma inautêntica o conteúdo disseminado, prática que também não se encaixa na ética jornalística.

 

  • Redes sociais favorecem o jogo da desinformação: os próprios algoritmos das principais redes favorecem esse mecanismo de ações coordenadas de engajamento. Então, o jornalismo depende de algoritmos que privilegiem a visibilidade de quem está fazendo um trabalho sério. As empresas responsáveis por essas redes já entenderam o problema e dizem tentar minimizar os danos, mas o debate sobre as medidas a serem tomadas segue delicado. 

 

  • O futuro da checagem inclui análises de contexto: a tendência é que sejam feitas análises mais amplas sobre a desinformação, com contexto e perspectiva. A checagem de fatos específicos vai continuar, para entender o que está circulando de verdadeiro ou falso, mas é cada vez mais necessário compreender também as grandes narrativas e como a desinformação se encaixa nelas. 

Foto: Daniele Franchi no Unsplash


مقالات بیشتری نوشته