CruzaGrafos: a ferramenta para mapear negócios e conexões de candidatos às eleições

Sep 26, 2024 en Inovação da mídia
Cruzagrafos

A Semana da Democracia do ICFJ (Centro Internacional para Jornalistas) trouxe uma iniciativa sobre as eleições brasileiras. Para mapear as conexões dos candidatos às eleições de 2024, o Fórum apresentou uma sessão de treinamento do CruzaGrafos, ferramenta desenvolvida pela Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) com o Brasil.IO. Com isso, hipóteses de enriquecimento ilícito, de associações suspeitas de pessoas e empresas com questões judiciais e conflitos de interesses, podem ser apuradas. Quem explica a ferramenta é Lucas Maia, jornalista de dados do projeto e sócio e diretor da Agência Tatu. O vídeo completo e o resumo da conversa com Daniel Dieb está a seguir.

 

Mapa de relacionamentos 

A ferramenta, que tem apoio do Earth Journalism Network, constrói um mapa de relacionamentos em segundos, um facilitador para o jornalismo investigativo. “O CruzaGrafos tem dezenas de milhões de dados de todas as empresas do país atualizados até julho (e nos próximos dias receberá uma atualização) e de todos os candidatos de 2014 até 2022, além de informações de infração ambiental e dívida ativa com a União”, destaca Maia.

Dados patrimoniais

A ferramenta pode disponibilizar a receita das empresas com quadro de sócios e administradores, além das candidaturas e bens declarados que servem para avaliar o crescimento patrimonial do investigado. “Enquanto algumas figuras públicas se protegem e tentam esconder as relações, outras se sentem tão seguras no meio político, com o seu poder e capacidade de articulação, que não se incomodam em deixar as conexões aparentes”, afirma o jornalista.

Maia explica que é possível importar os dados para um software gratuito chamado Gephi, que permite salvar o gráfico na conexão relevante para a pauta, permitindo uma melhor visualização do conteúdo e edições na imagem, como apagar algum item ou desenhar em cima do mapa.

Ligações suspeitas 

A ferramenta ajudou a apurar, por exemplo,  que o frigorífico do governador Antonio Denarium abasteceu contratos públicos em Roraima em área que deveria ser de preservação da Amazônia e que três empresas que disputaram a licitação de R$ 19 milhões, na qual a prefeitura de São Paulo comprou armadilhas contra o mosquito da dengue, por R$ 400,00 a unidade, têm ligação com o empresário Marco Bertussi, próximo a Ricardo Nunes.

Como clicar no CruzaGrafos

Maia sugere algumas abordagens para o melhor desempenho da ferramenta. No campo “buscar empresa/pessoa”, na parte superior da tela, o jornalista deve colocar o nome do candidato/investigado e checar o CPF para ter certeza de que não se trata de um homônimo. Ao clicar em cada nome que aparece no gráfico com as conexões, é possível perceber nas informações que aparecem ao lado, em “dados complementares”, se a empresa tem dívida ativa e infração ambiental. O ícone em azul, “expandir todos os objetos” representado pelo símbolo (+), apresenta as empresas das quais os sócios do investigado são sócios ou tem proximidade. Em “exportar objetos”, abaixo do (+), existe a função de baixar todas as informações e analisar as conexões numa planilha. E no campo “busque o menor caminho”, também ao lado do gráfico, é possível colocar nomes possivelmente envolvidos com o candidato.

Pontapé numa investigação

Maia explica que o uso da ferramenta é o pontapé inicial na investigação, encurtando processos, mas que apurar é fundamental para passar uma informação qualificada. Alternativas contribuem na pesquisa, como acessar o portal da transparência da cidade e analisar as despesas e contratos de fornecedores com agentes públicos, checar o CNPJ e, se necessário, ir aos cartórios e juntas comerciais para observar mudanças no contrato social.  “Converse com quem sabe das relações, como políticos e jornalistas mais experientes que possam te dar caminhos. Busque pela informação publicada no veículo original,” pondera.

Outras fontes de apuração

Além disso, a apuração pode contar com outras plataformas, como a Publique-se, que traz os links para páginas com processos judiciais que citam políticos e a lista de devedores da dívida ativa da União ou até de candidatos e empresas que não pagaram o FGTS dos seus funcionários. Tem ainda a newsletter Investigadora, que mostra algumas soluções que o jornalismo investigativo encontra.

Outro destaque de Maia é saber a hora de parar uma investigação. “Histórias extraordinárias têm grande chance de não bater e não dar em nada. Às vezes queremos tanto uma matéria, mas ela não existe. É importante ter cuidado e não sujar reputações sem apurar”, afirma.


Atenção: Para acessar o CruzaGrafos entre neste link e use o login aulanegocioscand@gmail.com mais a senha 0uTjYhS58K . A consulta está disponível gratuitamente até o primeiro turno das eleições. Após essa data, o acesso será liberado para associados à Abraji.

Foto: Logomarca do projeto retirado do website.