O impacto dos influenciadores digitais no jornalismo

Apr 27, 2025 发表在 Jornalismo digital
Influencer

Com a projeção das redes sociais, o cenário da comunicação, marketing e entretenimento mudou drasticamente. Para além de conectar pessoas, as big techs alavancam influenciadores, profissão em alta que traz cada vez mais engajamento. Nessa perspectiva, a circulação da notícia feita pelo jornalismo tradicional sofreu os impactos dessa mudança e os veículos noticiosos passaram a disputar espaço na produção e disseminação da informação com mídias informais.

Critérios políticos

Pensando em aproveitar essa visibilidade, a Casa Branca, nos EUA, abriu suas portas para influenciadores digitais, blogueiros e podcasters nas coletivas de imprensa. Foram mais de 7.400 pedidos de credenciamento em 24 horas. O jornalista e pesquisador CarlosCastilho vê essa abertura como uma campanha contra a grande imprensa e seu domínio sobre o sistema de informação. “O credenciamento de influenciadores foi feito com critérios políticos, mais do que informativos. A preocupação principal não foi a informação pública, mas a consolidação da narrativa política da equipe de Trump”, afirma. 

A presidenta da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ)Samirade Castro alerta que a aproximação com criadores de conteúdo faz parte de uma tendência global de moldar narrativas e alcançar eleitores de forma mais direta.“Isso também pode gerar questionamentos sobre a transparência e a pluralidade do acesso à informação”, destaca.

Aproveitando as lacunas da grande mídia

A cobertura das Olimpíadas de Paris, por exemplo, feita por meios alternativos à grande imprensa é destaque de Clara Becker, diretora-executiva do Redes Cordiais. “Influenciadores preenchem lacunas deixadas pela grande mídia ao cobrir nichos específicos e trazer transparência ao processo de produção de conteúdo”, pontua Becker, que traz boas iniciativas, como a CazéTV.

“O sucesso da CazéTV em engajar espectadores e ampliar a visibilidade da delegação brasileira reforça o potencial dos influenciadores como agentes estratégicos de comunicação institucional", ressalta Becker. "No entanto, a experiência também evidenciou desafios, como a necessidade de preparo e compromisso com a credibilidade da informação”.

Outro exemplo que aproximou a audiência nas últimas Olimpíadas foi o projeto “Paris é Brasa”. “Uma parceria entre a Play9, o COB e o YouTube, que mostrou como influenciadores podem inovar em eventos esportivos, com nomes como Igão e Mítico, do Podpah”, lembra Becker.

Menos opinião, mais responsabilidade

Criadores de conteúdo e jornalistas podem contribuir com suas expertises para um produto mais enriquecedor. “O jornalismo pode tranquilamente ser menos formal do que o praticado atualmente, enquanto os influenciadores podem dar seu recado sem exagerar no passionalismo e no ‘opinionismo’”, destaca Castilho.

O crescimento da produção de conteúdo por mídias informais remaneja, segundo o jornalista, o espaço ocupado pelo jornalismo, que tende a focar menos em hard news e mais na checagem. “O fato é que os influenciadores sempre serão mais numerosos. Assim, podem estar em mais lugares do que os repórteres. Logo, terão mais chances de testemunhar fatos e eventos noticiáveis”.

Mas o compromisso com a checagem dos fatos precisa balizar o trabalho. “Segundo pesquisa da Unesco, 62% dos criadores de conteúdo não verificam a precisão do que compartilham, o que pode comprometer a credibilidade das informações divulgadas”, lamenta Becker.

Informações cruciais 

Os veículos midiáticos vêm se aproximando dos criadores de conteúdo. Embora os influenciadores tragam frescor, humor e dialoguem com o público jovem, Castro ressalta que os princípios básicos do jornalismo como o compromisso ético, a perspectiva histórica e a apuração dos fatos, nem sempre são observados. Essas foram algumas críticas recebidas na cobertura realizada pela rede Globo no desfile das escolas de samba de 2024. Sobre o assunto, a FENAJ divulgou uma nota que, ao abrir mão de repórteres, a emissora deixou os espectadores sem informações cruciais.

No Carnaval de 2025, a emissora voltou com a equipe de jornalistas e especialistas. Castro afirma que a repercussão negativa trouxe a necessidade de correção de rumo sobre o papel do jornalismo em grandes eventos.

Influenciadores que fazem a diferença no Carnaval

Duas produções se destacaram na cobertura recente do carnaval do Brasil - o maior evento popular do país -  pelo cuidado com a apuração, sem perder a descontração que aproxima a audiência. Uma delas é o canal Samba é Paixão, idealizado pelo influenciador e engenheiro Fábio Moraes, que cobre o evento há 18 anos.

Moraes ressalta os desafios iniciais de produção e equipamento e da barreira em conquistar a confiança do público e dos profissionais do Carnaval quando o cenário digital ainda era incipiente nesse universo. Com a parceria de algumas marcas, ele conta com uma equipe de comunicação, produção de vídeos e edição. Entre Instagram e YouTube, o canal possui mais de 260.000 inscritos.

De uma família de sambistas e apaixonado pelo evento, Moraes ressalta a preocupação em produzir análises justas e imparciais e manter o contato com jornalistas especializados, que contribuem com informações. "O Carnaval é paixão, mas também é um grande espetáculo competitivo, e nossa responsabilidade é trazer análises técnicas e bem fundamentadas, sem perder a leveza e o entretenimento”.

Outro influenciador especializado no carnaval é Gui Alves, do Mais Carnaval, canal que existe há 15 anos com aproximadamente 250.000 inscritos no Youtube e Instagram. Alves explica que percebeu uma demanda por esse conteúdo pela escassez de canais que cobrissem com exclusividade o evento. “O início foi muito difícil. Dominavam o assunto os sites e veículos mais tradicionais. Éramos vistos como menores. Aos poucos, fomos mostrando o nosso trabalho e, hoje, temos nosso lugar consolidado”, afirma. “Nessa nova era da comunicação, o influenciador se tornou um comunicador”, completa.

O canal tem uma equipe com quase 20 pessoas entre Rio de Janeiro e São Paulo que cobrem o carnaval das duas cidades. “Grande parte dos profissionais são jornalistas ou da área da comunicação. As diretrizes sempre são dadas por essas pessoas”. Há ainda a preocupação em produzir um conteúdo de fácil entendimento mas que explique os critérios do julgamento das escolas. “É preciso entender o regulamento e estudar muito para entregar um bom trabalho”.


Foto: Canva