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Como é a vida de um correspondente de guerra: experiência na Ucrânia e em Gaza

作者 Marina Souza
Apr 12, 2024 发表在 Reportagem de crise
Correspondente

Como são os bastidores e o que é necessário para realizar a cobertura de guerra? O Fórum Pamela Howard para crises globais convidou Rodrigo Lopes, colunista e comentarista no Grupo RBS, pelo qual cobriu as guerras no Iraque, Líbano, Líbia e, recentemente, Ucrânia e Israel. Você confere a conversa com o jornalista Daniel Dieb no vídeo abaixo e o resumo na sequência.

 

O planejamento

Lopes afirma que enviar um único repórter tem sido cada vez mais uma realidade para reduzir custos. Construir parcerias com colegas brasileiros facilita a entrada no país, a logística e amplia a rede de proteção. Em zonas de crise é importante passar o mais despercebido possível. “Não levo grandes equipamentos, para não ser reconhecido. Na Ucrânia, não levei colete à prova de balas, capacete, nem máquina fotográfica. Tenho utilizado cada vez mais o smartphone”. Ele destaca 3 perspectivas importantes que o enviado especial tem que ter em vista:

- A visão geral: o correspondente deve equilibrar informação com análise das agências locais e internacionais de notícias.

- É importante trazer a realidade local e a apuração no front, conversando com refugiados e especialistas.

- Relatar a experiência pessoal como testemunha ocular da história enriquece a narrativa.

Dicas de cobertura

- É preciso explicar muito mais e não partir do pressuposto que o público domina o assunto, com linguagem simples para descomplicar temas.

- Um olhar de ET: “Às vezes, alguém de fora vê assuntos na sua cidade que você, como correspondente local, não percebe. Se um ET desembarcasse na sua cidade, o que chamaria a atenção dele?”

- Use referências locais para comparar temas internacionais e facilitar o entendimento do público.

- Comente sobre os bastidores. Traga tempero para a narrativa. “Não somos super-heróis. É importante compartilhar as experiências pessoais com o público”.

Persistência na Ucrânia

Lopes viajou sozinho para a Ucrânia no dia em que estourou a guerra, em 24 de fevereiro de 2022, e permaneceu no país até 07 de março, realizando cobertura para vários veículos. Foram 3 tentativas até conseguir entrar no país, sendo que em duas, as redes sociais intermediaram o contato com as fontes. Manter a calma e a paciência foram fundamentais porque, em crises, imprevistos acontecem a todo momento.

A terceira tentativa de entrar no país ocorreu pelo contato com uma ucraniana que ajudava brasileiros a sair do país. Lopes embarcou em um trem que ia para a Polônia com os refugiados e voltava para a Ucrânia. O combinado era encontrar a ucraniana na estação para atravessar a fronteira. “Mas a fonte furou porque o trem atrasou e houve o toque de recolher”.

Lopes narra momentos de medo. As luzes do vagão se apagaram e ainda havia o risco de ficar incomunicável. “Eu não sabia se teria sinal de celular ou lugar para dormir. Eu perdi a segurança, não sabia se conseguiria sair do país se precisasse. O chip da Polônia, ainda bem, funcionou na Ucrânia. As pessoas urinavam no chão, porque não tinha outro lugar, e as sirenes antiexplosivas tocavam a noite toda”.

O imprevisto rendeu uma matéria surpreendente. “O fato da fonte não ter conseguido me buscar virou uma das minhas melhores matérias. Uma madrugada na estação, que se transformou em um campo de refugiados”. A cobertura rendeu até um livro: “Trem pra Ucrânia”.

Lopes destaca que, com as redes sociais, é inevitável que a família não acompanhe a cobertura em tempo real. “Eu recebia mensagens da minha mãe pedindo para não entrar na Ucrânia, que seria perigoso". Para ele, o mais fácil é fazer a matéria. “Onde se olha, tem coisa acontecendo. O mais difícil é a questão psicológica, o deslocamento e a logística”, explica ele. “O meu medo maior era de não conseguir sair do país, ser sequestrado. Por isso, eu faço incursões de dois dias e saio da zona de guerra para mandar o material para a redação”.

A cobertura do conflito entre Israel e Hamas

Lopes conta que chegou três dias depois do início do conflito entre Israel e Hamas, iniciado em 7 de outubro de 2023.  “O espaço aéreo de Israel estava fechado. Eu viajei de Istambul, na Turquia, para Amã, na Jordânia, e entrei por terra, pela fronteira com o rio Jordão”.

O jornalista contratou um motorista para guiá-lo até um contato que o levou para a sua base, em Telavive. “A vida em Telavive era relativamente segura. Mas toda noite, umas 2 ou 3 vezes, tinha sirene antiaérea”, afirma. “Quando o Brasil estava acordando, eu já tinha trabalhado 6/7 horas pelo fuso horário, com muito material apurado”.

Lopes estava em Israel quando ainda se vivia o estupor do ataque do Hamas e que, durante os 20 dias que ficou no país, tentou entrar em Gaza, mas a operação terrestre levou mais tempo que o esperado. “Todo esse massacre de Israel diante da população Palestina em Gaza é desproporcional. Por outro lado, aqui no Brasil, a questão é tratada de forma polarizada e, às vezes, internalizamos um contexto que tem suas peculiaridades históricas e locais a serviço dos interesses da política nacional”, afirma. 

Segundo A CNN Brasil, pelo menos 94 jornalistas foram mortos no conflito entre Israel e Hamas. Lopes destaca o momento mais tenso da cobertura. “Eu estava acompanhando a saída dos últimos moradores numa escola, de Sderot (cidade israelense perto da Faixa de Gaza). Estava transmitindo as imagens dentro do carro e o Hamas lançou um foguete. Saí do carro correndo. O foguete foi abatido. Quando eu volto para o carro para sair do local, vem outro foguete”. Ainda bem que o segundo também foi abatido para Lopes continuar por aqui narrando histórias. 


Foto: Instagram Rodrigo Lopes