MapBiomas como recurso para reportagens ambientais

Автор Jade Drummond
Feb 7, 2022 в Jornalismo de dados
Gráfico sobre a questão ambiental no Brasil

A cobertura da crise climática envolve, entre outras coisas, o acompanhamento dos dados de mudança do território e uso da terra, como os focos de desmatamento, áreas de garimpo ilegal, mudanças na superfície hídrica, entre outros. Uma ferramenta pública utilizada por jornalistas e pesquisadores para esse tipo de monitoramento é o MapBiomas, citado no webinar realizado pelo Fórum Pamela Howard para Cobertura de Crises Globais sobre como cobrir meio ambiente e mineração.

Para entender melhor o que é o MapBiomas, quais dados sobre o território são disponibilizados e como utilizar os recursos na apuração, o mesmo Fórum organizou o webinar “MapBiomas como recurso para reportagens ambientais”. Os convidados foram Julia Shimbo, coordenadora científica do MapBiomas e pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), e Marcos Rosa, coordenador técnico do MapBiomas e responsável técnico pelo Atlas dos Remanescentes Florestais da SOS Mata Atlântica/INPE.

A conversa aconteceu em 3 de fevereiro e é possível assistir o webinar completo neste link. Leia os destaques abaixo. 

O que é o MapBiomas

O MapBiomas é uma rede de instituições (ONGs, empresas de tecnologia e universidades) criada por iniciativa do Observatório do Clima em 2015 para mapear as transformações do território brasileiro. A ideia surgiu pelo entendimento de que as mudanças de cobertura e uso da terra são as maiores fontes de emissão de gases de efeito estufa no Brasil. Assim, o projeto busca entender como acontecem e quais são os impactos dessas dinâmicas, seja na mudança de vegetação nativa para pastagem, agricultura, mineração ou até a conversão de áreas desmatadas para florestas plantadas.

Na prática, o MapBiomas constrói uma série histórica (1985 até hoje) de monitoramento do território, principalmente o brasileiro, com imagens de alta resolução e diversas análises por região, bioma e temas transversais. Todos dados, análises, gráficos e imagens são coletados e organizados de forma aberta e gratuita para serem utilizados por órgãos públicos nas tomadas de decisões e por jornalistas. 

Além do monitoramento do uso da terra no território brasileiro, o MapBiomas tem iniciativas focadas em alertas de desmatamento, mapeamento das superfícies de água, mapa de fogo com dados das queimadas, monitoramento da Covid-19 e alguns focos de monitoramento internacionais.
 

Quais dados estão disponíveis

A plataforma do MapBiomas organiza as informações em nove módulos diferentes: Cobertura e uso da terra e transições; Desmatamento; Vegetação secundária; Irrigação; Infraestrutura; Qualidade da pastagem; Cicatrizes de queimadas; Mineração; e Superfície de água. Todo ano, no final de agosto, o projeto lança uma nova coleção de mapas de cobertura e uso da terra no Brasil. No primeiro semestre, lançam também um relatório anual sobre os dados de desmatamento no país. 

Como o projeto cruza e reúne em uma única plataforma os dados de diversas instituições e órgãos públicos que monitoram o território, a quantidade de informações disponíveis é enorme. Por exemplo, ao explorar as áreas de desmatamento é possível acessar todos os dados públicos das propriedades, ou seja, autorizações ou embargos de desmatamento, quais são áreas protegidas, quais são propriedade privada, pública ou terra indígena, etc. Todas as informações, dados, estatísticas e imagens disponíveis na plataforma podem ser baixadas. 

Além da plataforma, junto com a coleção anual de mapas são divulgados documentos de destaque com diferentes recortes de análises por região e bioma. Os destaques podem ser acessados no site e utilizados livremente. Recentemente, o projeto passou a publicar também notas técnicas. Além disso,o MapBiomas se disponibiliza a ajudar a imprensa em análises específicas que não estejam disponíveis nos relatórios divulgados. 

Alguns exemplos de dados interessantes levantadas pelo projeto no último ano são:

  • Entre 1985 e 2020, apenas 1,6% da perda de vegetação nativa do Brasil aconteceu em terras indígenas, enquanto 68% aconteceu em áreas privadas;
  • Entre 1985 e 2020, 20% do território brasileiro queimou ao menos uma vez (1.672.142 km²);
  • Hoje, 9% da vegetação brasileira é secundária. Ou seja, já foi desmatada pelo menos uma vez e está em regeneração;
  • Em 2020, pela primeira vez desde o início da série histórica, a área de garimpo foi maior do que a de mineração industrial no Brasil;
  • Em 30 anos, foi perdido 15% da superfície de água no país. 

O que falta na cobertura jornalística ambiental

Ao final do webinar, os coordenadores do projeto compartilharam algumas sugestões de melhoria para a cobertura brasileira da crise ambiental, especialmente quando falamos de desmatamento ilegal. Para Marcos Rosa, é positivo que a imprensa tenha compreendido a gravidade do problema e esteja mais atuante na cobertura, mas ainda é preciso mudar o senso comum de que o desmatamento ilegal passa impune aos órgãos de controle. De acordo com Rosa, hoje ocorrem diversas ações, embargos e multas que fazem com que esse tipo de desmatamento não compense, mas nem toda a população entende isso. Para Julia Shimbo, um ponto de atenção na cobertura é manter o cuidado e atenção aos dados e informações técnicas, que às vezes podem ser mal interpretados.


Foto: Extraída do site MapBiomas