Venezuela Decoded é uma plataforma online para ajudar a dar sentido a relatos conflitantes sobre a agitação civil em andamento no país que tem inundado as redes sociais.
A ideia começou em fevereiro, quando três jornalistas venezuelanos que vivem no Vale do Silício, nos Estados Unidos, ficaram frustrados com a tentativa de descobrir o que realmente estava acontecendo em seu país natal.
Um protesto estudantil tinha culminado em violência e conflito entre forças do governo e da oposição. Com o governo bloqueando qualquer tentativa do jornalismo independente, o Twitter tornou-se o último canal independente de informação e todo mundo estava usando --o governo, funcionários da oposição, jornalistas e cidadãos. Tuites eram lançados a uma taxa de 1.000 por hora; relatos contraditórios apareciam nas telas dos telefones celulares. Quem poderia dar conta de tanta informação? Que tuites eram verdadeiros?
Maria Aviles, bolsista do Knight Stanford Journalism Fellowship 2013, perguntou se havia uma maneira mais fácil para organizar o fluxo caótico e contraditório de informações de seu país de origem. Ela entrou em contato com o atual bolsista Knight Stanford Martin Quiroga, um arquiteto de sistemas de computador originalmente da Bolívia, e Ana María Carrano, uma jornalista venezuelana, e também como o jornalista Douglas Gómez (marido de Carrano). Em seguida, os quatro se reuniram para pensar soluções e saíram com um conceito e plano iniciais. Ao longo de algumas semanas intensas, eles recrutaram alguns membros adicionais da equipe com as habilidades necessárias para construir e lançar o Venezuela Decoded.
Aviles, Carrano e Gómez reuniram listas de fontes confiáveis na Venezuela. Quiroga, Carrano e Aviles mapearam a estrutura digital. Eles encontraram ferramentas de código aberto para construir o site. Quiroga usou uma API (Interface de Programação de Aplicativos) do Twitter para criar uma linha do tempo personalizada de contas selecionadas do Twitter e o TimelineJS para construir uma linha de tempo dos acontecimentos.
A plataforma é um site de informação e curadoria que fornece resumos diários de eventos, uma linha do tempo, fotos e feeds do Twitter, em inglês e espanhol, de jornalistas, ativistas de direitos humanos e ONGs, bem como líderes do governo e da oposição. Os resumos de notícias são verificados com notícias recebidas e fontes confiáveis --do governo e de outros lugares- dos membros da equipe venezuelana.
A equipe do Venezuela Decoded tem grandes esperanças e ambições para o seu projeto.
"O que eu espero para o Venezuela Decoded é que seja um site de referência para a audiência internacional e a mídia sobre o conflito venezuelano, uma espécie de página de aterrissagem", disse Aviles. "Ao mesmo tempo, a ideia é criar uma metodologia (decodificação) que permite que os jornalistas criem sites de tópicos únicos sem gastar muito tempo, combinando crowdsourcing e ferramentas de fonte aberta com habilidades jornalísticas, uma mistura entre tecnologia e jornalismo. Acredito que podemos contribuir para alavancar o poder das redes sociais no jornalismo."
Carrano disse que eles não têm a intenção de se tornarem ativistas --além da informação e transparência.
"Percebemos que era necessário ouvir todas as partes do conflito, a fim de oferecer conhecimentos básicos e mais profundos sobre a crise da Venezuela", disse ela. "É por isso que decidimos incluir fontes não só de jornalistas, ONGs e ativistas de direitos humanos, mas também dos líderes da oposição e do governo diretamente relacionados a este conflito. Para acompanhar o desenvolvimento da crise, produzimos uma linha do tempo com os fatos verificados."
A equipe está trabalhando agora para melhorar o site e sua capacidade de expandir, disse Quiroga. "Queremos torná-lo mais dinâmico."
Um objetivo imediato é fazer o Venezuela Decoded visível no celular. Eles também planejam permitir buscas por palavras e datas, bem como voltar ao passado para incluir os tuites que levaram à crise. Uma seção de "Quem é Quem" com perfis de líderes do governo e da oposição também está na sua lista de atualizações.
Inspirado pela plataforma Syria Deeply, um projeto de mídia digital independente liderado por jornalistas e tecnólogos, Quiroga quer adicionar um mapa que oferece "algo mais do que pontos em que as coisas acontecem."
Este post é um resumo de um artigo publicado originalmente no site do John S. Knight Journalism Fellowships da Universidade Stanford. É publicado na IJNet com permissão.
O programa Knight Fellowships estimula a inovação jornalística, empreendedoria e liderança. Cada ano, 20 pessoas do mundo todo recebem recursos para avançar suas ideias para melhorar o jornalismo.
Imagem sob licença CC no Flickr via MARQUINAM