Da esquerda para a direita: Sharon Barang’a, Priyanka Vora e Martins Ifijeh.
O Centro Internacional para Jornalistas, em parceria com a Fundação do Fundo de Investimento para Crianças (CIFF, em inglês), selecionou três vencedores para o Concurso de Reportagem de Desenvolvimento da Primeira Infância de 2016. Martins Ifijeh, repórter da saúde para o jornal de ThisDay na Nigéria, pela melhor reportagem; Priyanka Vora, jornalista de saúde para o Scroll.in na Índia, por melhor uso dos dados; e Sharon Barang’a, repórter da NTV do Nation Media Group no Quênia, por melhores visuais.
Suas matérias examinaram o desenvolvimento infantil durante os primeiros anos de vida, particularmente os primeiros 1.000 dias de uma criança, em seus respectivos países. Cada uma de suas matérias demonstra como o cuidado infantil apropriado -- ou a falta dele -- pode impactar o resto da vida de uma criança. E cada matéria tenta gerar mudança informando o público.
Ifijeh, Vora e Barang'a compartilharam suas experiências, desafios enfrentados e conselhos para cobrir o desenvolvimento da primeira infância em um webinário do ICFJ. Aqui estão os pontos principais da discussão, segundo a IJNet:
Driblando a burocracia
Ao coletar dados para sua primeira matéria vencedora, que se concentrou na conexão entre desnutrição infantil e doenças em um dos estados mais pobres da Índia, Vora descobriu que era difícil acessar dados de saúde pública. Ela decidiu ir para a rua coletar dados de primeira mão, em vez de confiar em dados secundários.
"Naquele momento, [o governo local estava] em apuros porque muitas crianças estavam morrendo; todos os dias havia duas a três mortes acontecendo no hospital", explicou. "Em vez de se concentrar em números e olhar para sites, decidi bater perna e obter as [informações]. Havia uma história que eles não estavam contando o suficiente."
Devido à disparidade dos dados sobre questões de saúde pública de diferentes fontes, do nível local ao nível estadual, Vora disse que é importante para o jornalista sair na rua, coletar os dados e analisá-los -- e não confiar na análise de outros.
Desenvolvendo uma matéria eficaz
Ifijeh teve a ideia para sua matéria premiada após saber que 11 milhões de crianças nigerianas sofrem da desnutrição. Isso o levou a buscar os impactos socioeconômicos mais amplos da desnutrição em seu país, analisando dados publicamente disponíveis e analisando casos individuais de desnutrição.
"Se 11 milhões de crianças nigerianas estão sofrendo de desnutrição, definitivamente não há como a Nigéria ser um país desenvolvido, porque o estado nutricional de crianças menores de 5 anos também tem impactos sobre como a economia da sociedade será", ele disse. "Geralmente, se as crianças estão sofrendo de uma forma crônica de desnutrição que atrapalha o desenvolvimento, isso definitivamente tem um impacto sobre o desenvolvimento mental e psicológico."
Desde que foi publicada, a reportagem de Ifijeh e a coleta de dados mostraram que o número de crianças afetadas por vários problemas de saúde é muito maior do que os dados do governo sugerem.
"Você não consegue ter uma intervenção eficaz se não sabe a escala do problema", disse ele.
Mas a matéria também analisa o que pode ser alcançado através de uma intervenção precoce, focando em uma mãe cuja filha desnutrida de 14 meses de idade não podia sentar ou ficar de pé e tinha o tamanho de uma criança de três meses. A matéria finalmente mostra como a intervenção precoce com uma dieta especial ajudou a criança a evitar problemas de desenvolvimento.
Chamando a atenção para questões negligenciadas
Ao trabalharem em suas matérias, os três jornalistas descobriram que os problemas com os cuidados na primeira infância costumavam ser ignorados pelo governo.
Enquanto os governos divulgam dados sobre o desenvolvimento da infância, eles são mais propensos a minimizar números negativos que organizações internacionais como a UNICEF, explicou Barang'a. Uma de suas matérias vencedoras examina o papel de sonecas para ajudar crianças em idade pré-escolar a aprender e reter informações. Além disso, pode ser difícil encontrar fontes oficiais para comentar sobre uma matéria se a matéria não reflete positivamente sobre o governo.
"Não fique desanimado se um funcionário do governo se recusar a se entrevistado para sua matéria", disse Barang'a. Faça a reportagem de qualquer maneira. Deixe o público decidir como vê-la. Informe o público sobre os problemas e que você tentou abordar um funcionário que não fez nenhum comentário para que possam reagir e se motivar para uma mudança."
Para a próxima fase do Programa de Desenvolvimento da Primeira Infância, ICFJ e CIFF escolherão 10 bolsistas de Bangladesh, Brasil, Índia, Quênia, Nigéria e Tanzânia. Os bolsistas receberão treinamento, orientação e apoio financeiro para produzir matérias sobre nutrição e desenvolvimento da primeira infância. A IJNet publicará um post de oportunidade para a bolsa quando as candidaturas estiverem abertas.