Uma nova maneira do jornalismo chegar a passageiros do transporte urbano no Quênia

por Mandy de Waal
Oct 30, 2018 em Diversos

O colorido matatu (microônibus) para na rua Ngong em Nairobi, Quênia, despeja seus passageiros e engole um outro grupo de viajantes. Volta a andar, se juntando ao tráfico pesado que é algo comum da capital deste país leste-africano.

Graças à tecnologia do FlashCast, muitos passageiros que enfrentam um jornada longa para o trabalho ou para casa têm uma nova maneira de passar o tempo, e veículos de notícias e anunciantes têm uma nova maneira de engajá-los. O público pode obter notícias, jogar videogames, enviar mensages de texto e receber vales específicos de seu bairro, especiais e alertas comunitários mesmo nos celulares mais básicos.

FlashCast entrega informação hiperlocal em tempo real a passageiros que usam displays de LED com GPS habilitado. O sistema é alimentado por software móvel que envia informações de localização específica para o veículo. 

FlashCast foi vencedor do Desafio Africano de Inovação Jornalística (ANIC, em inglês) de 2012, que semeia inovação para melhorar a qualidade do jornalismo no continente. O estrategista de mídia Justin Arenstein lançou o concurso para a African Media Initiative como parte da sua Bolsa Knight do ICFJ. A John S. and James L. Knight Foundation é o parceiro fundador do concurso, que seguiu o modelo do Desafio Jornalístico Knight da fundação.

Uma nova maneira de engajar os leitores

Usando FlashCast, os viajantes podem comentar sobre as notícias através de mensagens SMS, que são alimentadas de volta para a tela móvel em tempo quase real. Isso permite uma conversa Twitter fluir em veículos. O sistema também alimenta os comentários de volta para os meios de comunicação, dando-lhes um novo meio para se conectar com os leitores.

FlashCast está atualmente em testes com o Radio Africa Group e The Star no Quênia para transmitir notícias através do sistema. "Nós estamos trabalhando com as mídias locais no Quênia e plugando diretamente em seus feeds de notícias em tempo real", disse Jeremy Gordon, cofundador do FlashCast./p>

"Os passageiros gostam porque estamos fornecendo informação que é relevante para eles", disse Gordon. "Sabemos disso porque os viajantes dizem aos operadores de trânsito que eles gostam, e tem havido pedidos crescentes ao longo dos últimos meses, e estamos vendendo mais unidades para operadores". FlashCast, lançado no ano passado, já chegou a quase 7,5 milhões de passageiros. 

Da ideia ao protótipo 

Gordon concebeu a ideia para FlashCast enquanto "pensava sobre o negócio da comunicação e tecnologia em geral, e como é caro para as empresas se comunicarem com o mercado no Quênia", disse à IJNet em uma entrevista. 

Enorme concorrência, custos de manutenção elevados dos veículos e o aumento do custo da gasolina significam que a empresa de microônibus tem uma margem de lucro baixa e depende de atrair um grande número de clientes. O inovador negócio de conteúdo do FlashCast dá aos proprietários de ônibus um novo fluxo de receita, mantendo os passageiros informados, entretidos e envolvidos. 

"Senti que havia uma oportunidade de usar a tecnologia em combinação com a indústria de transporte aqui, que também é muito interessante e exclusivamente queniana", disse Gordon. Antes do FlashCast, "era óbvio que apenas as principais marcas e empresas internacionais poderiam fazer qualquer tipo de marketing ou comunicação ou publicidade para um mercado de massa. A razão para isso é que é tão incrivelmente caro usar canais de mídia tradicionais, como outdoor, rádio e jornais em Nairobi." 

Ele começou fazendo hackers juntando pedaços de tecnologia para ver se poderia criar um protótipo para um produto de exibição que pudesse perturbar o mercado de publicidade em massa. "Eu coloquei um par de primeiros protótipos. Nos primeiros dias, sequer pensamos em veículos de transporte. Nós estávamos pensando em exposições ao ar livre que pudéssemos implantar em mercados abertos", disse ele. 

Então, em 2010, ele conheceu Caine Kamau, que se tornaria seu cofundador. Kamau "estava realmente interessado na tecnologia e entendeu o potencial da ideia", disse Gordon, que acredita que ter uma pessoa local como parceiro de negócios tem sido extremamente importante. "Caine tem conhecimento do mercado local como nairobiano nativo. Você não pode servir um mercado qualquer sem entender."

A dupla fundou FlashCast e continuou a desenvolver o produto em conjunto. "Depois de recorrermos ao hardware de vídeo LED do Shenzhen, na China, passamos um ano fazendo uma engenharia reversa completa desse hardware para funcionasse com o nosso software", explicou Gordon. "Nós também tivemos que criar e integrar o componente de localização ciente do hardware." Em 2012, FlashCast implantou seu primeiro protótipo em um ônibus de Nairobi.

Os dois apresentaram o protótipo a operadores de trânsito em Nairobi. “Precisávamos de uma empresa grande de ônibus em Nairobi para implantá-lo para ver o que os passageiros iam achar", disse Gordon. A empresa MOA Compliant, liderada por Simon Kimutai, um visionário do transporte no Quênia, entrou no projeto.

Kimutai foi um dos primeiros operadores de trânsito a introduzir WiFi e pagamentos sem dinheiro em sua operação. "Simon pode ver o potencial de tecnologias muito novas e emergentes antes que atinjam o mercado", disse Gordon. "Ele viu o potencial e nos deixou começar. Porque a MOA Compliant tem centenas de ônibus, temos mais alcance hoje do que poderíamos conseguir em termos de capacidade." 

Novos fluxos de receita para anunciantes e empresas de trânsito em um mercado em crescimento

Uma previsão do PwC de gastos com publicidade e consumidores em todo o Quênia estima que a despesa total de entretenimento e mídia no Quênia irá exceder US$3 bilhões em 2017. Isso é uma taxa de crescimento anual composta de 16,3 por cento entre 2013 e 2017, uma taxa que o PwC afirma ser "uma das taxas de crescimento mais rápidas do mundo."

Este crescimento significa que mais empresas precisam alcançar mais clientes. É aí que FlashCast entra. "Enquanto marcas maiores podem pagar os preços, as empresas menores e médias normalmente não podem usar a publicidade tradicional para comunicar ao mercado algo que estão fazendo que é novo, diferente ou inovador. Estas empresas têm que depender de outras formas de crescer ", explicou.

Além do mais, a proposição de valor para os proprietários de táxi é extremamente atraente e dá ao FlashCast alcance, sustentabilidade e longevidade. "Porque os nossos monitores são cientes da localização, temos um painel de website onde os operadores podem entrar e ver a localização de seus veículos, o que é útil para todos os tipos de gestão de frota", disse Gordon. 

Leitura relacionada (em inglês):

The technology modernizing Kenya's matatus on BBC.

Of Nairobi’s unique matatu culture and graffiti at Standard Media.

Mandy de Waal é uma jornalista com base na África do Sul. 

O conteúdo de inovação de mídia global relacionao aos projetos e parceiros das Bolsas Knight do ICFJ na IJNet é apoiado pela John S. and James L. Knight Foundation e editado por Jennifer Dorroh.

Foto: Ônibus em Nairobi por Xiaojun Deng com licença Creative Commons 

 
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