Quando o New York Times lançou sua matéria multimídia “Snow Fall” em dezembro de 2012, a Internet vislumbrou o futuro das narrativas online. "Snow Fall" combinou texto, fotos, vídeos e gráficos interativos como nunca antes para contar a história de esquiadores presos numa avalanche.
Mas foi muito trabalho e magia técnica para fazer a matéria (uma equipe gráfica e de design com 11 pessoas, um fotógrafo, três cinegrafistas e um pesquisador), levando alguns a declarar que este modelo não poderia ser um padrão viável e sustentável. “Coisas deste tipo vão ficar cada vez melhor e mais frequentes, esperamos", escreveu Derek Thompson da revista Atlantic. "Mas isso, em geral, não vai se tornar frequente."
Editores loucos para fazer o mesmo em 2012 precisavam, pelo menos, saber HTML, CSS e programas de design complexos como Photoshop ou InDesign para criar histórias visuais convincentes. Mas, desde "Snow Fall" ter mexido com o jornalismo online, uma série de novas ferramentas e aplicativos surgiram para ajudar os editores a criar esses interativos sem a necessidade de muito conhecimento técnico. Agora agências de notícias que procuram integrar facilmente multimídia em sua narrativa podem combinar texto, vídeo e fotos com alguns cliques apenas e muitas vezes a baixo (ou nenhum) custo.
A IJNet resolver testar três aplicativos de narrativas visuais: Shorthand, Storehouse e Steller. Estes applicativos são usados por jornalistas, organizações de notícias e freelancers em todo o mundo. Veja aqui nosso resumo:
Shorthand, atualmente em beta privado, é um aplicativo baseado online que permite ao usuário combinar texto, fotos e vídeos para criar matérias multimídia, do tipo do "Snow Fall", sem conhecimento de programação. A startup de Brisbane, na Austrália, foi fundada em março de 2013 e primeiro testou a ferramenta com o Guardian Austrália para o jogo Inglaterra vs. Austrália, uma matéria interativa de formato longo que traça a história da rivalidade esportiva entre os dois países. Desde então, Shorthand trabalhou com veículos proeminentes como a BBC, Guardian e ESPN.
Os usuários arrastam e soltam seções em lugares, criando layouts no estilo de revista com imagens em tela cheia. As matérias são integralmente responsivas e uma variedade de dispositivos. O sistem usa características de rolamento, como scrollmotion (para dispositivos móveis) e navegação de capítulo, para que o público tenha controle completo de sua experiência.
(Usuários avançados têm a opção de integrar Google Analytics, customizar letras, CSS e integração customizada.)
A BBC News usou Shorthand para fazer matérias como “Arms Wide Open", uma exploração visual da estátua do Cristo Redentor no Rio de Janeiro e “The Reykjavik Confessions”, sobre um assassinato em sete capítulos na Islândia. O Center for Public Integrity, uma ONG americana de jornalismo investigativo, usou Shorthand para sua reportagem “Big Oil, Bad Air” sobre extração de petróleo no sul do Texas.
Shorthand vai sair do beta privado nas próximas semanas. Também está trabalhando com um produto para o público.
Storehouse, um aplicativo gratuito disponível para iPad e iPhone, permite combinar texto, vídeo e fotos para criar matérias visuais “elegantes”. Foi lançado (para tablet) no começo do ano por Mark Kawano, ex-especialista em experiência de usuário da Apple.
No Storehouse, fotos e vídeos de histórias podem ser captados diretamente de dentro do aplicativo, ou carregados a partir das fotos de uma câmera, Dropbox, Instagram ou Flickr. Uma vez publicadas, as histórias podem ser compartilhadas na Web em um layout que funciona em qualquer dispositivo. A comunidade de criadores que usam o aplicativo abrange 217 países e territórios. Embora a maioria dos usuários sejam pessoas físicas, a ferramenta também está sendo usada por nomes como National Geographic, GQ Magazine (Alemanha) e RTE da Irlanda.
E O Courier Journal de Louisville, Kentucky, usou Storehouse para contar uma história fotográfica visualmente rica sobre o Kentucky Derby, chamada “Kentucky Derby Dream", além de outras.
Editores de fotos, fotógrafos e produtores de veículos tradicionais também estão usando Storehouse para compartilhar seu trabalho, como David Griffin, editor visual do Washington Post; James Clasper, produtor sênior da Associated Press; e Olivier Laurent, editor do TIME LightBox.
Storehouse tem planos para tornar sua ferramenta de criação disponível na Internet no começo de 2015.
Steller, um aplicativo gratuito de storytelling, permite criar matérias de fotos e vídeo com ênfase em design. Os usuários podem publicar grupos de imagens em formato "flipbook" com páginas folheáveis que podem incluir texto, legendas e vídeo. O aplicativo, desenvolvido por Mombo Labs, está atualmente disponível somente para Phone. Como Storehouse, Steller permite combinar fotos, vídeos e texto para criar uma experiência interativa. Steller foi desenvolvida para uma atrair um público amplo e facilitar a publicação de qualquer lugar.
“Esse imediatismo tem um potencial muito interessante para os jornalistas presentes na rua, no campo e no momento", Jay Wilder, um dos fundadores do Steller disse à IJNet.
Até o momento, a comunidade do Steller é composta por usuários sociais topicamente interessados, usuários comuns compartilhando experiências, bem como jornalistas inovadores que usam a ferramenta para exibir artigos de notícias, culturais e de interesse humano. Em julho, o cinegrafista Wojciech Treszczynski reportou do local da queda do avião da Malaysia Airlines em Donetsk, Ucrânia. Além da sua reportagem profissional para o CNN, ele converteu seus filmes do iPhone em uma matéria no Steller chamada MH17.
O aplicativo também foi usado por jornalistas como Glen Mulcahy da RTE, Nick Garnett da BBC e o jornalista freelance John Javellana.
Jessica Weiss é uma jornalista freelance com base em Bogotá, Colômbia.
Imagem principal sob licença CC no Flickr via SamsungTomorrow - imagens secundárias: capturas de tela dos aplicativos Shorthand, Storehouse e Steller