Já são oito anos desde que a Primavera Árabe mexeu com muitas partes do Oriente Médio. Na época, a mídia social foi identificada como um fator importante na agitação geopolítica observada em grande parte da região.
Em retrospecto, isso provavelmente foi exagerado. No entanto, as mídias sociais desempenharam um papel na conscientização desses protestos para um público global, e também ajudaram a provocar discussões sobre o papel que as mídias sociais podem desempenhar como um fator de mudança.
Eu venho abordando este tópico desde 2012 e, no início deste ano (com Payton Bruni, estudante da Universidade do Oregon), publiquei meu sétimo relatório anual sobre mídia social no Oriente Médio.
Aqui estão cinco maneiras que descobrimos que as mídias sociais no Oriente Médio diferem de outros mercados como a América do Norte e a Europa.
(1) Os jovens ainda estão usando o Facebook
Em contraste com o movimento #deleteFacebook nos Estados Unidos, assim como uma estagnação mais ampla em muitos mercados ocidentais, o uso do Facebook não apenas continua crescendo no Oriente Médio, mas jovens árabes estão usando mais do que nunca.
No ano passado, a pesquisa "Juventude Árabe" revelou que quase dois terços (63%) dos jovens árabes olham primeiro para o Facebook e o Twitter em busca de notícias.
Mais amplamente, quase metade dos jovens árabes (49%) afirmam receber diariamente notícias no Facebook, acima dos 35% do ano passado; e 61% dos jovens árabes dizem que usam o Facebook com mais frequência do que há um ano.
(2) A Arábia Saudita continua a ver um crescimento massivo da mídia social
Com uma população de 32 milhões de habitantes, a Arábia Saudita é o segundo país mais populoso da região (atrás do Egito, onde hoje residem mais de 100 milhões). O uso de mídia social continua a crescer rapidamente no Reino da Arábia Saudita, uma tendência de interesse para marcas, agências e empresas de mídia.
Dados do We Are Social e Hootsuite descobriram que os usuários de mídia social na Arábia Saudita cresceram 32%, em comparação com uma média mundial de 13%, de janeiro de 2017 a janeiro de 2018.
Além disso, “em 2018, o YouTube ofuscou o líder de longa data Facebook para se tornar a plataforma de mídia social mais popular na Arábia Saudita”, relata o Global Media Insight, uma agência digital interativa baseada em Dubai.
Os estudos compartilhados pela agência mostraram 23,62 milhões de usuários ativos do YouTube na Arábia Saudita, com o Facebook chegando em segundo lugar, com 21,95 milhões de usuários.
(3) Um terço da população na Arábia Saudita usa Snapchat todos os dias
O Snapchat, uma plataforma altamente popular na Arábia Saudita, viu um nível de crescimento semelhante ao do YouTube, em contraste com outros mercados onde se esforçou para crescer. A Arábia Saudita tem a maior adoção de mercado do Snapchat (isto é, a porcentagem da população que usa o aplicativo), em qualquer lugar do mundo.
De acordo com a Ampere Analysis, o uso do aplicativo de mensagens multimídia aumentou em 30%, com mais de um terço dos entrevistados sauditas dizendo que usam o Snapchat todos os dias.
Moradores das cidades sauditas de Riad e Jeddah passam 35 minutos por dia surfando e usando “a câmera, em média, 40 vezes por dia”.
Em toda a região, dos 12 milhões de usuários diários do Snapchat no Golfo, 9 milhões estão na Arábia Saudita e 1 milhão nos Emirados Árabes Unidos (EAU).
Diante disso, talvez não surpreenda que, em novembro, o Snapchat tenha anunciado que mais de 30 programas, de 20 marcas populares da região, seriam lançados na plataforma, capitalizando sua popularidade na Arábia Saudita e além dela.
“Cada programa tem uma duração média de cinco minutos, com cerca de 10 quadros que podem ser percorridos como uma revista”, explica Joseph George, do TahawulTech.com.
(4) No Egito, contas com mais de 5.000 seguidores podem ser monitoradas
O governo egípcio aprovou uma legislação que coloca todas as contas de mídia social com mais de 5.000 seguidores sob observação do governo. A legislação também criou restrições online mais amplas, como exigir que novos sites recebam uma licença do governo egípcio antes de poderem ir ao vivo.
Jornalistas e ativistas da região também enfrentam desafios. A ativista de direitos humanos Amal Fathy foi presa no ano passado e multada por "espalhar notícias falsas" depois de publicar um vídeo no Facebook criticando o governo egípcio por não fazer o suficiente para proteger as mulheres.
(5) Influenciadores de mídia social baseados nos Emirados Árabes Unidos devem obter uma licença
Os influenciadores das mídias sociais continuam a surgir e a expandir suas plataformas no Oriente Médio, como em outros lugares. Huda Kattan ficou em primeiro lugar na lista da CNN dos 10 maiores influenciadores de beleza do Oriente Médio. Ela tem mais de 30 milhões de seguidores no Instagram e um patrimônio estimado em US$550 milhões.
À medida que seu impacto e importância crescem, alguns países têm procurado controlar a expansão desse setor.
Em 2018, o Conselho Nacional de Mídia dos Emirados Árabes Unidos aprovou uma lei exigindo que os influenciadores de mídia social que promovem ou vendem produtos online adquirem uma licença do governo. A licença custa 15.000 AED (aproximadamente US$4.000) e é válida por um ano.
Os tipos de postagens que muitos influenciadores do Oriente Médio compartilham parecerão familiares para outras audiências em termos de conteúdo, tom e estética. No entanto, o contexto cultural em que operam pode resultar em oposição ao uso social desse modo.
Uma ex-vencedora do concurso Miss Iraque com 3,7 milhões de seguidores no Instagram, Shimaa Qasim, recebeu ameaças de morte dias depois que outro modelo iraquiana com 2,8 milhões de seguidores no Instagram, Tara Fares, foi morta em Bagdá por um atirador desconhecido.
Pensamentos finais
As mídias sociais no Oriente Médio, como em outros lugares, continuam a crescer e evoluir.
Sua popularidade com o público mais jovem, o foco contínuo em conteúdo mais visual e a resposta de agências governamentais em toda a região são tendências que jornalistas, organizações de notícias e marcas devem continuar observando.
O potencial dessas plataformas para alcançar o público feminino e jovem e contar histórias de novas maneiras continua oferecendo grandes oportunidades para os criadores de conteúdo. No entanto, as mídias sociais operam em um contexto diferente tanto em termos das plataformas usadas quanto do material que pode ser distribuído através dela.
Entender isso é essencial para que todo o potencial de aproveitamento das mídias sociais na região seja realizado.
Faça o download do estudo completo no University of Oregon Scholars’ Bank, ou acesse online via Scribd, SlideShare, ResearchGate e Academia.Edu.
Damian Radcliffe é professor Carolyn S. Chambers em jornalismo e professor de prática na Universidade de Oregon. Ele produz um relatório anual sobre a mídia social no Oriente Médio desde 2012. Siga-o no @damianradcliffe.
Payton Bruni é estudante da Faculdade de Jornalismo e Comunicação da Universidade de Oregon, com especialização em jornalismo e estudos árabes. Ele também é freelancer para a Gather e KVAL CBS 13 news, e fotojornalista da Ethos Magazine.
Imagem principal sob licença CC no Unsplash via Sara Kurfeß