Eleições, cidades prejudicada pela neve, uma onda de homicídios, e centenas de bicicletas aparecendo no meio do trânsito de fim de noite - não são apenas notícias, são experiências que estão acontecendo.
Isso levou Burt Herman, ex-chefe de redação e correspondente do AP, a reavaliar a forma como as organizações de notícias investigam e criam suas matérias. O resultado é o Storify, uma ferramenta que permite aos editores e repórteres integrar a mídia social em suas matérias de maneira mais rápida e interativa.
Ao invés de copiar e colar as atualizações do Facebook, Twitter e fotos do Flickr, jornalistas podem usar o Storify para compilar rapidamente elementos dinâmicos da mídia social que os leitores possam retuitar ou responder clicando no artigo.
Foi a natureza de desdobramento, cada vez mais dirigida pela reportagem de eventos contemporâneos por parte do próprio cidadão, que inspirou Herman a criar a ferramenta, juntamente com o co-fundador Xavier Damman.
Em vez de limitar a matéria a uma reportagem única ou a uma série de atualizações, eles queriam um formato que acomodasse as ramificações interativas da mídia social.
Na fase de teste, Herman e Damman examinaram de perto como os repórteres usaram o Storify. "Queremos aprender e ver como as pessoas estão usando a ferramenta", ele disse.
Então o que aprenderam?
Em geral, Herman explicou, usuários tendem a utilizá-la em uma de três maneiras diferentes: Compilando a conversa aparentemente aleatória de reações a um evento, citando fontes diretas, e destacando a sua própria mídia social.
Destacando a mídia
Um exemplo de uso simples do Storify é a cobertura da PBS das eleições de meio período. A mensagem no Storify foi uma compilação longa dos tweets do noticiário "NewsHour" durante todo o dia da eleição, com um tweet ocasional das emissoras locais.
"Trata-se de separar os elementos interessantes do barulho", disse Herman. A PBS apresentou aos usuários uma ferramenta de tempo fácil de explorar, ajudando os leitores a navegar as conversas no Twitter sobre a eleição.
Reações a eventos
Um dos usos mais comuns do Storify é a documentação de condições meteorológicas extremas.
O Seattle Times criou um post para documentar uma tempestade em novembro, reunindo fotos e mensagens do Tweeter e vídeos do YouTube. O repórter ou repórteres não-identificados do Times também acrescentaram comentários e atualizações em tempo real sobre engarrafamentos e avisos de tempestade.
A matéria começa com uma reportagem sobre brincadeiros de trenó, mas logo aparecem tweets sobre ônibus derrapando e carros deslizando sobre o gelo. Uma foto inicial mostra um pouquinho de neve, seguido mais tarde por um vídeo de um ônibus batendo em um poste. O efeito é um pouco como assistir a uma progressão de tempo da tempestade, contada por aqueles que no meio dela.
Na costa leste, o Washington Post usou o Storify para comparar as reações de dois prefeitos vizinhos durante o inverno. Após uma tempestade de dezembro, o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, publicou tweets vagos sobre limpeza de neve, enquanto o prefeito Cory Booker de Newark usou o Twitter para se comunicar com os moradores sobre as necessidades deles.
"O departamento de transporte tem 240 funcionários trabalhando nas ruas hoje usando 126 peças de equipamentos", escreveu Bloomberg, enquanto Booker escreveu: "Eu estou patrulhamento com a minha pá ajudando outros a escavar a neve. Avisem-me se algum idoso ou deficiente físico precisa de ajuda."
Ele também respondeu a moradores: "Eu estou entregando agora as fraldas. Vamos levá-las para a rua em breve, sobre @tmhester: @CoryBooker perto da Aveninda Highland minha irmã não pode sair para comprar fraldas".
Esta foi uma oportunidade perfeita para usar o Storify, já que a notícia aconteceu em grande parte dentro da plataforma do Twitter. A comparação do Post apareceu no blog "Politics and Policy", e seguiu o cronograma de tweets com o relato em tempo real da repórter Andrea Caumont.
É interessante notar que o Post também produziu uma versão "oficial" da notícia em sua seção de política. Essa matéria não usou o Storify, e simplesmente colocou os tweets entre aspas. Porque a matéria inteira é texto puro, não há nenhuma maneira fácil de retuitar nada, e os nomes de usuários não são clicáveis. Uma fonte utilizou um símbolo de coração em seu tweet, o que em texto aparece como uma seqüência de acentos incompreensível.
Sem falar na falta de interação e formatação quebrada, um artigo estático único não consegue contar toda a notícia, diz Herman. Cada vez mais, as organizações de notícias vão querer cobrir notícias que ocorrem online não como eventos isolados, mas como uma conversa.
"É loucura pensar que essa imagem congelada às 19:11 horas é isso", disse ele, apontando para a matéria impressa do Post. "O que aconteceu depois disso?"
Citando fontes diretas
Um dos pontos fortes do Storify é a sua capacidade de apresentar conversas online que vão se desenrolando, em vez de confiná-las a um relatório único e estático.
No início deste mês, um site de notícias independente chamado Homicide Watch começou a usar o Storify para documentar as reações da comunidade sobre os homicídios em Washington, DC
"É estranho como a vida pode ser tão curta e o ano novo apenas começou. Descanse em paz, Bryant Morillo ",uma pessoa escreveu. E para outra vítima: "Descanse em paz, Bman, o bairro inteira saiu às ruas para mostrar o nosso amor, sentiremos saudade, irmão."
Apresentado sem comentários, o memorial na mídia faz um retrato vívido de uma comunidade que não consegue escapar do ciclo de luto.
Documentando uma experiência
Eu queria fazer um test com o Storify e, por sorte, apareceu uma oportunidade perfeita para fazê-lo. A cidade de São Francisco estava prestes a realizer sua primeira Bike Party, um passeio de bicicleta em massa, mas bem-organizado, em torno da cidade. Como sou o colunista de assuntos de bicicleta para o SF Weekly, decidi usar o Storify para documentar o passeio.
Os resultados são bem satisfatórios - veja aqui. Certamente não teria sido possível escrever essa matéria com qualquer outra ferramenta. O Storify tornou fácil a busca de tweets por termos como "festa da bicicleta" e "# sfbikeparty", e copiar e colar resultados relevantes em uma linha do tempo. Demorou cerca de meia hora para pesquisar várias redes sociais, compilar meus favoritos, e depois organizá-las cronologicamente para contar a história do passeio.
Eu deliberadamente não fiz nenhuma entrevista durante o passeio para que eu tivesse que depender da mídia social para obter informação. Foi arriscado, mas felizmente deu tudo certo, uma vez que os ciclistas de São Francisco, tendem a ser particularmente conectados. Fotos, comentários e vídeos estavam todos imediatamente disponível para mim, e eu não precisei criar nenhum deles.
Eu, entretanto, aumentei a mídia social com a minha própria reportagem sobre briga de bastidores e um resumo da cobertura prévia. Embora os jornalistas cidadãos sejam adeptos à produção de relatos da cena, ainda há a necessidade do jornalista fornecer o contexto.
A experiência revelou que ainda há espaço para melhorar: Minha editora indicou que não conseguiu acessar a minha matéria de Storify antes da publicação.
Isso pode ser um dos aspectos para consertar quando o Storify sair da fase inicial. Herman informou que eles estão trabalhando duro na implementação de recursos de agendamento mais robustos, integração com mais fontes, e ferramentas de comentários.
Por enquanto, ele está mantendo o olho no objetivo --permitindo que os repórteres reflitem sobre as novas formas em que os eventos são documentados. Cada telefone portátil é um caderno de anotação em potencial para o repórter multimídia, e a repercussão da notícia da vida real pode reverberar online dias depois de uma notícia ser inicialmente relatada.
Repórteres, Herman disse, têm o dever de incorporar essas conversas online, apesar de serem desconhecidas dos tradicionalistas.
"Ficaria estranho em um artigo de jornal se você tivesse apenas uma citação após a outra", disse ele. "Mas online é diferente."
Este artigo foi publicado originalmente no Poynter Online. Foi traduzido e publicado na IJNet com permissão. A Poynter Online é o site do Poynter Institute, uma academia que apoia o jornalismo e a democracia há mais de 35 anos. O Poynter oferece notícias e treinamento com orientação individual, seminários, cursos onlines, webinars e mais que se adaptam a qualquer agenda.
Foto por Storify