Startup colombiana faz jornalismo investigativo para mudança social

por Ana Luisa González
Jan 23, 2019 em Engajamento da comunidade
Mutante

Em uma era de experimentação e transformação no jornalismo, novos modelos de publicação têm ampliado a fronteira da mídia tradicional. Esse é o caso do Mutante, um projeto online em espanhol com sede na Colômbia que produz reportagens investigativas para gerar mudanças sociais.

Por trás dessa plataforma, há uma equipe de 13 pessoas, incluindo editores, repórteres e jornalistas de vídeo, que tem como objetivo gerar uma conversa entre diferentes partes da sociedade civil sobre as questões sociais mais relevantes do nosso tempo. Um exemplo é agressão sexual, que foi seu primeiro tópico.

Em 2017, Juan Camilo Maldonado, ex-diretor do VICE Colômbia, e Nicolás Vallejo, ex-editor do Noisey, deixaram seus empregos e fundaram uma agência de comunicação que traz serviços de conteúdo para a mudança social ao setor privado.

Juntos, eles lançaram o Mutante em outubro. Começaram com uma série de investigações aprofundadas sobre casos de agressão sexual em que as vítimas eram meninas menores de idade. A série criou uma enorme discussão nos meios de comunicação e canais de mídia social que incluiu vários especialistas, vítimas, instituições e leitores.

O Mutate não é apenas outro meio de comunicação. O projeto está desenvolvendo um novo tipo de jornalismo que vai além da publicação de artigos investigativos. Eles usam o lema “fale, entenda, aja” para descrever seu processo e metas. Maldonado define este projeto como “um mutante que surgiu da convicção de que o jornalismo deve se transformar”. Ele acredita que o jornalismo tem um papel transformador em nossa sociedade e o público deve abraçá-lo.

"Não entendemos o jornalismo como um processo que começa com reportagens investigativas e termina com um artigo", diz Maldonado. “Em vez disso, acreditamos que o jornalismo tem feedback constante, desenvolvido coletivamente com seu público.”

Por causa de sua crença no poder de seu público, a missão da equipe é criar uma rede de cidadãos que possa iniciar uma conversa para ajudá-los a entender melhor o mundo e transformar os problemas que os cercam.

O Mutante se destaca por sua abordagem exclusivamente colaborativa para fazer o jornalismo com seu público. “O jornalismo é um mecanismo para gerar discussões e conversas”, diz Felipe Vallejo, diretor criativo. “Nós vemos o público como capaz de provocar uma conversa na era das mídias sociais. Isso nos levou a fazer um jornalismo mais contemporâneo e independente.”

Maldonado diz que uma das inspirações para este projeto foi The Correspondent e La Diaria, que envolvem suas comunidades, capacitando-as a agir. Esses projetos também promovem um importante sentido de pertencimento e ativam canais de comunicação que realmente capacitam a comunidade.

A equipe do Mutante usa canais como Instagram, Facebook, Twitter e Medium para trazer aos usuários o conhecimento que eles reproduzem e espalham gratuitamente. O Mutante convida a comunidade, organizações sem fins lucrativos, governos e organizações da sociedade civil a participar de uma conversa pública nas redes sociais usando hashtags ou vídeos de transmissão ao vivo para fornecer conhecimento e soluções em várias plataformas.

Eles também colaboram com a mídia tradicional para ajudar a lançar um debate público e construir conhecimento sobre esses problemas. “Nós não somos um meio de comunicação, somos uma mensagem”, diz Maldonado.

O financiamento é um dos principais desafios que as organizações de jornalismo estão enfrentando no momento. Para resolver isso, Mutante trata seu público como fontes potenciais e como colaboradores, pedindo-lhes para financiar seu projeto.

O financiamento inicial veio da Open Society Foundations, que deu a eles uma doação de US$25.000 para apoiar quatro semanas de conversas públicas sobre agressão sexual. Eles também arrecadaram mais de COP30 milhões de 358 cidadãos para continuar a cobrir outros temas.

“Acreditamos que o Mutante, como um projeto de jornalista, deve encontrar novas formas de financiamento independente”, diz Maldonado. "O Mutante oferece serviços para os cidadãos."

A primeira série de conversas sociais, com foco em agressão sexual, foi um sucesso. O público pôde se envolver com reportagens investigativas, testemunhos de vítimas e pesquisas sobre agressão sexual. “Nosso sonho é nos tornarmos um facilitador que orienta as conversas públicas, não apenas localmente, mas também na América Latina até mesmo no mundo”, diz Maldonado. "Isso nos permitirá focar em questões estruturais que sempre precisamos enfrentar e construir soluções para resolvê-las tanto quanto possível."

Um dos principais objetivos do Mutante é tornar o conhecimento viral. A equipe acredita que os meios de comunicação de massa dependem demais do viés político e espera que as novas estruturas de jornalismo que dependem da conversação pública comecem a se espalhar tão rapidamente quanto o conteúdo politico. 


Imagem cortesia do Mutante