Revista satírica 'Mongolia' da Espanha oferece humor seguindo modelo de negócio sério

por James Breiner
Oct 30, 2018 em Temas especializados

BURGOS, Espanha -- Eduardo Galan é um poço de contradições. Ele tem um Ph.D. em psicologia, especificamente psicologia de marketing.

É formado em marketing de negócios online. E fala muito seriamente sobre modelos de negócio para comercialização de um produto de mídia.

No entanto, Galan possui o ar brincalhão de um adolescente que se deleita zombando das pretensões e hipocrisias da política, negócios e líderes religiosos da Espanha, o que faz no satírica mensal Revista Mongolia

No palco do Congresso iIbero-americana iRedes de Redes Sociais, ele encantou o público de centenas pessoas com seu humor. Em uma entrevista comigo depois, porém, ele falou como qualquer outro executivo de mídia lutando para fazer um dinheirinho em meio a uma concorrência feroz.

Rentável, livre de dívidas

Galan disse que a publicação recebe 70 por cento de sua receita com a revista e 30 por cento de outros empreendimentos, incluindo um show de comédia "Mongolia, El Musical", bem como vendas de livros e outros itens em sua loja. Na cidade de Gijón, o musical atraiu 700 pagantes, e na semana seguinte, em Barcelona, ​​o show esgotou todos os 500 lugares.

O editor Gonzalo Boye, Galan e vários jornalistas do jornal El Público, que tinha acabado de fechar suas portas, lançaram a publicação em março de 2012 com capital inicial de 50.000. Os seis fundadores trabalharam sem receber durante seis meses para ganhar seu capital investido. Eles são donos da maior parte da empresa, mas têm vários outros investidores.

A empresa não tem dívida, o que é importante para a manutenção da independência, disse Galan, que é identificado na equipe editorial da revista como "imperador". Mongolia gerou uma receita em 2014 de 300.000 a 400.000. "Os acionistas não perderam dinheiro. Não vamos ficar ricos. Os benefícios são mínimos, mas existem", disse ele. Os 3.500 assinantes que pagam 32 por ano são a chave para manter a empresa à tona.

Embora seja uma revista mensal, o site é atualizado diariamente. Tem 230.000 seguidores no Twitter, 183.000 curtidas no Facebook e 1.190 assinantes de seu canal no YouTube.

Outros números:

  • 40 páginas por mês, tablóide em papel de jornal, 40.000 tiragem, distribuição nacional
  • 15.000-20.000 vendas por mês a 3 cada (menos a parte do distribuidor)
  • Publicidade, insignificante. Conteúdo muito controverso
  • Equipe de assinatura de duas pessoas em tempo integral
  • Seis fundadores, quatro dos quais com salário em tempo integral
  • 30 redatores e cartunistas colaboradores, pagos por submissão

Mongolia tem uma reputação de sátira forte. O editor, Boye, é um advogado de direitos humanos que dedica um quarto de seu tempo a dar a redatores e cartunistas conselhos apara mantê-los fora da cadeia, diz Galan, meio que brincando.

A publicação tem fãs...

  • Em um perfil da revista, o New York Times publicou: "Mongolia desfaz os mitos, posturas e privilégios cimentados durante a transição da Espanha de ditadura a democracia, durante os anos setenta e oitenta."
  • O jornal inglês The Guardian comparou-o com um dos seus: "A versão espanhola do Private Eye ridiculariza os corruptos, os poderosos e imprensa."
  • Em 2013, o Clube de Imprensa Internacional da Espanha homeageou Pere Rusiñol, cofundador da revista pela "defesa dos valores humanos e da liberdade de expressão."

E os críticos ...

Em maio de 2013, quando a princesa Cristina, filha do então rei Juan Carlos, foi acusada de fraude envolvendo seu marido, a capa da revista teve uma dobradura que fazia trocadilho visual e verbal que parecia estar chamando-a de "filha da p•ta".

A publicação 20minutos caracterizou a reação em redes sociais como intensamente dividida. Muitos chamaram revista de lixo; a família real recebe um tratamento respeitoso pela imprensa. Outros chamaram a capa de um exemplo de liberdade de expressão. Muitos comentaristas previam que essa edição da Mongolia seria sua última. Dois anos depois, a revista ainda está aqui.

Em uma pesquisa informal com jornalistas, professores e estudantes de jornalismo, descobri que muitos pensam que a publicação às vezes é divertida, mas muitas vezes de mau gosto.

Um público dedicado

Da perspectiva de negócios, Galan sabe que a Mongolia não é para todos. "Eu acredito que nós podemos ter o suficiente de uma audiência para nos sustentar economicamente. Para nós, o objetivo é dar trabalho ao maior número possível de jornalistas e cartunistas, que agora estão sofrendo." Jornalistas da Espanha estão sofrendo uma crise dupla: 25 por cento de desemprego em geral e milhares de demissões na mídia tradicional.

Com a crise econômica e constantes reportagens sobre corrupção de alto nível envolvendo políticos e empresários, a Espanha está pronta para a sátira, disse Galan. Não estava pronta antes de 2007, quando o mercado imobiliário estava crescendo... Agora Espanha está atingindo uma maturidade e começando a ficar aberta para a liberdade de expressão, que consiste em permitir que as pessoas te ofendam."

Brincalhão mas exigente

Galan soa mais como um conservador quando fala sobre o ofício da comédia e sátira.

"Você tem que respeitar a profissão", diz ele, e isso significa ler mestres clássicos como Quevedo, estudar Mark Twain e ler publicações satíricas de outros países. Ele citou como modelos Canard Enchaîné e Charlie Hebdo da França, The Clinic do Chile, Barcelona da Argentina, ​​Mad dos Estados Unidos e Private Eye da Grã-Bretanha.

Ele também é fã de standup americano e os programas de televisão "The Daily Show" com Jon Stewart e "Real Time with Bill Maher".

Lugar para mais mídia

Na mesa redonda no iRedes sobre projetos de jornalismo empresarial, nós conversamos sobre todos os desafios e problemas que os empresários enfrentam. Mas Galan disse mais tarde em nossa entrevista que ele queria deixar aspirantes a empreendedores com uma mensagem diferente:

"Quem tem uma boa ideia, anime-se e não tenha medo do fracasso. Mas seja claro sobre o que você vai fazer. Seja responsável. Seja claro sobre o seu modelo de negócio. Seja claro sobre quem é seu público. Não abra uma escola para toureiros em Londres. Você pode ser apaixonado por ela, mas em Londres, não faz nenhum sentido."

Entrevista em vídeo com Eduardo Galan (em espanhol)

Este post originalmente apareceu no blog News Entrepreneurs de James Breiner e é republicada na IJNet com permissão.

Imagem cortesia de Lupe de la Vallina