Massingir, uma área rural na fronteira entre o famoso Parque Nacional Kruger da África do Sul e Moçambique, é um desafio jornalístico. É remota, cada vez mais militarizada e pode ser perigosa, como descobriram jornalistas em reportagem para o Der Spiegel quando foram sequestrados por caçadores em 2015.
As fronteiras contestadas de Kruger são uma nova e importante investigação transnacional multimídia, que expõe uma iniciativa anti-caça bem-intencionada que se degenerou em uma implacável apropriação de terras por parte de políticos e da elite empresarial.
Nossa investigação multimídia sobre a apropriação de terras nas fronteiras começou com uma equipe de jornalismo tradicional composta de um repórter investigativo local (com anos de experiência e bons contatos na área), um fotógrafo e um cinegrafista.
A matéria visual incluiu imagens de drone das terras fronteiriças, a fim de fornecer uma visão panorâmica de áreas onde não há estradas, onde o acesso é limitado, animais selvagens podem vagar e o mato é muitas vezes impenetrável.
As fotos aéreas e os videoclipes proporcionaram novas perspectivas e insights sobre vastos trechos de terras inexploradas que podem ser difíceis de visualizar do solo e descrever em palavras.
Insights foram fornecidos por imagens de satélite, que nos ajudaram a localizar geograficamente as novas reservas de caça privadas ao longo da fronteira em um gráfico interativo.
https://t.co/bBx8bY9Xnq was thrilled to provide #satellite imagery analysis to the @OxCIEJ report! These images show how community settlements have been erased from Limpopo National Park. About 13,300 families still living inside the park are awaiting resettlement. #DroneTuesday pic.twitter.com/NuALpcZ6Uh
— Radiant.Earth (@OurRadiantEarth) April 10, 2018
Usando imagens de satélite do Google Earth analisadas pela Radiant.Earth e projetadas com o JuxtaposeJS, também pudemos criar um slide interativo de antes e depois mostrando locais onde os assentamentos da comunidade ocorreram ao longo dos anos para abrir caminho para as reservas de caça.
A pesquisa e análise de dados realizadas pelo Landmatrix ajudou a aperfeiçoar nossa reportagem e a construir uma ferramenta chamada Dominion que começamos a desenvolver no Laboratório da Rede Global de Editores na Cidade do Cabo em novembro de 2017.
Todos esses elementos foram reunidos em uma matéria de Shorthand intitulada “Kruger’s contested borderlands”. É uma ótima reportagem que traz uma nova luz sobre uma zona pouco reportada.
Aqui estão algumas lições que aprendemos durante o processo:
- Há diferença entre um jornalista de drone e um operador de drone. Este último requer instrução e edição substancialmente maiores do que o primeiro.
- Investigações transnacionais podem exigir traduções. Não assuma que o jornalista possa fornecer isso, talvez seja necessário contratar um tradutor profissional.
- Decidir sobre o produto final de visualizações de dados desejado antes de coletar os dados acelerará o processo.
- Shorthand é ótimo para produzir matérias multimídia, mas editores tradicionais podem relutar em apoiar o produto.
A colaboração foi produzida pelo Oxpeckers Investigative Environmental Journalism em parceria com Code for Africa, AfricanDrone e a African Network of Centres for Investigative Reporting. Financiada pelo Pulitzer Center on Crisis Reporting e a Fundação Bill e Melinda Gates, com o apoio do Centro Internacional para Jornalistas. Veja as investigações aqui.
Imagem principal cortesia do Oxpeckers Investigative Environmental Journalism
Este artigo foi publicado originalmente na página do Oxpeckers no Medium e é reproduzido na IJNet com permissão.