A missão da repórter Soma Basu é “dar às pessoas o jornalismo que precisam, em vez do jornalismo que querem”. É por isso que ela criou o Reporter At-Large, uma plataforma para publicar matérias que são deixadas de fora da grande mídia.
Basu foi motivada a iniciar o Reporter At-Large para contar histórias que não estão sendo contadas e treinar cidadãos em áreas remotas para se tornarem jornalistas, para que possam reportar em primeira mão sobre suas regiões. Em entrevista à IJNet, Basu contou que sua organização atualmente é administrada por voluntários, embora ela esteja pesquisando outros modelos de negócios para poder pagar os colaboradores. Ela entende que é importante que esses jornalistas sejam pagos por suas reportagens, já que têm famílias para cuidar e precisam dos salários.
Quando ganhou o Prêmio Kurt Schork Memorial em 2017, Basu usou o dinheiro para lançar o Reporter At-Large. Sua prioridade é desafiar o status quo no jornalismo, que ela acredita estar se tornando dependente demais das corporações. O Reporter At-Large republicou uma reportagem de 2010 sobre o segundo chimpanzé a morrer em um ano devido à falta de infraestrutura em um zoológico de Bengala Ocidental, e publicou alguns artigos de todos os anos desde então. Basu encomenda matérias baseadas em pautas que ela recebe através do site.
"Venha se você acha que seus artigos não estão sendo publicados por razões políticas, por causa da política mesquinha da sua redação, porque você teve problemas pessoais", escreveu Basu no site. “Este NÃO é um site de jornalismo cidadão. Esta é uma comunidade de repórteres experientes que sabem, sentem, respiram jornalismo mas infelizmente suas matérias não ganham espaço.”
Além das matérias que não estão sendo publicadas por causa de questões políticas, o Reporter At-Large aceita propostas independentes sobre temas pouco divulgados, como direitos tribais, meio ambiente e direitos humanos. Eles também apresentam reportagens investigativas de alta qualidade de agências de notícias regionais e fazem parcerias com agências de notícias locais para oferecer treinamento em tópicos como storytelling, produção e integração multimídia.
O ano passado foi marcado por demissões e aquisições na indústria de mídia, então é mais importante do que nunca destacar o panorama do que significa ser um repórter, disse Basu. Ela acredita que os repórteres têm a responsabilidade de fazer a diferença na sociedade através de suas notícias, falar por aqueles cujas vozes não são ouvidas na mídia e entrar nas trincheiras para fazer o trabalho de campo. Ela espera que o Reporter At-Large seja uma oportunidade para os jornalistas expressarem isso --especialmente se não puderem fazê-lo em sua própria redação.
Como nem todo repórter é um repórter "at-large" [em tradução livre: foragido, a solto ou geral], Basu dá essas dicas para ajudar repórteres descontentes a lidarem com situações e desafios estressantes em suas redações:
Aproveite ao máximo suas oportunidades
Basu está muito orgulhosa de seu trabalho na Etiópia. Ela recebeu dinheiro para viajar para uma conferência. Desde que esteve no país, ela decidiu reportar em seu tempo livre, viajando sozinha por 900 quilômetros até a fronteira do Sudão do Sul para escrever a matéria “Ninguém quer que você saiba o que está acontecendo na Etiópia”.
Apoie regiões pouco reportadas
O Reporter A At-Large inclui mais vozes na mídia, fornecendo treinamento de jornalismo a repórteres em áreas tribais, para que eles possam contar histórias melhores sobre assuntos locais. Por exemplo, eles colaboraram com a Junglemahal TV na remota Purulia (em Bengala Ocidental, Índia) para revisar uma matéria depois que o repórter completou o trabalho de campo. Eles trabalham para publicar artigos de áreas remotas no idioma original, bem como traduzir ao inglês.
Estenda a mão para ajudar
O jornalismo é um trabalho difícil, então os jornalistas precisam cuidar de sua saúde mental. Isto é especialmente verdade para as mulheres. O campo do jornalismo "nunca foi um bom lugar para as mulheres", segundo Basu. "Coisas como abuso verbal são normalizadas."
A dica de Basu para as mulheres na profissão é ser proativa. Basu sugere obter apoio de recursos como a Rede de Mulheres na Mídia na Índia, que aborda várias questões que as jornalistas enfrentam, incluindo o assédio sexual no local de trabalho.
Enfrente a tempestade
Agora é o pior momento para o jornalismo, na opinião de Basu. Há uma perda de confiança na mídia tradicional e a educação pública da mídia é baixa, entre outras questões. O jornalismo costumava ser uma profissão honrosa na Índia, mas agora ela vê muito abuso do jornalismo na política. Por exemplo, os partidos políticos foram expostos por dar dinheiro às corporações, e as matérias que saíram das redações geridas por essas corporações foram tendenciosas em relação aos partidos.
Apesar dessas questões, Basu acredita que há bons momentos por vir. Em cinco a dez anos, ela prevê que haverá uma revolução na mídia. Para avançar no campo, ela vê a necessidade de compartilhar conhecimento e união entre os repórteres.
Talvez precisamos de uma rebelde para liderar essa mudança.
Imagem é captura de tela do Reporter At-Large