Como editor, eu tento fazer boas perguntas. Isso porque eu sou uma pessoa curiosa, cheia de frases que terminam em pontos de interrogação.
É também porque como Roy Peter Clark do Poynter escreveu: "Os professores e editores funcionam melhor como recursos para os redatores, conferindo com os redatores e não lhes dizendo o que fazer."
Não quero dizer que eu nunca dê sugestões aos repórteres. Mas tento começar com questões que estimulam a imaginação de um repórter. Pressiono o repórter a pensar mais sobre o tema da matéria. Incentivo o repórter a tentar novas abordagens para contar histórias.
Sabemos as questões básicas que os jornalistas se esforçam para responder quando cobrem uma notícia -- perguntas começando com "quem", "o quê", "onde", "quando","por quê"e "como."
Aqui estão algumas outras perguntas que eu gosto de perguntar aos redatores -- geralmente antes de começar a reportagem e, logo depois, antes de sentar para escrever.
Mesmo se você está correndo contra o fechamento, tente ter uma conversa de 10 minutos, guiada por estas questões. Como editor, a orientação que você fornece muitas vezes pode salvar seu tempo revisando a matéria.
Como você contaria esta história a um amigo? Eu gosto de fazer essa pergunta, porque incentiva o escritor a pensar sobre as partes mais interessantes e relevantes da matéria. Nós somos bons em considerar o valor noticioso de um artigo, mas não somos sempre tão bons em refletir sobre a parte: "Por que o leitor deve se importar?". Fazer com que o autor imagine contar a história a um amigo pode ajudá-lo a pensar sobre o porquê que devemos nos importar. Essa abordagem também pode ajudar o escritor a afastar qualquer jargão e trazer um tom de conversa ao artigo.
Qual seria um título antecipado para esta matéria, sabendo que o título não está gravado em pedra? Essa é uma variação da questão: "Qual é essa história, afinal?" Resumir a premissa em até cinco ou seis palavras pode ajudar o redator a aguçar o foco da matéria. Na minha redação, pedimos aos repórteres e editores de linha para escrever manchetes prévias e resumos em cima de suas matérias. Isto é principalmente por razões de produção, mas a vantagem é que estamos incentivando os redatores e editores a chegar ao centro da história no início do processo.
O que lhe surpreendeu? Por mais que eu odeie admitir, muitas, senão a maioria, das matérias que os jornalistas produzem são escritas de uma forma previsível. Perguntar sobre a "surpresa" pode ajudar o escritor a deixar de lado seu manto jornalístico, pelo menos por um momento, e apenas reagir aos acontecimentos da história como um ser humano. Quem foram as personagens peculiares que você conheceu? Qual foi uma citação interessante que você ouviu? O que você não imaginou que iria acontecer e aconteceu? Que detalhes e anedotas que anotou em seu bloco de anotações e deixou de fora do artigo, e como ter um ou dois deles de volta?
Quais são as perguntas não respondidas? Como jornalistas, não somos sempre bons em explicar o que não sabemos em uma matéria, especialmente se é urgente. Muitas vezes, tentamos escrever desviando dos buracos. É melhor ser claro e confessar no artigo sobre o que resta a ser explicado e esclarecido. Esta questão também solicita que o repórter e editor compilem uma lista de perguntas para qualquer seguimento da história.
Como podemos trazer algo de novo a esta matéria? Seus melhores repórteres querem ser desafiados. E provavelmente, se são veteranos, abordaram uma matéria parecida com a que estão trabalhando agora. Que melhor maneira de desafiá-los do que lhes pedir que utilizem uma nova abordagem para a matéria? A abordagem pode envolver palavras, mas também pode envolver fotografia, elementos gráficos e online. Esta questão também irá ajudar o repórter a pensar sobre colaborar com os jornalistas visuais em toda a redação.
Qual é a visão da sabedoria que podemos oferecer? As melhores matérias para mim são aquelas que não apenas informam os leitores algo que eles não sabem, mas também ressoam com os leitores, porque tocam em um tema universal. Oferecem aos leitores um "lampejo de sabedoria" -- uma lição importante que as pessoas sobre as quais escrevemos aprenderam -- seja sobre amor ou lealdade, traição e resiliência. Essas são as histórias mais gratificantes para mim. Equipados com TV a cabo, laptops, tablets e smartphones, os nossos leitores estão perdidos em um mar de informações. Eles têm fome de contexto e significado. O "olhar de sabedoria" é uma das coisas mais importantes que podemos lhes oferecer.
Este artigo foi publicado originalmente no Poynter Online, o site do Poynter Institute. Foi traduzido e publicado pela IJNet com autorização. O Poynter Institute é uma escola que ensina jornalismo e promove democracia há mais de 35 anos. O Poynter oferece notícias e treinamentos que se adaptam a qualquer horário, com aulas individuais, seminários presenciais, cursos online, seminários online e mais.
Foto por Valerie Everett, usada sob licença CC