Renove seu jornalismo com técnicas de cinema

por Gabriel Guzman
Oct 30, 2018 em Jornalismo multimídia

O cinema é uma forma de arte que captura eventos audiovisuais de uma forma multidimensional. E mais e mais jornalistas de vídeo estão deixando para trás formatos de transmissão tradicionais e experimentando com elementos cinematográficos.

O jornalista David Gyimah é um dos principais defensores deste movimento, conhecido como jornalismo cinema. David já trabalhou nas redes ABC, BBC, Channel 4 News e outros canais, e recebeu um prêmio Knight Batten de Inovação em Jornalismo por seu site interativo View Magazine. Ele atualmente atua como professor sênior da Universidade de Westminster

A IJNet conversou com David sobre as diferenças entre vídeo de jornalismo tradicional e cinematográfico, origens do movimento e recursos para futuros videomakers atrás de notícias.

O que diferencia o jornalismo cinematográfico do vídeo tradicional?

Embora lembre que "o jornalismo cine" é um termo amplo, e que é importante evitar generalizações, eu diria que uma das vantagens da plataforma é a sua tendência para ficar na memória do público.

Considere o último vídeo que você viu que pode realmente se lembrar. Provavelmente foi um trailer ou um filme, algo que poder ser amplamente definido como cinematográfico. Eu colaborei em uma série de estudos sobre isso e descobrimos que a adição de elementos cinematográficos no videojornalismo em geral aumenta seu poder de permanência na mente do público.

Há, no entanto, alguns problemas nisso, mais notadamente a tendência de cair no sensacionalismo. Portanto, o que se deve considerar ao incorporar elementos cinematográficos em seu trabalho é a forma de fazê-lo sem perder de vista os elementos fatuais do próprio sujeito. Em outras palavras, o jornalista de vídeo deve se perguntar, "Como usar a prática artística para fazer um trabalho jornalístico funcionar?"

O que estava faltando no videojornalismo que deu origem ao jornalismo cinema?

É importante notar aqui que o jornalismo, e videojornalismo por extensão, é uma construção cultural, formada pelas convenções literárias e sociais. Eu diria que o verdadeiro problema reside nos parâmetros associados a esta construção: A ideia de um formato fixo e objetivamente ideal para a notícia.

Citando vagamente Robert Drew o problema com o jornalismo de TV é que é criado por pessoas que entendem a palavra falada, mas não necessariamente entendem imagens visuais na forma como um fotógrafo pode. Por exemplo, o formato de "pacote de notícias" (em que um repórter fica de frente para a câmera com uma cena no fundo e diretamente descreve o evento) é usado quase universalmente por agências de notícias, baseado no ideia de que descrever diretamente um evento é a melhor maneira para contar a história.

Mesmo algo tão simples como a adição de câmeras extras (o que não era possível quando o "pacote de notícias" foi originado nos anos 60, pois as emissoras só podiam pagar uma única câmera) pode contribuir em muito para a percepção do público. Não se trata tanto de "ausências" e sim é uma falta de desvio. O que o cinema faz é dar uma maior autonomia sobre como você deseja compartilhar para história, permitindo-lhe libertar-se dessas normas.

Você menciona em um post no Medium que o jornalismo cinema veio em três ondas e que acredita que este ressurgimento mais recente permitirá que o jornalismo cinema se torne uma parte permanente do cenário de mídia. Por que acha que agora veio para ficar?

Os donos da notícia -- executivos da televisão aberta e pública -- não têm mais a hegemonia sobre o meio. As tentativas anteriores de o jornalismo cinema virar algo comum foram obstruídas por estes executivos, com seus proponentes sendo recebidos com descrença e zombaria. No entanto, na era moderna, a circulação da mídia não é mais dependente unicamente da televisão e já podemos ver seu ressurgimento em lugares como Vice. O jornalismo cinema, devido à liberdade criativa e uso multifuncional que permite aos jornalistas, está cheio de possibilidades nos dias de hoje. Em cinco anos mais ou menos, eu imagino que nós já não precisaremos ter essa conversa.

Que recursos estão disponíveis para aqueles que desejam aprender mais sobre jornalismo cinema?

Kurt Lancaster tem um blog excelente que eu recomendo para qualquer videojornalista interessado. No entanto, o jornalismo cinema ainda não chegou a um ponto em que um jornalista pode encontrar uma grande variedade de recursos dedicados exclusivamente a ele. Em vez disso, gostaria de aconselhar os jornalistas interessados ​​a gastar tempo e estudar o campo mais amplo do próprio cinema. Embora o contexto seja certamente muito diferente, eu acredito que os tropos e estilos utilizados pelo cinema de alta qualidade pode ser truncado e, assim, utilizada por jornalistas de vídeo. Além disso, vou dizer aqui, porém, que nenhum formato especial fará uma matéria "cinematográfica". No final, tudo se resume à habilidade do cineasta.

Este vídeo incorpora o estilo jornalismo cinematográfico de Gyimah. im Imagem principal de David Gyimah sob licença CC no Flickr via Nick Taylor.