O diretor-presidente da Global Editors Network (GEN) (Rede Global de Editores), Bertrand Pecquerie, fala sobre as lições principais na edição deste ano do GEN Summit. A conferência foi realizada de 11 a 13 de junho em Barcelona, na Espanha, e recebeu mais de 600 editores-chefe e inovadores de mídia de todo o mundo.
Quais são as lições principais da conferência da GEN realizada em Barcelona?
Bertrand Pecquerie: Acho que existem três lições principais da conferência da GEN. Em primeiro lugar, a Internet foi algo que mexeu com a sociedade, mas as plataformas móveis, incluindo os tablets, estão mexendo muito mais. Novos veículos puros (como o Mashable e Vice) são melhores em cativar novos públicos que as plataformas tradicionais. Todos os meios de comunicação terão que trabalhar com mais de 50 por cento do seu tráfego vindo de celulares, e muitos deles não estão prontos. Mesmo o New York Times e o Guardian disseram que estão correndo atrás para definir uma estratégia de notícias móvel.
Outra grande mensagem é que a integração da redação era o termo da moda há 10 anos, mas isso já não é o caso. Hoje, a tendência inverteu-se em direção a uma redação desintegrada com equipes específicas para plataformas específicas. Você não usa o tablet da mesma forma que o seu computador e isso exige uma atenção especial dos editores. A redação vai se tornar uma 'sala de controle', com menos pessoas nas mesas e mais jornalistas no campo. A noção de 'inteligência coletiva' de jornalistas que trabalham na mesma sala desaparecerá.
A última lição principal é que os jornalistas e o público têm os mesmos dispositivos e ferramentas de edição gratuitos. Os cidadãos podem agora criar sua própria "inteligência coletiva" através MOOCs, redes sociais e ferramentas de treinamento fornecidos por pequenas startups ou grandes empresas de tecnologia. As ferramentas de mídia do Google são um bom exemplo.
A inovação na redação está se tornando uma realidade?
Bertrand Pecquerie: As habilidades nas redações melhoraram e agora você encontra desenvolvedores eficientes, designers gráficos, especialistas em visualizações de dados. Os jornalistas também aprenderam a trabalhar com estes novos tipos de colegas da notícia. O ideal é que a inovação redação vá se tornar uma realidade. O processo deve começar com as próprias equipes de notícias e não apenas a partir de startups que entram no mercado de notícias como Storify, Storyful, etc.
Não deve ser esquecido que o jornalismo automatizado ou de robô aparecerá na Europa entre 2015 e 2020. Muitos jornalistas terão que mudar suas habilidades ou perder seus empregos. Esta mudança também pode ser uma excelente oportunidade para se concentrar na investigação, análise e visualização de dados. Hoje, muitos jornalistas estão copiando e colando comunicados de imprensa enviados por empresas e organizações poderosas. Não se esqueça de que há muito mais gente no departamento de comunicação de uma marca internacional do que em uma redação clássica.
Como você vê os principais jornais daqui a 10 anos?
Bertrand Pecquerie: O modelo alemão vai ganhar: um jornal a €3 ou €4 por dia, destinado a um público de elite que ainda quer ler jornais impressos. Os anunciantes seguirão anúncios de luxo ou de alto nível. Mas os jornais não permanecerão na mídia de massa; eles se tornarão mídia de nicho, como eram antes de 1850.
Um ou dois jornais de referência vão surgir por país. Vai ser impossível ter quatro a seis [jornais] como é agora o caso na Espanha, França, Itália, etc. Seu sucesso dependerá de sua capacidade de atrair leitores nativos que vivem no exterior. Já no Guardian (Londres), quase 70 por cento do seu público é baseado fora do Reino Unido.
Que jornais vão decidir ser veículos unicamente online em 2018?
Bertrand Pecquerie: Eu não imagino que os jornais gerais vão fazer essa mudança, mas os primeiros serão os jornais financeiros e jornais esportivos. Quando os dados são fundamentais, esses tópicos são os primeiros na fila para se tornar somente online.
_Este artigo foi publicado originalmente na Global Editors Network, e aparece na IJNet com permissão._
Sarah Toporoff é uma estagiária de marketing e comunicações da Global Editors Network. Siga @SJToporoff.
Imagem sob licença CC no Flickr via Steve Garfield