As compras públicas de leite para cumprir com políticas de alimentação foram o foco da primera série jornalística da Rede de Jornalistas da América Latina para a Transparência e Anticorrupção (Red PALTA). A investigação contou com a participação de sete organizações de mídia de sete países da região.
La Nación Data da Argentina, DataSkectch da Colômbia, El Faro de El Salvador, Ojoconmipisto de Guatemala, PODER do México, Ojo Público do Peru e la diaria do Uruguai impulsionaram a aliança e participaram desta primeira publicação, mas a Red pretende se expandir para sua próxima série. As investigações receberam metade do financiamento do Hivos e Open Contracting Partnership. “O resto foi coberto por cada meio”, explica Bianca Pallaro, da equipe do La Nación Data.
A aliança entre estes meios surgiu através das relações que alguns de seus jornalistas construíram durante vários eventos regionais. “Nos encontrávamos em conferências como a AbreLatam ou a MediaParty, e nesse tipo de espaço fomos nos conhecendo e conectando”, diz Eduardo Martín Borregón, do PODER. “Finalmente decidimos formalizar essas amizades e projetos."
Mas a aliança é muito mais do que um acordo formal de mídia com boas relações institucionais. “Todos os membros fazem parte da comunidade de dados abertos e transparência de nossos países. Há vários anos, promovemos a responsabilidade do governo e contribuímos para democratizar e ativar a demanda por acesso à informação pública. Por meio da tecnologia, investigamos o uso e abuso de recursos públicos, identificamos padrões de más práticas dentro dos governos, revelamos casos de corrupção, denunciamos injustiças e desigualdades, sempre para fortalecer instituições públicas e promover transparência”, explica Pallaro.
Uma reunião de vários dias em Lima com os representantes de cada mídia definiu a questão a ser abordada na primeira reportagem: compras públicas de leite para políticas sociais. “O foco da aliança sempre foi mostrar como a corrupção, a opacidade e a ineficiência dos processos de compras públicas afetavam os direitos mais básicos das pessoas. A partir daí, pensamos em diferentes bens e serviços básicos e essenciais que todos os governos compram e nos concentramos na contratação estatal de laticínios e sua concentração, irregularidades e programas que não chegam a áreas vulneráveis”, conta Pallaro. Segundo Borregón, a questão era "um caso muito claro" de um setor em que havia contratação do setor público e era mal monitorado.
As investigações
Embora todos os artigos abordam diferentes aspectos do assunto, eles variam dependendo de cada país.
Datasketch investigou quais empresas vendem ao Programa de Alimentação Escolar do país e analisa as redes de poder que existem por trás delas.
El Faro denunciou as irregularidades de um programa que visava levar leite às crianças das escolas públicas, mas que nunca chegou aos mais pobres do país, depois de uma mistura de planejamento insuficiente, desvio de recursos públicos e falta de orçamento.
No Uruguai, la diaria analisou como uma lei para ajudar os produtores familiares através das compras estatais teve efeito nulo no setor de laticínios, embora essa fosse uma de suas exigências normativas.
La Nación Data mostrou como apesar da pobreza crescente na Argentina, o Estado reduziu a entrega de leite em pó enriquecido a crianças de até dois anos e como um dos fornecedores representou um quarto das vendas.
Ojoconmipisto revelou como o filho do deputado que promoveu uma lei de alimentação escolar se beneficiou e sua empresa se converteu na principal vendedora de leite em pó ao Ministério de Educação da Guatemala.
PODER explicou as condições adversas dos produtores locais que integram o Programa de Abastecimento Social de Leite, entre importadores, grandes industriais e falta de políticas públicas.
Ojo Público denunciou as irregularidades por trás dos contratos com a principal empresa fornecedora do programa Vaso de Leche no Peru, destinado a comunidades mais pobres e como os representantes da empresa foram investigados pela promotoria e presos.
Agora, a rede procura dar um passo adiante na sua próxima reportagem. "Esta primeira série apresentou uma investigação individual de cada meio, mas para o próximo trabalho também tentaremos verificar e comparar informações e dados em nível regional", diz Pallaro. "Ainda está pendente a elaboração de uma perspectiva regional sobre o assunto que permita destacar os pontos e padrões comuns de corrupção e ineficiência na América Latina."
O próximo projeto já está em andamento. Segundo Borregón, a primeira investigação "mostrou o músculo da rede e a capacidade de fazer pesquisas profundas em pouco tempo e com uma visão regional". Para a próxima edição, a rede pretende expandir para nove países e fazer, além de reportagens detalhadas, "uma seção transversal de dados regionais com ferramentas de visualização interativas que permitem contar a história de maneira eficaz".
Imagem principal cortesia da Red PALTA. Imagem secundária cortesia do PODER.