Quebrando mitos pela democracia

Oct 21, 2022 em Diversidade e Inclusão
Imagem dos entrevistados

O Brasil vive dias agitados com a chegada do segundo turno das eleições presidenciais, pensando nisso a série de lives “Democracia em risco” promovida pela IJNet Português abordou o tema da discriminação, que permeia muito das discussões relacionadas com política no país nos últimos tempos. Os convidados foram os diretores do documentário Quebrando MitosFernando Grostein Andrade e Fernando Siqueira, com mediação da editora da IJNet Português, Fabiana Santos. O vídeo da LIVE pode ser visto aqui:

 

 

Grostein já tinha dirigido o documentário Quebrando o Tabu, em 2011, sobre a falência da guerra às drogas e que deu origem a uma página popular com o mesmo nome, presente em diferentes redes sociais e que trata sobre direitos humanos. 

Masculinidade catastrófica 

Quebrando mitos faz um panorama da violência e regressão de vários setores durante os quatro anos do governo Jair Bolsonaro e também mostra como a cultura da masculinidade tóxica está na gênese do processo. Para Grostein, neste sentido, a democracia está em risco em vários países, não só no Brasil. “Há grupos principalmente os de homens, brancos, heterossexuais, ricos, que não aceitam o conceito básico da democracia que é o da igualdade. Eles não querem dividir o poder com mulheres, LGBTQIA+, indígenas, ambientalistas. Então, quando não há espaço para essas pessoas, ela [a democracia] está sim em perigo”, diz. 

O material de pesquisa foi abrangente, trazendo imagens e vídeos de arquivo de Bolsonaro desde a época em que era deputado, momentos da campanha eleitoral de 2018, e também durante seu mandato. Os diretores contam que tinham uma equipe especializada que trabalhou no levantamento. “Foi difícil para nós assistir algumas das imagens, principalmente aquelas que retratavam o Brasil durante a pandemia”, comenta Siqueira. Por conta disso, ele diz que recebeu relatos de pessoas que preferiram assistir ao documentário por partes, para dar conta de digerir o que é apresentado. 

Com frequentes declarações infelizes por parte do presidente da República, o material para entrar no documentário só aumentava. “Tínhamos fechado a montagem e veio aquela fala de ‘imbrochável’ na manifestação de 7 de setembro. Quem quer saber disso? Na verdade, trata-se de estratégias para desviar a atenção, por exemplo, do orçamento secreto, que foi utilizado de maneira totalmente obscura para favorecer a eleição”, diz Grostein. 

O documentário também traz muito da vida de Grostein, além de ser narrado por ele. “Fizemos uma primeira versão que era um resumo dos anos Bolsonaro basicamente, mas a gente descartou e com o olhar do Fernando Siqueira fizemos uma nova versão com uma contraposição mostrando a resistência em relação ao governo e também o meu olhar pessoal”, explica. O cineasta até cunhou o termo masculinidade catastrófica para se referir a Bolsonaro e a figuras da extrema-direita no mundo. O filme está disponível no Youtube, também numa versão em inglês, e já passou de um milhão de visualizações. Depois das eleições, eles pretendem atualizar o filme e relançá-lo. 

Trazer a discussão em família 

Grostein diz que uma das propostas do documentário é fornecer um conteúdo para aprofundar discussões. “A gente acredita que quase todos os LGBTs têm famílias com parentes conservadores e o diálogo que acontece às vezes é muito pobre. Pensamos que com esse filme, as pessoas pudessem discutir dentro das famílias de uma maneira mais qualificada”, diz. 

Perguntado sobre a importância dos jornalistas no processo da democracia, Grostein responde que há muitas pessoas querendo culpar apenas a imprensa pela desinformação. “E normalmente são as pessoas que promovem fake news que fazem isso, para desviar a atenção. Isso não quer dizer que a imprensa não erra. Mas alguns erros não podem ser usados para atacar e desvalorizar todo o jornalismo profissional”, acredita.

Entre as entrevistas feitas para o documentário, está a do ex-assessor de Bolsonaro, Waldir Ferraz. Ele diz que foi a imprensa que ajudou a eleger o atual presidente, porque ele estava sempre na mídia. Mais uma vez aqui, Grostein lembra que o discurso de culpar a imprensa é sempre utilizado de maneira a diminuir a força dos jornalistas. Grostein já escreveu para diversos veículos brasileiros. Seu pai, o jornalista Mário de Andrade, já falecido, foi editor da revista Playboy, na década de 80 e é citado no documentário.

Vida na Califórnia

O casal mora na Califórnia, nos Estados Unidos,  já há alguns anos, em uma espécie de auto-exílio depois de Grostein sofrer ataques pesados desde que divulgou um vídeo assumindo sua homossexualidade em 2017 e perceber que o crescente bolsonarismo oferecia um risco de real de vida. Os dois fazem questão de frisar que têm muito orgulho de serem brasileiros e não é porque estão fora do Brasil que são menos conscientes ou menos preocupados do que os outros. 

Uma forma que ambos encontraram para relaxar, durante esse período de realização e exposição do filme com um tema tão pesado, foi fazer música. Ambos têm uma banda chamada FS2 Califórnia. Inclusive, eles compuseram a canção Califórnia, que está no documentário. 


Foto: Rafa Levy