Quatro coisas que o jornalismo investigativo não é

por Margaret Looney
Oct 30, 2018 em Jornalismo investigativo

A CNN desfazendo sua unidade de investigação ao mesmo tempo que inclui hologramas de repórter na programação é apenas o exemplo mais recente de como a mídia muitas vezes não valoriza o jornalismo investigativo.

Este segmento no programa "Daily Show com Jon Stewart" é uma piada, mas ilustra de forma real como a indústria da mídia não tem uma compreensão clara sobre por que o jornalismo investigativo é importante.

Num evento do Center for International Media Assistance em Washington, o veterano jornalista investigativo David Kaplan ajudou a definir essa prática vital explicando primeiro o que o jornalismo investigativo não é:

Não é notícia vazada

"Conseguir um documento vazado por um funcionário poderoso e escrevê-lo nesse dia não é jornalismo de investigação", disse Kaplan, diretor da Rede Global de Jornalismo Investigativo e autor de Global Investigative Journalism: Strategies for Support, um relatório que apresenta uma lista de 106 organizações sem fins lucrativos de jornalismo investigativo em todo o mundo, um guia de boas práticas de sustentabilidade e dados úteis de pesquisa que examinam o financiamento e estrutura destas organizações.

Não é reportagem de editorias

"Alguns jornalistas pensam que todas as reportagens boas são reportagens investigativas", disse Kaplan. Mas a reportagem investigativa pede mais profundidade e escavação. "Repórteres de editorias usam técnicas de investigação, mas os dois não são sinônimos", disse ele.

Não é reportagem crítica

Investigações levam tempo - semanas, meses ou mesmo anos. "O jornalismo investigativo pode ter elementos críticos, mas só porque você está escrevendo algo que é duro e crítico não significa que tenha feito a escavação que envolve o jornalismo investigativo", disse Kaplan.

Não é reportagem sobre crime e corrupção

Definir o jornalismo investigativo como cobertura de crime e corrupção limita acentuadamente o alcance da disciplina, embora Kaplan acredite que há algum cruzamento. "Mas o jornalismo investigativo bom concentra-se em educação, abuso de poder, seguir o dinheiro, ótimas matérias de negócios", disse ele. "Só porque você está cobrindo crime e corrupção numa editoria não significa que esteja usando as ferramentas do jornalismo investigativo."

Então, o que é jornalismo investigativo?

É uma abordagem sistemática para um palpite, exigindo pesquisa e reportagem original, em profundidade, disse Kaplan.

Segue o método científico de formar e testar uma hipótese, juntamente com uma rigorosa verificação de fato, descobrindo segredos, com o foco na justiça social e prestação de contas, uso pesado de registros públicos e, geralmente, dados.

Kaplan citou Gordana Jankovic das Open Society Foundations que resumiu com precisão a prática: "Precisa de repórteres que podem encontrar as conexões e correlações entre os eventos. Precisa dos recursos para encontrar e expor o que está escondido de propósito."

Para ver a transmissão do evento do CIMA, clique aqui (em inglês).

Imagem de um segmento do programa "Daily Show"