Parte do trabalho do jornalista em muitas redações é providenciar o credenciamento para acompanhar eventos esportivos. O que envolve saber tanto os requisitos para fazer as solicitações quanto os protocolos para evitar ficar de fora de eventos esportivos internacionais. Afinal, as inscrições começam com muita antecedência e é preciso planejamento.
Competições Olímpicas
Para os Jogos Panamericanos em Santiago, que acontecem de 20 de outubro a 5 de novembro deste ano, no Chile, todo o processo de operação de credenciamento de imprensa é determinado de acordo com a Confederação de cada país.
Valter França, líder de Operações de Imprensa do COB (Comitê Olímpico do Brasil) em Santiago 2023, explica que para o Jogos Pan-americanos e Sul-americanos não há tantas restrições, mas é preciso atenção ao início do processo que, na maioria das vezes, começa 10 meses antes da competição. Já para os Jogos Olímpicos o procedimento é aberto com dois anos de antecedência.
“Cada entidade organizadora tem o seu próprio sistema de trabalho e é difícil dar um panorama geral para todas", explica França. "O que há de semelhança entre elas é que as entidades entram em contato diretamente com a Comunicação, ou com a área de relacionamento dos Comitês Olímpicos Nacionais, avisando que o credenciamento será aberto e solicitando a indicação de um ponto focal dentro do Comitê”.
Network dentro do esporte
Ao longo do ano, o COB realiza diversas atividades e para acompanhar essa agenda, com recebimento de avisos de pautas, credenciamentos e press releases, é necessário solicitar a inclusão do profissional no mailing, através do e-mail imprensa@cob.org.br, indicando nome, sobrenome, nome do veículo no qual trabalha, cidade, telefone de contato e o e-mail que quer cadastrar.
Segundo França, acompanhar algumas das atividades começa a abrir as portas para a aprovação de futuros pedidos de credenciamentos para grandes eventos. Entre os critérios estão alcance do veículo e tradição na cobertura de esportes e do evento Olímpico. “Mas existem outros como localização do veículo, a fim de incentivar a cobertura em todas as regiões do país, composição da equipe, seguindo a agenda do COI de valorização da participação feminina na cobertura dos Jogos”.
Aprovar ou não aprovar
No caso Panamericano, França explica que as negativas de pedidos de credenciamento podem ocorrer em relação a jornalistas e fotógrafos freelancers. “Os profissionais interessados em fazer a cobertura devem, obrigatoriamente, demonstrar a intenção de algum veículo em contar com os serviços deles, através de um ofício ou do vínculo a alguma mídia”.
Já para os Jogos Olímpicos, as credenciais são muito limitadas e distribuídas, preferencialmente, para veículos de alcance nacional, com cobertura ampla de vários esportes e tradição na cobertura olímpica. Ou seja, para Paris 2024 não existe nenhuma possibilidade de novos pedidos, de acordo com o calendário do Comitê Olímpico Internacional (COI).
Diana Gabanyi, assessora de Imprensa do Rio Open, o maior torneio de tênis da América do Sul, esclarece que são muitas as variáveis para a aprovação ou não de um pedido de credenciamento. Um trabalho feito em conjunto com Camila Coimbra, da equipe de comunicação. Segundo a jornalista, o mais relevante nos dias de hoje é que seja de fato um veículo jornalístico, não uma página de fãs nas redes sociais que não deve ser confundida com jornalismo. “Olhamos também quanto o veículo, seja de um repórter ou de um fotógrafo, acompanha tênis, ou já divulgou o evento anteriormente”, esclarece Gabanyi.
Assim como os Jogos Olímpicos, para o Rio Open existe uma troca de informações entre entidades internacionais e os promotores da competição. Gabany explica que é um trabalho que começa cedo, com atualizações enviadas à ATP (Association of Tennis Professionals). Esse trabalho inclui o envio dos critérios/orientações. “Mandamos, normalmente, a lista de jornalistas novos que pediram credenciamento e entramos em contato para checar as informações. Eles também conferem dados quando um jornalista brasileiro pede credenciamento para um evento fora do país e eles não conhecem a trajetória”.
Flexibilidade para ganhar mídia
O Vasco, tradicional clube carioca, está de volta às competições de basquete depois de uma interrupção desde 2016. Danielle Lima, gerente de Comunicação do Vasco, esclarece que a retomada na modalidade abre espaço para a imprensa independente e influenciadores digitais se credenciarem para acompanhar pautas e torneios.
“Mesmo estando longe das competições, o nome do Vasco desperta o interesse dos veículos para pedidos de credenciamento para um nicho específico, como é o basquete”, diz Lima. “Como é um retorno a uma modalidade, as definições para credenciamento acabam sendo bem mais flexíveis do que em outros esportes”.
Disputa por espaço no futebol
Já os torneios internacionais de futebol geram um procura enorme para as coberturas dos jogos. A assessoria de comunicação da Conmebol detalha que em caso de torneios como Copa Libertadores da América ou a Copa Sulamericana são os clubes mandantes os responsáveis pela decisão de aprovação ou não do credenciamento, com exceção das finais dos dois torneios, que fica sob o controle da Conmebol.
Segundo a assessoria, quando a decisão é da Conmebol é levado em conta o acompanhamento do veículo ao longo do tempo e também o espaço da imprensa em cada estádio, com limitações físicas no número de jornalistas presentes.
Este ano, a final da Libertadores acontecerá no Maracanã em um jogo único, no início de novembro, e a abertura do processo de credenciamento está programada começar com um mês de antecedência. Esse é um período para a verificação da entidade sobre o trabalho dos profissionais que farão o pedido.
Dentro da Conmebol existe um planejamento para o próximo ano onde todo o processo passará a ser automatizado e online, cujo veículo fará o pedido do profissional através de um cadastro, aos moldes do que a FIFA realiza atualmente.
Protocolos de Imprensa
Para o processo de credenciamento é ainda importante estar atento aos Protocolos de Imprensa, como é o caso de torneios internacionais de futebol, como Libertadores e a Copa Sulamericana, coordenados pela Conmebol. São documentos a serem lidos, cujas infrações podem levar o jornalista a ser suspenso ou perder a credencial obtida.
Na lista de restrições para os credenciados, estão horários de liberação dos estádios; o que é permitido em relação a filmagens e publicações em redes sociais; transmissões ao vivo apenas por detentores de imagens; transmissões de webrádios, coletivas etc. Um debate interno dentro da Conmebol está levantando questões que podem ser revistas, em função da mudança significativa da comunicação na área esportiva.
Um processo de credenciamento parece complicado dependendo do tamanho do evento mas os profissionais da área recomendam a insistência. A orientação básica é estar presente, começando em eventos de menor porte, fazendo uma construção sólida de imagem.
“Gostaria de pessoalmente, como amante inveterado de esportes de uma maneira em geral, incentivar a todos que, como eu, um dia sonharam em cobrir uma edição de Jogos Olímpicos a não desistirem", diz França. "Entrem em contato com as Confederações, com as assessorias dos atletas, produzam conteúdo. Não é um caminho fácil, mas com trabalho duro e dedicação é possível. Estamos sempre de olho, principalmente nos jornalistas apaixonados pelos esportes.”.
Foto: Cristina Dissat (Sala de Imprensa do Rio Open)
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