Como conseguir um financiamento de projeto jornalístico

Sep 5, 2023 em Sustentabilidade da mídia
Team work

Conseguir financiar um produto ou serviço exige esforço estratégico para alinhar e alcançar as metas estabelecidas pela organização. Com o objetivo de preparar os jornalistas para a captação de recursos, o webinar do Fórum Pamela Howard sobre relatórios de crises globais, do ICFJ, convidou Cristina Tardáguila, fundadora da agência de combate à desinformação Lupa. Tardáguila apresentou algumas táticas para aumentar as chances de alcançar um investimento e os erros comuns que observou na sua trajetória e na de colegas. "Não ensinam aos jornalistas nas Universidades a planejarem e executarem seus negócios. É muito difícil fazer essa transição.” Abaixo o vídeo com o webinar completo e em seguida um resumo dos principais erros apontados por ela quando se busca investimento para criar um negócio.

Pense no problema e depois no produto

Tardáguila afirma que um erro comum dos jornalistas é pensar primeiro no produto a ser desenvolvido antes de identificar o problema que precisa de solução. “Ninguém financia nada se não temos clareza de qual problema queremos sanar”. Além disso, ela alerta para a necessidade de resolver uma demanda que desperte o interesse do público. “O ideal é trabalhar com algo que você ame, mas que seja bom, também, para as outras pessoas. Quem trabalha em redação sabe de um problema frequente que é o jornalista escrever para seus pares e esquecer da audiência”. Outra estratégia para conseguir financiamento é chamar a atenção do investidor apresentando algo único. “O que só você tem que é um diferencial em relação às outras pessoas e organizações que oferecem produtos semelhantes? Se não tiver clareza sobre o que o concorrente oferece, tem que frear o negócio e repensar,” destaca.

Se preocupe com a audiência ao criar um produto

A jornalista esclarece que antes de lançar um produto é fundamental estabelecer quem é o público-alvo e fazer uma pesquisa de audiência, ainda que online, que tem custos menores. Entender quem é a sua audiência é importante para descobrir o seu comportamento e os melhores formatos de interação. Outra sugestão é que a organização crie duas ‘personas’ que representem o produto e o público-alvo. Em ambas é preciso que se estabeleça o gênero, idade, nacionalidade, grau de escolaridade e outras características que possam ajudar a estabelecer o tom da comunicação. “Nós precisamos desenhar essa ‘persona’ porque, na medida em que visualizamos, sabemos como ela fala, escreve e o conteúdo que ela produz”. E acrescenta que isso gera uma conexão entre o produto e o público quando essas ‘personas’ têm afinidades. “Eu não posso ter uma ‘persona’ que é fã da Taylor Swift como audiência e querer conversar com essa pessoa com tom professoral. A chance de match é muito baixa”.  Além disso, ela indica que cada produto desenvolvido pela empresa tenha a sua ‘persona’ e que a organização faça poucas ‘personas’ e produtos, inicialmente. “Comecem pequeno e testem.”  

Aprenda a montar um orçamento

Saber analisar as despesas é fundamental para a sustentabilidade financeira do negócio e para pedir um financiamento. “Sem saber de quanto você precisa para resolver o problema da sua audiência, você não tem como pedir.” Tardáguila afirma que é comum os jornalistas que estão estruturando seus negócios só pensarem nas despesas referentes aos salários. No entanto, gastos como internet, ar-condicionado, a compra de computadores e equipamentos de trabalho, conta telefônica e até o cafezinho precisam ser contabilizados, além dos benefícios e impostos trabalhistas. Ela orienta, quando possível, a ajuda de um especialista. “Contem com um contador ou um diretor financeiro; pessoas que não são jornalistas e estudaram orçamento. Não precisam ser full time.”

Planeje o negócio

Antes de buscar um financiamento ou grant é preciso planejar. Tardáguila sugere o Lean Canvas  para esquematizar os negócios.  Ela esclarece que a ferramenta deve ser analisada e periodicamente revista com a equipe que discutirá e preencherá os campos sugeridos pelo programa.

Lean Canvas

A equipe precisa listar quais os problemas quer solucionar e quais seriam os potenciais clientes que se interessariam por essa solução. Na proposta de valor, a organização precisa achar o seu diferencial, o que ela pode oferecer que a concorrência não tem para atrair clientes e investidores. É importante pensar em quais canais o produto estará disponível e definir o modelo de receita e o valor do produto, bem como todos os custos fixos e variáveis da empresa.

Como se preparar para pedir um financiamento

A partir do Lean Canvas, Tardáguila afirma que é hora de procurar um financiamento ou programa de apoio, grant ou edital. O primeiro passo é começar a investigar pessoas, organizações próximas ou que tenham ligação com o formato ou conteúdo e aprender a pedir verba. “O conteúdo vai dizer quem são os potenciais financiadores. Se você for fazer um jornalismo econômico, por exemplo, será que é interessante falar com os bancos ou fica estranho?” A jornalista orienta a se preparar para essa busca:

-Com quem você precisa falar para pedir um investimento? Saiba tudo sobre a pessoa-chave que cuida disso na empresa e sobre a marca. Observe os interesses e valores em comum entre o produto e o investidor e use isso a seu favor.

-Personalize seu primeiro contato. Envie um e-mail pessoal, não utilize spams. Sugira um encontro para um café ou almoço. “Não adianta usar a mesma fala para todos os potenciais financiadores porque eles terão interesses diferentes,” pondera.

-Apresente-se de forma impactante na hora de vender a sua ideia: Qual é a sua descrição ideal? Os estudiosos dizem que seis palavras bastam, entre substantivos e adjetivos, para uma apresentação de valor.


Foto: Canva