Produtora Yosokwi usa mídia visual para compartilhar realidades dos povos indígenas na Colômbia

por Nadya Hernández
Nov 5, 2018 em Diversidade e Inclusão
Indigenous

Para alguns, a comunicação é uma ferramenta poderosa para tornar a si mesmo e sua comunidade visível em seus próprios contextos. Prova disso é as Realizaciones Yosokwi, um coletivo de fotógrafos, produtores e documentaristas da comunidade indígena de Arhuaco, na Sierra Nevada de Santa Marta, Colômbia: um lugar onde, de acordo com seus habitantes, fica o coração do mundo.

O projeto começou em 2002 durante uma conversa entre Amado Villafaña e seu Mamo (líder espiritual da comunidade), José de Jesús Izquierdo, perto da bacia do rio Guatapuri. Naquela época, a comunicação parecia ser a melhor ferramenta para enfrentar o agravamento da violência na região, causada tanto por grupos armados militantes quanto por forças militares.

"Precisamos olhar para fora, para os aliados; precisamos transmitir o que está acontecendo aqui", disse Mamo Donki para Villafaña.

Daquele ponto em diante, duas ideias principais motivaram o trabalho de Villafaña: a autorrepresentação de seu povo e a propriedade coletiva do conhecimento e formas de comunicação --em contraste com a ênfase nos direitos individuais nas comunidades não-indígenas.

O projeto começou como Comunicações Zhigoneshi, dentro da Organização Gonawindúa Tayrona --o termo Zhigoneshi pode ser traduzido como “você me ajuda, eu te ajudo”-- e consistia em três comunidades indígenas das montanhas da Sierra: os koguis, wiwa e arhuacos. Mais tarde, cada comunidade formou seu próprio coletivo, e a Yosokwi tornou-se a voz arhuaca na Confederação Indígena Tayrona, a organização comunitária de Arhuaco.

“O objetivo inicial era criar um filme sobre quem somos e como pensamos sobre essa terra”, explica Villafaña.

Seu trabalho inicial foi experimental, mas a Yosokwi mais tarde ganhou apoio de pessoas como Stephen Ferry, um fotógrafo da National Geographic, que os ajudou a adquirir equipamentos e acessar oficinas de treinamento. Outras oportunidades de colaboração surgiram depois, como com o antropólogo Pablo Mora, a Pontifícia Universidade Xavieriana e a Fundação Avina.

Hoje, a Yosokwi compilou um arquivo de mais de 600 horas de filmes e 50.000 fotografias. Seus documentários foram exibidos em festivais de cinema em todo o mundo e em cinemas na Colômbia. Alguns de seus filmes receberam prêmios e reconhecimentos, como o Prêmio do Público do Festival Panorama do Cinema Colombiano e o Prêmio de Melhor Filme Documentário no Festival Espiello, na Espanha. Cada trabalho oferece um relato da compreensão do mundo pela comunidade arhuaco, sua visão e suas teorias sobre a origem do universo.

Para Villafaña, há uma diferença fundamental entre o trabalho de sua organização e o da mídia tradicional: “A mídia de massa manipulou as coisas ao longo dos anos. A comunicação deve ser real; sem montagens, sem engano". Villafaña também faz um paralelo entre uma câmera e um facão: “Essas ferramentas são úteis para qualquer propósito que você atribuir a elas. Se usadas incorretamente, podem causar machucar," diz ele.

Um dos principais desafios para a Produtora Yosokwi tem sido a transição de sua tradição de comunicação predominantemente oral para o uso de comunicação visualmente focada. "Agora se ouve através dos olhos", diz Villafaña.

Comunicação visual e multimídia tem sido o método através do qual eles apresentaram sua mensagem ao mundo em um esforço para aumentar a conscientização sobre vários assuntos. A proteção da natureza, a luta contra a mineração e o respeito à autonomia estão no centro das causas que eles defendem.

“Com sua entrada no uso dessa nova forma de comunicação, os arhuacos estão aproveitando um instrumento eficaz que aumenta a eficácia de sua luta para defender a região da Sierra”, diz o professor Guillermo Padilla, doutor em estudos latino-americanos, com foco em antropologia legal.

Entre as principais produções da Yosokwi estão Palabras MayoresNabusimakeNaboba e Resistência. Estes documentários foram inicialmente criados nas línguas arhuaco, wiwa e kogui, e posteriormente legendados em espanhol, inglês e francês.

Villafaña diz que uma mudança para novas formas de comunicação foi uma resposta à pergunta: "Como continuamos a existir?" Ele acha que outras organizações indígenas deveriam usar suas próprias vozes para dizer ao mundo quem são e lutar pelas causas que se importam.

"Não estamos sozinhos", diz ele, "mas, se permanecermos em silêncio, será como se estivéssemos."

*Agradecemos a Ginna Rivera e Guillermo Padilla, que conduziram a entrevista com Amado Villafaña no coração do mundo (Sierra Nevada de Santa Marta, Colômbia)

Imagem mostra Amado Villafaña, cortesia da Produtora Yosokwi