Por que um mercado menor pode significar sucesso para o jornalista

por Nicole Martinelli
Oct 30, 2018 em Jornalismo básico

A IJNet conversou com Gregg McLachlan, autor de um livro sobre a cobertura de mercados menores chamado "Big stories, Small towns: The essential journalism guide for working and thriving in smaller markets" (sem tradução ao inglês), para obter dicas sobre como fazer uma boa carreira baseada na cobertura de cidades pequenas.

IJNet: Os mercados de pequeno e médio porte são bons para jornalistas que querem pagar as contas do mês?

Gregg McLachlan: Sim, você pode pagar as contas trabalhando em um mercado de pequeno e médio porte. Você não vai ficar rico, especialmente, em mercados menores, mas você vai se tornar um repórter versátil...

Em alguns casos, fazer menos dinheiro em um mercado menor pode realmente valer mais na sua carteira do que trabalhar em uma grande área metropolitana. Você pode ganhar mais dinheiro em uma cidade grande, mas pode não ganhar o suficiente para pagar a realidade de um maior custo de vida. Por exemplo, compare os custos de compra de uma casa ou aluguel de um apartamento em mercados menores versus áreas metropolitanas. Não tem nem o que dizer.

IJNet: Quais são algumas de suas dicas sobre como fazer de qualquer matéria uma grande matéria?

GL: Começa com ter a mentalidade certa. Lembro-me de um jornal diário com o slogan, "O jornal na Terra dedicado somente a cobrir (nome da cidade)". Agora isso é uma grande responsabilidade. É também por isso que sua reportagem realmente importa. Em muitos mercados menores, se você não está contando as histórias, há poucos meios de comunicação, ou mesmo nenhum, que preencham essa necessidade.

Há mais um passo crítico que pode facilmente ser deixado de fora na reportagem em mercados menores. É o 'que acontece a seguir" e a parte sobre "o que isso [a notícia] significa".

Jornalistas nos grandes centros urbanos tendem a fazer isso bem, provavelmente porque a concorrência é tão feroz em capturar a sua parte da audiência. Em mercados menores, essas peças-chave da reportagem podem ser esquecidas. É muito difícil enfatizar por que uma notícia importa para seus leitores se você não está reportando sua importância e o que ela significa.

Tente não cair em uma armadilha tão comum nos mercados menores -- ficar muito confortável e recorrer sempre às mesmas fontes... Sim, você pode estar em um mercado menor, mas ainda há uma grande comunidade de fontes lá.

Pode ser muito eficaz usar especialistas nacionais em uma reportagem local. Isso mostra a comunidade que você está levando a reportagem local para um nível empreendedor. E às vezes os comentários feitos por especialistas nacionais podem desencadear novos ângulos da matéria, cartas aos editores, etc. Em mercados menores, é comum a percepção de que muitas questões ficam dentro de uma fronteira muito pequena. Não deixe que essa percepção o contamine e impeça de fazer sua reportagem ir além das fontes locais...

IJNet: Quais são alguns dos desafios em "reduzir" seu mercado de jornalismo?

GL: Existe aquela sensação de que você não estará cobrindo um material tão importante. Essa maneira de pensar tem de ser eliminada. A reportagem nunca é para você. É para o seu público. Somos profissionais treinados. É nosso trabalho procurar as melhores histórias, os melhores ângulos e contar para o nosso público. Esse desafio não muda com o tamanho do mercado...

O outro grande desafio é adaptar para a internet. Em grandes áreas metropolitanas, a mídia digital é mais experiente. Repórteres estão constantemente usando a mídia social e postando notícias imediatamente, mesmo se é apenas uma pequena parte de uma notícia em evolução. À medida que o dia avança, a notícia será atualizada. Em muitos mercados menores, a mídia digital e social continua a ser uma ferramentas que não está sendo utilizado de forma eficaz. Há ainda aquela mentalidade de que o "jornal sai amanhã, assim, eu leio a história toda depois."

Por último, eu diria que a necessidade de usar um filtro de notícia é ainda mais importante na cobertura de notícias em mercados menores. Você irá cobrir muitos, muitos eventos, principalmente. E você, pessoalmente, provavelmente vai cobrir o mesmo evento ano após ano, simplesmente porque não há dezenas de jornalistas na sua equipe. Muitas vezes os jornalistas ficam preguiçosos e fazem um foco do tipo "um dia ensolarado". Quando você sentir aquela vontade, precisa colocar o seu filtro de notícias e começar a se perguntar: "Como posso desenvolver um ângulo que torna o artigo uma leitura importante para o meu público?"

IJNet: Que erros os jornalistas fazem quando começam em mercados pequenos?

GL: Escrevem nomes errados! Pelo madrugada, confira nomes e verifique novamente. Esta é uma armadilha muito comum entre os jornalistas desses mercados. As comunidades menores identificam rapidamente os novos repórteres que fazem isso errado. As pessoas adoram comentar e ficam com ódio do repórter local que faz uma grafia errada do seu nome.

A maior e mais preocupante tendência que eu vejo há muitos anos são os repórteres que entram em um mercado menor e agem como uma parada curta na carreira. Esses jornalistas chegam e não aguentam esperar para sair. Eles não querem entender "jornalismo comunitário".

Eles fazem o que eu chamo de reportagem 'bate e foge'. Eles queimam fontes que outros na redação confiam. Subestimam a comunidade, porque acham que é muito pequena e não digna de seu talento. E zombam das reportagens por vezes dizendo que "isso não é uma notícia".

Este tipo de atitude muitas vezes realmente ofende outros funcionários de longa data que se preocupam com a comunidade e com o trabalho que fazem. Jornalistas devem perceber que o mundo do jornalismo é realmente muito pequeno nos dias de hoje, pois um punhado de corporações passou a deter a maioria dos meios de comunicação. Relações que se formam durante qualquer parada em sua carreira podem influenciar onde você vai amanhã.

Enquanto a mídia tradicional está lutando por leitores, o único lugar onde os jornalistas ainda vão encontrar uma conexão mais forte com a comunidade é em mercados menores.

McLachlan também oferece dicas de freelancer no site News College.